Ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) diz que seguirá radicalizando o aperto monetário com mais dois aumentos de 1 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic)
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada nesta terça-feira (17), o colegiado confirma que seguirá radicalizando o aperto monetário, com mais dois aumentos de 1 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic), já nas próximas duas reuniões do comitê, que ocorrerão em janeiro e março de 2025.
Na semana passada, o Copom elevou em 1 ponto o nível da Selic, que subiu de 11,25% para 12,25% no final deste ano. Com o acréscimo de mais dois pontos percentuais, o nível da Selic chegará no primeiro trimestre de 2025 em 14,25% ao ano para colocar a economia em recessão, quebrando empresas produtivas e gerando desemprego no país.
“O Comitê decidiu, unanimemente, pela elevação de 1 ponto percentual na taxa Selic e pela comunicação de que, em se confirmando o cenário esperado, antevê ajuste de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, diz trecho da ata do Copom. No documento, os diretores também afirmam que elevaram “a taxa de juros real neutra em seus modelos de 4,75% para 5,00% a.a.”.
Segundo a ata, os diretores estão descontentes com os indicadores econômicos que “seguem acima do esperado”, o que propõe, segundo o Copom, que a economia brasileira “segue resiliente ao aperto monetário”, por conta dos estímulos econômicos que o governo Lula tem dado à economia.
“A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito amplo segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada. Em particular, o ritmo de crescimento do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo indica uma demanda interna crescendo em ritmo bastante intenso, apesar da política monetária contracionista”, reclama o colegiado pró-rentistas.
No documento, o Copom também deu arrimo às pressões dos bancos por cortes de despesas obrigatórias e de investimentos públicos sociais. Segundo o colegiado, o mercado financeiro não está satisfeito com o pacote de corte de gastos que a área econômica do governo levou ao Congresso Nacional, no final do mês passado, que visa restringir despesas do Estado via retirada de direitos sociais e pelo arrocho na valorização do salário mínimo nos próximos 6 anos.
“Com relação à política econômica de forma mais geral, o Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas. Em particular, desacelerações são parte essencial do processo de suavização e reequilíbrio da economia. O debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, diz outro trecho da ata.
BANCOS JÁ TRABALHAM COM SELIC A 15% EM 2025
Após o Copom do Banco Central (BC) acenar com novos aumentos na taxa de juros básica da economia (Selic) em 2025, o mercado financeiro segue traçando estimativas de inflação maiores, especulando com o dólar e agitando seus porta-vozes na mídia para que sigam com afirmações de que o governo perdeu o controle das contas públicas etc. Com juros ainda mais altos, os ganhos que o setor tem com a especulação dos títulos públicos vai disparar ainda mais no próximo ano.
Com a taxa Selic em níveis escorchantes, o gasto do setor público (União, Estados/municípios e estatais) com o pagamento de juros da dívida pública chegou a R$ 869,3 bilhões, no acumulado de 12 meses, até outubro deste ano.
O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, defende que a Selic precisará alcançar um patamar entre 14,5% e 15,25% no final de dezembro de 2025.
“Nas nossas contas, uma Selic entre 14,5% e 15,25%”, comentou Honorato, em reportagem do jornal O Estado de S.P, na última semana. O economista não descarta que a economia entre em recessão no próximo ano ante a elevação dos juros.
“Com um juro real entre 9% e 10% como o que vamos chegar, as empresas com dívida vão ter um resultado financeiro pior, portanto, terão de fazer ajustes operacionais, reduzir custos, demitir para poder lidar com esse resultado financeiro pior. E o crédito, na margem, vai ficar mais caro”, disse Honorato.
Já o economista-chefe do Banco Itaú, Mario Mesquita, ex-diretor do Banco Central, espera que, no primeiro encontro do Copom no ano que vem, os diretores do BC votem todos pelo aumento de 1 ponto porcentual da Selic. O Itaú já revisou sua projeção para a taxa básica, que agora está em 15% no fim de 2025.
“Esperamos que a taxa básica seja elevada em 100 pontos-base (1 ponto porcentual). na próxima reunião de política monetária, e muito provavelmente na seguinte também”, afirma Mesquita.
Com uma transferência anual de mais de R$ 800 bilhões ano, com taxa de juros reais (quando descontada a inflação) entre 9 e 10%, e restrição de investimento público, os bancos estão levando novamente a economia brasileira para o fundo do poço.
Essa foi a última reunião do Copom com a participação do bolsonarista Roberto Campos Neto. A partir de 1º de janeiro, o atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula, assume a presidência do BC.
No mês que vem, outros três nomes indicados pelo atual governo para diretorias do BC também tomarão posse de seus cargos. Ao todo, são 7 diretores indicados por Lula que, desta forma, terá a maioria para as decisões do Copom nos próximos anos.