A partir de agora as províncias não poderão mais intervir nos seus próprios territórios sem a autorização do exército norte-americano, o que representa uma grave violação à soberania nacional, denuncia a Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE)
Com a dissolução da Administração Geral de Portos (AGP) da Argentina, na última segunda-feira (6), os Estados Unidos assumirão o controle quase absoluto da rota de navegação do país e as províncias não poderão mais intervir nos seus próprios territórios sem a a autorização do exército norte-americano, o que representa uma grave violação à soberania nacional, denunciou a Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE).
O alerta foi dado pelo capitão fluvial Oscar Verón, secretário-geral da ATE em Hidrovias Navegáveis e líder da Central de Trabalhadores Autônoma (CTA-A), assinalando que o Corpo de Engenheiros do Exército Norte-Americano já está instalado na região para assumir o controle da rota de navegação tronco. Referência da Frente pela Soberania Nacional, Verón recorda que por esta rota estratégica transitam 80% das importações e exportações argentinas, e também 80% da cocaína que chega à Europa, segundo estudo da Universidade de Utrecht.
Criada pela gestão de Alberto Fernández, a AGP cobrava pedágios na entrada ou saída dos navios, e era responsável pela dragagem, balizamento e controle das embarcações. A luta popular, frisou Verón, fez com que sua criação o Estado nacional passasse a arrecadar US$ 300 milhões por ano em portagens pelas embarcações estrangeiras. O desmantelamento da AGP, ressaltou o dirigente, demonstra como “incomoda ao poder econômico quando o Estado nacional tem dinheiro para realizar obras e promover o desenvolvimento soberano”.
Na avaliação de Verón também “se cometeu-se o erro de adaptar o rio aos barcos e não os barcos aos rios”. “Mais de 19 portos foram instalados na costa de Rosarina pertencentes a multinacionais chinesas, francesas, norte-americanas, Bunker y Born, Vicentín, entre outras, para poder continuar a ganhar dinheiro, dragando para que navios de maior calado possam retirar a maior quantidade de carga possível, constituindo também uma evasão superior a 30% do declarado”. Sem o controle estatal, enfatizou, a estrada nacional também se transforma numa passagem escancarada ao comércio ilegal e ao tráfico de drogas.
Infelizmente, o que Milei representa e executa “tem a cumplicidade dos setores políticos e empresariais”, condenou Verón, para quem “estão procurando destruir tudo o que nos destacou como nação soberana em todos os seus aspectos, tendo em conta as riquezas naturais e as que são produzidas”.
Em suas repetidas visitas à Argentina, a comandante do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos (Southcom), general Laura Jane Richardson, expressou preocupação com a presença chinesa na região, rica em carne, soja, milho, trigo, ouro, prata e petróleo. Em Ushuaia, província da Terra do Fogo, conversou com Milei sobre a instalação de uma base naval integrada aos Estados Unidos na cidade mais ao sul do país vizinho.
TRABALHADORES ENCONTRARAM O PRÉDIO FECHADO COM CADEADO
“É a segunda empresa estatal que este governo vende. No caso da AGP, trancaram o prédio, os trabalhadores chegaram ao local e encontraram cadeados. Eles não conseguiram nem retirar seus pertences” protestou a secretária adjunta da ATE Nacional, Mercedes Cabezas. Ela lembrou que “a AGP controlava o porto de Buenos Aires e a Hidrovia do Paraná, setor fundamental do comércio exterior do país”. Atualmente, está em andamento a licitação para a dragagem da hidrovia do Rio Paraná, negócio estimado em 9 bilhões de dólares.
“Na Antiga Subsecretaria de Portos e Hidrovias Navegáveis trabalham aproximadamente 200 trabalhadores, dos quais 70 são efetivos e os demais contratados com mais de 10 anos de antiguidade. As notificações de demissão ainda não chegaram mas sabemos que são iminentes. Primeiro tornam os trabalhadores ‘disponíveis’ e depois os jogam fora, é um cinismo sem precedentes”, concluiu Cabezas.