Conversas mantidas entre os membros do governo Jair Bolsonaro comprovam que ele estava engajado, através de sua “milícia digital”, na criação de mentiras sobre as urnas eletrônicas para alimentar o plano golpista.
Segundo a Polícia Federal, os discursos de Jair Bolsonaro e de seu ministro da Justiça, Anderson Barros, seguiam a mesma mentira que havia sido criada pelo grupo criminoso para as redes sociais.
A corporação citou que a atuação deles ocorria “com dolo, consciência e livre vontade, na produção e divulgação, por diversos meios, de narrativas sabidamente falsa”.
No dia 8 de novembro de 2022, pouco depois do segundo turno das eleições, Mauro Cid, que era ajudante de ordens de Bolsonaro, conversava com o tenente-coronel Sérgio Cavaliere (conhecido como Cavalo) e admitiu que o grupo bolsonarista produzia fake news.
Cavaliere encaminhou duas mensagens que levantavam suspeitas sobre as urnas eletrônicas, apontando uma suposta fraude. O militar perguntou a Cid: “já recebeu isso?”.
Mauro Cid, então, o informa que “nosso pessoal que fez”. “Isso foi a base do argelino”, continuou. Argelino, para a Polícia Federal, possivelmente se refere ao argentino Fernando Cerimedo, que fez uma live mentindo sobre as urnas eletrônicas.
Os investigadores ainda afirmaram que Jair Bolsonaro atuou para que as Forças Armadas adiassem a divulgação do relatório sobre as eleições porque não encontraram nenhum indício de fraude.
“O Relatório de Fiscalização do Sistema Eletrônico de Votação produzido pelo Ministério da Defesa também foi um instrumento utilizado pelo grupo investigado para reforçar o sentimento de uma possível fraude nas eleições presidenciais de 2022”, relatam.
“Os dados analisados indicam [que] o então Presidente da República Jair Bolsonaro determinou a postergação da divulgação do referido relatório, pelo fato de não terem identificado qualquer indício de fraudes ou vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação”, afirmam os investigadores.
“Dentro do planejamento traçado, a publicidade do relatório destruiria a narrativa construída para manter mobilizadas as manifestações, que serviriam de suporte para a execução do Golpe de Estado”, apontou a PF.
Para a PF, a investigação mostrou que “o grupo investigado, liderado por Jair Bolsonaro […], criou, desenvolveu e disseminou a narrativa falsa da existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico de votação do País desde o ano de 2019”.
O objetivo era ‘sedimentar na população a falsa realidade de fraude eleitoral para posteriormente a narrativa atingir dois objetivos: primeiro, não ser interpretada como um possível ato casuístico em caso de derrota eleitoral e, segundo e mais relevante, ser utilizada como fundamento para os atos que se sucederam após a derrota do então candidato Jair Bolsonaro no pleito de 2022”.
O grupo criminoso, como destacou a PF, tinha plena ciência de que estava mentindo sobre a suposta fraude nas eleições. Em 4 de outubro, Cavalo e Cid conversam e o primeiro perguntou se eles haviam conseguido identificar alguma fraude.
Mauro Cid respondeu “Nada… Nenhum indício de fraude”.
Para dar “credibilidade” para as acusações mentirosas de fraude, o governo Bolsonaro utilizou autoridades para falar sobre o assunto. Antes mesmo das eleições, Jair pediu a todos os seus ministros que falassem nas redes sociais e em discurso que as urnas não eram confiáveis.