Ditadura que presidente da Coreia do Sul – com apoio dos EUA – tenta emplacar foi rechaçada por 190 a zero
A Assembleia Nacional sul-coreana reagiu nesta madrugada do dia 2 à imposição da lei marcial no país, de surpresa, pelo arquirreacionário presidente Yoon Suk-yeol, e a rejeitou por 190 a zero, com o voto de todos os deputados presentes, tanto governistas, quanto da oposição.
A revogação da lei marcial foi pedida por volta de 1 hora da madrugada no horário local pelo presidente da Assembleia Nacional, Woo Won-sik.
O deptuado apresentou uma resolução pedindo a revogação da impostura que, pela lei sul-coreana, a Assembleia tem poderes para derrubar.
Manifestantes contrários ao golpe se concentraram diante da Assembleia, em Seul, e houve confronto com a polícia.
O líder do principal partido de oposição, Partido Democrático, Lee Jae-myung, disse que “o povo coreano não permite a lei marcial do presidente Yoon” e prometeu parar o golpe “junto com o povo.”
Ele acrescentou que os militares não devem ter permissão para (voltar a) governar o país. Como se o “controle violento” da promotoria não fosse suficiente, soldados armados estão “tentando assumir o comando”.
A última vez que a lei marcial havia sido acionada na Coreia do Sul foi em 1980, quando dos gigantescos protestos contra a ditadura pró-EUA, abriram caminho para a redemocratização do país, a Revolta de Gwangju.
De acordo com a agência estatal sul-coreana Yonhap, a lei marcial proíbe todas as atividades políticas, incluindo as da Assembleia Nacional, conselhos locais, partidos políticos, associações políticas, manifestações e protestos. É instaurada a censura sobre todos os meios de comunicação e publicações. Greves, paralisações e protestos estão proibidos.
Todo o pessoal médico, incluindo médicos em treinamento, que esteja em greve ou tenha deixado o setor médico deve retornar ao trabalho dentro de 48 horas e exercer suas funções de forma fiel, ou serão punidos sob a lei de exceção.
‘APROVAÇÃO’ DE YOON MAL CHEGA A 19%
De acordo com as pesquisas, a aprovação de Yoon mal chega a 19%, sua esposa é acusada de corrupção, o promotor que deveria investigar o caso foi impichado por omissão na véspera e, em abril, o partido do presidente perdera por larga margem para a oposição democrata.
Imediatamente após o discurso de Yoon, Lee, com a autoridade de quem havia sido superado por Yoon por apenas 0.7% dos votos nas eleições de 2022, convocara pelas redes sociais o povo e os parlamentares a acorrerem à Assembleia Nacional para deter o golpe e advertira contra a manipulação dos militares. Quase 200 parlamentares atenderem ao seu chamado.
Logo após Yoon decretar a lei marcial, o Ministério da Defesa Nacional anunciou que havia convocado uma reunião dos principais comandantes em todo o país e ordenado que todo o exército fortalecesse sua prontidão.
Yoon ganhara notoriedade como promotor, na condenação da presidente conservadora Park Geun-hye e de um assessor do ex-presidente Moon Jae-in, e fizera do “combate à corrupção” sua bandeira eleitoral. No poder, faz de tudo para evitar uma investigação sobre as fraudes da primeira-dama. Também é frequentemente comparado a Donald Trump, por suas “convicções”.
YOON TEM CORTES PARA PAGAR BANCOS REJEITADOS
A proclamação da lei marcial, que coloca o país sob tutela dos militares e suspende o funcionamento dos partidos e os direitos constitucionais, foi feita em um discurso de surpresa de Yoon, pouco antes de meia noite, sob a mentirosa explicação de que era para “proteger a ordem constitucional liberal”.
Na véspera, a oposição havia rechaçado a aprovação de um orçamento em que os gastos sociais eram tesourados em prol de manter a enxurrada de juros para os bancos e de mais gastos com armamentos, numa situação em que a Coreia do Sul é pressionada pelos EUA para se integrar a uma “Otan do Pacífico”, junto com o Japão, que oprimiu os sul-coreanos por décadas, e outros satélites menores.
A “mensagem” de Yoon parece tirada de um compêndio de anticomunismo da década de 1950, com o candidato a ditador declarando “lei marcial para proteger a República da Coreia das ameaças das forças comunistas norte-coreanas, para erradicar imediatamente as forças antiestatais pró-norte-coreanas descaradas que estão saqueando a liberdade e a felicidade do nosso povo, e para proteger nossa ordem constitucional livre”.
Antes, ele asseverara que “no momento, a República da Coreia é como uma vela diante do vento — ela pode plausivelmente entrar em colapso a qualquer momento.”
Yoon, em sua diretiva arbitrária, alegou que a aprovação, pela oposição, do impeachment de um procurador aliado a ele constituía “atropelo da ordem constitucional da República Livre da Coreia e a interrupção de instituições estatais legítimas estabelecidas pela Constituição e leis” e “um ato antiestatal óbvio de tramar uma insurreição”.
O decreto inclui uma exaltação à política de submissão aos ocupantes norte-americanos e aos ex-opressores coloniais japoneses. “Essas medidas são necessárias para a perpetuação de uma República Livre da Coreia, e não há nenhuma mudança em nossa postura de política externa de cumprir responsabilidades e fazer contribuições na comunidade internacional.”
Yoon prometeu, ainda, se concentrar em “minimizar” – às “pessoas boas” – “alguns inconvenientes” que, admitiu, serão causados por sua lei marcial.