Jair Bolsonaro, principal responsável pela tentativa de golpe de Estado contendo um plano de assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, disse, em entrevista nesta quinta-feira (28) à jornalista Raquel Landim, do Uol, que é vítima de perseguição e não descarta se refugiar em uma embaixada caso tenha sua prisão decretada ao final do processo penal.
“Embaixada, pelo que vejo na história do mundo, quem se vê perseguido, pode ir para lá”, disse o chefe do grupo que a Polícia Federal chama de Organização Criminosa.
“Se eu devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos, não teria voltado”, afirmou ele. Ele admitiu ter conversado sobre “artigos da Constituição” com os comandantes das Forças Armadas para “voltar a discutir o processo eleitoral” após o pleito de 2022, mas diz que a ideia logo foi “abandonada”.
Disse também que as provas contra ele, como diálogos de comparsas que o colocam na cena do crime, são “suposições” da PF.
Bolsonaro negou que soubesse do plano de impedir a posse de Lula. “Que plano era esse? Dar um golpe com um general da reserva, três ou quatro oficiais e um agente da PF? Que loucura é essa? Ali no prédio da Presidência trabalham mais ou menos 500 pessoas. E eu sei o que cada um tá fazendo?”, afirmou.
“E esse plano é para sequestrar e envenenar? Pelo que sei, o Alexandre não sai de casa com menos de seis agentes do lado dele. Isso aí é até bravata. É papo de quem tem minhoca na cabeça. Sequestrar, envenenar, matar. Matar o Alckmin? Não dá. Pra quê?”, acrescentou.
Depois de atacar Lula, Jair Bolsonaro admitiu que leu a minuta do golpe e acabou se complicando. “Minuta do golpe é baseada na Constituição. Para que serve a Constituição? É a nossa lei máxima. Eu entendo que ali é um norte para você seguir. Se tem um remédio ali, por que não discutir?”, observou.
“Discutir um dos artigos da Constituição é algum crime? Foi levada avante alguma dessas possíveis propostas? O comandante do Exército falou sobre isso. Foi discutida a hipótese de GLO, de 142, de estado de sítio, estado de defesa. Qual é o problema de discutir isso aí?”, indagou.
Questionado se algum subordinado lhe pediu para dar um golpe de Estado, Bolsonaro praticamente admitiu que não teve apoio nas Forças Armadas para sua aventura. Disse que quem propusesse isso estaria sofrendo das faculdades mentais.
“O que é um golpe de Estado?”, perguntou. Ele mesmo respondeu que “o golpe de Estado não é o que presidente quer. Ele tem que se articular com as Forças Armadas, com políticos, classe empresarial, como fizeram em 1964. Ter recurso, tropa na rua”.
Ele admitiu que poderá ser preso e que pretende se refugiar em alguma embaixada. “Vivemos num mundo das arbitrariedades. Agora eu não posso ir dormir preocupado de que a PF vai estar na minha casa amanhã cedo. Eu já tive três [operações de] busca e apreensão, tá? Absurdas, absurdas”, disse.
“Corro risco, sem dever nada, corro risco. [O STF] Vai fazer a arbitrariedade, vamos ver as consequências. Embaixada, pelo que eu vejo a história do mundo, né, quem se vê perseguido pode ir para lá. Se eu devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos, não teria voltado”, concluiu.