Mais de 200 mil clientes da Enel seguem sem energia na Grande São Paulo neste sábado (21), segundo informações da própria concessionária.
Ao todo, são 211.738 imóveis ainda estão sem luz na Região Metropolitana, devido às fortes chuvas da tarde desta sexta-feira (20). A empresa divulgou o último boletim atualizado às 12h00 deste sábado. Somente na capital paulista, 160 mil clientes seguem sem energia. Entre os municípios com mais pessoas afetadas estão Santo André (5.372), Mauá (16.488) e Osasco (6.976).
Por volta das 7h de hoje, mais de 300 mil clientes estavam sem energia na Grande SP. O número chegou a atingir 660 mil imóveis. A Enel informou que segue “trabalhando para normalizar o serviço”. A empresa, que sofreu punições da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) por demora no reestabelecimento de energia nos apagões de novembro de 2023 e outubro de 2024, afirmou que estava preparada desta vez, mas quase 24h após a última chuva, ainda há imóveis sem energia.
Durante a tempestade, todas as áreas da capital paulista foram colocadas estado de atenção, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura. A Enel afirma que as Zonas Oeste, Leste e Norte foram as mais afetadas na capital, principalmente em razão do vento, que chegou a mais de 80 km/h em alguns pontos.
O principal motivo das interrupções de luz foram quedas de árvores na fiação. O Corpo de Bombeiros relatou ter recebido 111 chamados para atender a esse tipo de ocorrido, todas sem vítimas, na capital paulista e em municípios vizinhos durante a duração da tempestade.
DEMISSÕES
Desde que assumiu o controle da antiga Eletropaulo em 2018, a Enel implementou uma série de demissões, cortando cerca de 36% do quadro de funcionários, reduzindo equipes essenciais para o atendimento em emergências e aumentando a sobrecarga sobre os eletricistas restantes. Com essa estratégia de economia, os apagões se tornaram recorrentes, e a duração das interrupções de energia aumentou.
Esse modelo de gestão, orientado pelo lucro, impacta não apenas a disponibilidade de serviços, mas também a agilidade de atendimento nas situações de emergência. Como enfatizou Esteliano Neto, presidente da Federação Interessante dos Urbanitários do Sudeste, o corte no número de eletricistas compromete o tempo de resposta da empresa em emergências. Nas tempestades recentes, mais de 2,1 milhões de clientes da Enel foram deixados sem energia, e os relatos de atrasos prolongados para religamentos refletem diretamente a carência de equipes especializadas.
O impacto não se restringe aos apagões. A negligência em medidas preventivas, como as podas de árvores nas áreas de distribuição, agrava ainda mais o problema. Segundo Ikaro Chaves, ex-engenheiro da Eletrobrás, a falta de manutenção e o foco no corte de despesas deixaram uma rede vulnerável, principalmente durante eventos climáticos. A incapacidade de resposta rápida não se dá por acaso, mas pela escolha deliberada da Enel em priorizar ganhos financeiros em detrimento da qualidade de atendimento e segurança da população.
Para a população paulista, que sofre com apagões frequentes, a insatisfação é evidente. Pesquisa do Datafolha mostrou que 71% dos paulistanos defendem o cancelamento do contrato da Enel, enquanto responsabilizam tanto a concessão quanto o governo pela má gestão da infraestrutura elétrica. A situação revela o paradoxo das privatizações realizadas com o objetivo de melhorar a eficiência do serviço público, mas que acaba por precarizá-lo quando o lucro se torna a prioridade.