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Rodrigo Leste
Vimos no episódio 8 a cena escrita por Alfredo sobre o surto psicótico do senador “Cheiroso” ao lidar com a sua derrota na eleição presidencial de 2014.
Episódio 9
É sábado, por volta das duas da tarde. A segunda semana de produção está terminando. A equipe está no apartamento de Jane dando inicio à filmagem de uma nova cena que começa com esta denúncia: “A coletiva de imprensa do Governador Fernando Pimentel aconteceu na sede da Samarco. O Centro de Operações de busca e resgate fica dentro da empresa também, sem acesso da população, dos trabalhadores ou da imprensa. A gestão de uma tragédia imensa está sendo feita entre as quatro paredes da mineradora. Impossível não haver intromissão da empresa nas decisões do governo. Mostra apenas que o governo é responsável pelas mortes e danos junto às mineradoras.” (Flávia, professora de Contagem e dirigente do MRT)
— Agora é hora do senhor segurar esse rabo, governador — cochicha o presidente da Samarco, “interpretado” por Renato. — Sei que foi um desastre, um acidente, mas não podemos sacrificar ninguém.
— É, meu caro, compreendo — sussurra o governador, “interpretado” por Evandro, amigo de Marco, pego meio “no laço” para fazer esse papel. — Mas o assunto ganhou relevância nacional e internacional. É um prato cheio para a mídia mundial nos atacar com armas de grosso calibre. As mortes, o lamaçal, a destruição, tudo colabora para a criação do cenário ideal de uma tragédia. É o calvário, vão precisar crucificar alguém.
— Aconteceu, governador, infelizmente — diz o presidente. O que não adianta agora é querer encontrar culpados. É a mesma coisa de um… de um navio que naufraga. Houve revisão, manutenção, os responsáveis estavam cientes dos riscos, mas de uma hora para outra vem um imprevisto e o naufrágio acontece. Fa-ta-li-da-de. Não adianta ficar chorando o leite derramado. (Enquanto profere a sua última fala, o presidente da Samarco pensa:) “Porra, que incompetência! Cansei de avisar que essa barragem não era segura. Sabia que esse troço não ia aguentar (ao mesmo tempo em que “se ouve” o pensamento do presidente, surgem imagens de Bento Rodrigues e do Rio Doce tomados pela lama). Agora, eu, eu é que fico entre a cruz e a espada, se vierem com esse negócio de culpado, vai acabar sobrando pra mim, cacete; pode dar até cadeia! Por outro lado, como eu me explico com o pessoal da Vale. O prejuízo é monstro, uma fábula, eles vão querer minha cabeça”.
— OK. Corta, corta! — ordena Alfredo. — Uma salva de palmas pro Evandro. Fez exatamente o que preparamos nos ensaios. Bravo!
A equipe toda comemora.
Fim do Episódio 9