Greve convocada pelas duas principais centrais sindicais, CGIL e UIL, para o país
Em repúdio à proposta de orçamento para 2025 do governo da primeira-ministra fascista Giorgia Meloni, que corta os gastos com a saúde, a educação e os programas sociais, além de espremer os municípios e os servidores públicos, a Itália parou na sexta-feira (29) por oito horas, em greve geral convocada pelas duas principais centrais italianas, a CGIL e a UIL, e por centrais de base, como a Cub.
Manifestações em mais de 40 cidades italianas congregaram 500 mil pessoas. As centrais anunciaram 70% de adesão, incluindo paralisações na Aciaria Itália de Gênova, na Pirelli de Torinese, na Italcementi de Brescia, na Heineken de Taranto, na ISAB de Siracusa e na Electrolux de Pordenone. 108 voos foram cancelados pela Ita (a sucessora da Alitalia, e que deverá se fundir com a Lufthansa).
Servidores públicos denunciaram que os salários estão congelados há anos, enquanto a inflação teve aquele repique decorrente da alta da energia por conta das sanções contra a Rússia. Nos atos dessa sexta-feira, trabalhadores de todas as categorias e também servidores – professores, médicos, enfermeiros, lixeiros e bombeiros.
“A lei orçamental – afirmaram as centrais – não responde às necessidades do país e dos cidadãos e as praças lotadas de hoje demonstraram isso. Aumentar salários e pensões, financiar cuidados de saúde, educação e serviços públicos, investir em políticas industriais são prioridades para os trabalhadores”.
50 mil marcharam em Bolonha, com faixas e bandeiras, 30 mil em Nápoles. Em Roma, uma multidão cantou o “Bella Ciao”. Em Turim, onde foram queimados pôsteres do vice-primeiro-ministro (e antes o perseguidor-mor de imigrantes) Matteo Salvini e da primeira-ministra Meloni, a polícia reprimiu o protesto. Os trabalhadores também encheram a praça em Milão.
“Respondemos aos insultos de Salvini com estas praças plenas e democráticas, que pedem mudanças”, disse em Nápoles, Pierpaolo Bombardieri, secretário-geral da UIL. Tradicionalmente a mais apelegada central, a Cisl ficou de fora da greve; está encantada com Meloni e até aderiu aos famigerados “contratos individuais”.
Em Pádua, a secretária da Federação dos Metalúrgicos (Fiom), Michele de Palma, disse em seu discurso que a greve desta sexta-feira foi “de aviso”, chamando a categoria à luta pela renovação do contrato nacional dos metalúrgicos. “Avisem a Federmeccanica e à Assistal”, ela provocou, se referindo à patronal. A Fiom também denunciou o fechamento de duas fábricas, recém anunciado, com quase 2 mil demissões.
Forças da oposição engrossaram os protestos, com a secretária-geral do Partido Democrático, Elly Schlein, defendendo no ato o direito de greve e de manifestação, diante do projeto de lei que visa coibir o repúdio ao austericídio que, entre outras arbitrariedades, penaliza o ‘bloqueio de vias’ com dois anos de prisão.
O ex-primeiro-ministro Giuseppe Comte, do Movimento Cinco Estrelas, classificou o orçamento Meloni-Salvini como uma manobra “em nome dos cortes” que deixa “todos insatisfeitos, exceto as indústrias de armamento e os bancos”.
“Há uma emergência salarial, o país vai quebrar”, advertiu o secretário-geral da CGIL, Maurizio Landini, que encabeçou a manifestação em Bolonha. “Os dividendos são recordes, mas impostos só aumentam para empregados e aposentados”.
O prefeito de Nápoles e novo presidente da associação dos municípios italianos, Gaetano Manfredi, tem alertado que a lei de orçamento irá cortar 3,2 bilhões de euros das autoridades locais (2025-2029) e mais 5 bilhões de euros (2030-2037). Sem falar dos 7,7 bilhões de euros em cortes anuais nos ministérios.
O orçamento Meloni-Salvini foi formulado para estar enquadrado no Pacto de Estabilidade da União Europeia, criado supostamente para fazer convergir as políticas fiscais no bloco e deter o descontrole da dívida, mas na verdade destinado a cortar gastos públicos para liberar – para além do dinheiro sagrado dos especuladores via juros e jogadas com bonds – um maná para o rearmamento europeu e para realimentar o clima de guerra na Europa.
O que, conforme o que foi aprovado no Parlamento Europeu, significa um arrocho com sete anos de duração. Ao sair desse assim chamado estado de infração, a Itália terá que se enquadrar, segundo o jornal Il Manifesto, na obrigação de “manter o seu déficit dentro de 1,5% do PIB. Isto é metade do famoso limite de Maastricht de 3%. Significa corte nos gastos sociais e redução nos investimentos. Tudo isto foi concebido para nos prepararmos para ‘choques inesperados’, como pandemias e guerras. No ponto zero de crescimento isto significa austeridade permanente. E ainda não se fala em reduzir a dívida pública recorde da Itália. Isso também levará a consequências perigosas e sufocantes.”
Ainda segundo Il Manifesto, “a aliança entre Meloni & Co. e a tecnocracia europeia terá um custo muito elevado para os cidadãos italianos. O respeito pelo parâmetro “despesa líquida” implicará cortar mais de doze bilhões de despesas com ministérios e autoridades locais nos próximos anos. Em perspectiva, os municípios e as regiões ficarão de joelhos. Eles não poderão fornecer serviços essenciais ou apoiar o transporte local. Os impostos locais aumentarão, um estado de bem-estar social em desordem irá piorar. A universidade será colocada nas cordas. No setor público, os salários serão congelados e muito mais. Desde que o já modesto “crescimento” não se deteriore. Se isso acontecer, mais terá que ser cortado.”