Chamas que continuam a causar um rastro de destruição já se estendem por uma semana
A segunda maior cidade norte-americana, Los Angeles, segue sob o pesadelo de incêndios florestais descontrolados, que já duram uma semana e destruíram 12 mil prédios, expulsaram 180 mil de suas casas, mataram pelo menos 24 pessoas e se estendem por 156 km2.
Os bombeiros de Los Angeles advertiram que a situação pode piorar nos próximos dias sob o “comportamento extremo do fogo e condições que ameaçam a vida”, com rajadas de vento que podem atiçar as chamas e levar brasas para novas áreas. O Serviço Nacional de Meteorologia emitiu um “aviso de bandeira vermelha” para grande parte do sul da Califórnia e alertou que os condados de Ventura e Los Angeles enfrentam “o extremo de cenários climáticos extremos de incêndio”.
A extensão do estrago é de aproximadamente do mesmo tamanho da capital norte-americana, Washington, e um oitavo do tamanho de Los Angeles ou cerca de 30.000 campos de futebol. Incêndios anteriores na Califórnia haviam atingido áreas muito menos povoadas. O número de mortos provavelmente aumentará à medida que as equipes realizarem buscas de casa em casa em bairros incendiados.
Os custos já superam $10 bilhões de dólares (R$60.9 bilhões de reais).
Mais de 100 mil pessoas foram evacuadas e mais 90 mil estão recebendo avisos de evacuação. As chamas já provocaram destruição no bairro historicamente de negros em ‘Eaton’ e em ‘Pacific Palisades, bairro nobre de Los Angeles onde moram muitas celebridades de Hollywood.
Segundo o Instituto Médico-Legal do Condado de Los Angeles, oito corpos foram encontrados na região do incêndio em Palisades e 16 nos arredores do incêndio em Eaton. Os esforços intensos dos bombeiros retardaram parcialmente a propagação do incêndio em Palisades, que estava se aproximando da luxuosa área de Brentwood e do densamente povoado Vale de San Fernando, de acordo com as agências internacionais.
Previsões meteorológicas para a região atingida pelos incêndios, apontam fortes ventos que podem chegar até a 80 quilômetros por hora que podem espalhar ainda mais o fogo e agravar ainda mais o rastro de morte e destruição. Esses já são os piores incêndios da história do estado a atingirem o sul da Califórnia.
À mídia, um sobrevivente ao incêndio de Eaton, o produtor de vídeo John Adolph, deu seu relato sobre a tragédia que viveu.
“Havia supermercados em chamas, postos de gasolina, carros explodindo que estouravam com vidro voando, não como nos filmes. Paredes de chamas de dois andares de altura, tornados de chamas. Eu era estúpido com um lado louco para tentar”.
“Agradecemos a Deus por estarmos seguros, mas não sabemos o que vem a seguir”, ele acrescentou. Adolph e sua família estão hospedados com amigos desde que perderam sua casa. Ele voltou ao local para tentar ver o que mais ele poderia salvar de sua casa destruída, mas não conseguiu sequer chegar perto.
TRABALHO ESCRAVO
Mais de 1 mil presidiários, homens e mulheres, foram enviados para combater o fogo. Uma prática comumente usada nos Estados Unidos é a de explorar a força de trabalho de presidiários. Para combater os incêndios eles estão “empregando” presidiários que estão recebendo um salário de $5,80 dólares por dia e $1 dólar por hora, para arriscarem suas vidas, uma prática que aqui no Brasil seria considerada análoga à escravidão.
Os americanos também utilizam desse trabalho semi-escravo em manutenção de prédios governamentais e até em empresas privadas como redes de fast-food . A própria constituição dos EUA (ver a 13ª Emenda) permite o trabalho forçado como forma de punição por crimes. De acordo com um relatório da ‘American Civil Liberties Union’ de 2022, mais de 800 mil detentos estão empregados em “programas de trabalho prisional”.
CORTES NA PREVENÇÃO DE INCÊNDIOS AGRAVARAM A SITUAÇÃO
Recentemente a prefeita democrata de Los Angeles, Karen Bass, fez cortes no orçamento de $17,6 milhões de dólares (R$ 103.6 milhões) enquanto o departamento de polícia ganhou um aumento de $126 milhões (mais de R$768 milhões). Com a falta de bombeiros para combater as chamas, mais estão sendo enviados de outros estados como o Oregon, Nevada e Washington.
Enquanto os bombeiros funcionários públicos estão sobrecarregados e mal equipados para combater o fogo, os ricos da Califórnia contrataram equipes de bombeiros particulares para protegerem suas propriedades pagando até 2 mil dólares por hora.
Por outro lado, as seguradoras privadas, prevendo as possibilidades de incêndio no período mais seco, cancelaram as apólices pouco antes da tragédia. Uma das maiores, a State Farm, chegou a cancelar seguros para 72 mil propriedades, deixando os proprietários de imóveis a descoberto de uma hora para outra.
CANADÁ E MÉXICO SOCORREM LOS ANGELES
Canadá e México, apesar das intempestivas ameaças de Trump de tarifação e anexação, enviaram aos EUA equipes de bombeiros e aviões lança-água, em socorro à população de Los Angeles.
O Canadá enviou dois aviões-tanque para ajudar na contenção das chamas e 60 bombeiros, segundo o ministro das emergências, Harjit Sajjan. Nesta semana, duas aeronaves levarão uma tripulação com pilotos, copilotos e técnicos de manutenção.
“Nós dois sabemos que o Canadá e os Estados Unidos são mais do que apenas vizinhos. Somos amigos — especialmente quando os tempos ficam difíceis. A Califórnia sempre nos apoiou quando lutamos contra incêndios florestais no norte. Agora, o Canadá ajuda no seu combate”, declarou o premiê Justin Trudeau, em telefonema com o governador Gavin Newson, da California.
Também o México enviou um grupo de ajuda humanitária para Los Angeles no sábado (11). “Somos um país generoso e solidário. Agradecimentos à equipe do Plano DN-III-E do Ministério da Defesa, aos combatentes florestais e a Laura Vazquez Alzua, coordenadora nacional da Proteção Civil”, escreveu a presidente Claudia Sheinbaum no X.
A equipe mexicana é formada por seis especialistas em proteção civil da Coordenação Nacional de Proteção Civil, vinculada à Secretaria de Segurança e Proteção ao Cidadão; 30 bombeiros florestais da Comissão Nacional Florestal do Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais; 32 especialistas em incêndios florestais da Defesa e dois representantes do Ministério das Relações Exteriores.
IRÃ OFERECE AJUDA
Também o Irã ofereceu-se para enviar ajuda humanitária e equipes de resgate aos Estados Unidos face aos incêndios na Califórnia. “Com base na nossa vasta experiência na gestão de desastres naturais e humanitários, estamos preparados para enviar rapidamente as nossas equipas especializadas de reação rápida, equipas de resgate e pessoal treinado e empenhado para as áreas afetadas”, afirmou no sábado o presidente dão Crescente Vermelho iraniano, equivalente à Cruz Vermelha, Pir Hosein Kolivand, em mensagem dirigida ao presidente da Cruz Vermelha Americana, Cliff Holtz.
“As cenas comoventes de pessoas lutando para respirar sob um céu coberto de fumaça e fogo não são apenas imagens de televisão para nós; são um apelo à ação. Em nome do Crescente Vermelho da República Islâmica do Irã, garantimos-lhe que não está sozinho nestes tempos difíceis ”, afirmou Kolivand.
“Estamos prontos, juntamente com outras forças de ajuda, para trabalhar para restaurar a calma às pessoas presas entre o fogo e o sofrimento. Salvar vidas humanas, aliviar a dor dos afetados e gerar esperança nos corações é a nossa mais nobre missão”, afirmou.