Eleito uma segunda vez com um slogan que é em si uma confissão da decadência que aflige os EUA, “Make America Great Again”, Donald Trump tomou posse nesta segunda-feira (20), prometendo uma nova “Era de Ouro”, a ser concretizada com muro com o México, caça aos imigrantes e assalto ao Canal do Panamá – além da anexação da Groenlândia e Canadá, mudança do nome do Golfo do México para ‘Golfo da América’ e aumento da “taxa de proteção” aos países vassalos de 2% para 5% do PIB.
“A América [Estados Unidos] recuperará seu lugar de direito como a maior, mais poderosa e mais respeitada nação da Terra – inspirando o espanto e a admiração do mundo inteiro”, disse Trump.
“Vou assinar uma série de ordens executivas para restaurar completamente a América. Primeiro, vou declarar uma emergência nacional na fronteira sul. Toda entrada ilegal será interrompida e começaremos a retornar os milhões e milhões de criminosos para onde eles vieram.”
Em relação ao Canal do Panamá, Trump alegou que o Panamá “quebrou uma promessa, violando navios americanos, sobretaxados”, acusou a China de “operar” o canal e prometeu que o “tomaremos de volta”.
“Daqui a pouco, mudaremos o nome do Golfo do México para Golfo da América”, voltou a bravatear.
No discurso, Trump também asseverou que os EUA voltarão a ser um país “que expande o seu território”. Autoridades do Canadá, México, Dinamarca/Groenlândia e Panamá já manifestaram seu repúdio a tamanha arrogância e desrespeito à lei internacional.
Trump também ameaçou impor sobretarifas aos demais países e anunciou a criação de um novo órgão governamental: “Vamos impor tarifas sobre países estrangeiros para enriquecer nosso país, estabelecendo o Serviço de Receita Externa”.
“Os dias de declínio dos EUA acabaram”, asseverou Trump, como se a parcela do PIB global que cabe aos EUA não tivesse caído de 21% para 16% e os monopólios privados norte-americanos não tivessem passado as últimas décadas desindustrializando o país, a ponto da produção industrial dos EUA mal chegar à metade da produção industrial chinesa.
Nesse contexto de declínio, a desdolarização entrou na ordem do dia após os EUA sancionar um terço dos países do mundo e, especialmente, a Rússia, uma superpotência nuclear, ameaçando assaltar seus ativos. E quando os Brics já incluem 55% da população mundial e sua parcela do PIB global em paridade de poder de compra ultrapassa a do G7, o clube das potências imperialistas e ex-coloniais que Washington encabeça.
A cerimônia aconteceu em local fechado pela primeira vez em décadas devido ao clima frio na capital norte-americana, com Trump jurando no mesmo local ao qual, há quatro anos, enviara seus sequazes para tentar golpear o resultado da eleição. Trump também transformou sua foto numa delegacia da Geórgia, onde tivera de comparecer por causa do indiciamento por pedir ao chefe da apuração no Estado “me arruma aí 11 mil votos” – revisada mas com a mesma cara de pulha – na sua foto oficial do segundo mandato.
Puxa-sacos, doadores de campanha (e solícitos candidatos a parceiros na rapinagem que está sendo programada), convidados fascistas do porte de Javier Milei e Giorgia Meloni e magnatas das fake news, alguns deles recém convertidos à MAGA, serviram para demonstrar a cupidez e a mediocridade do entorno de Trump.
Na posse, o Brasil foi representado pela embaixadora Maria Luiza Viott. A China enviou para a cerimônia um vice-presidente. O choramingo insistente de Vladimir Zelensky para ser convidado e posar para uma foto não foi atendido por Trump, que diz que vai acabar com a guerra na Ucrânia e promete se reunir com Putin o mais cedo possível.
Em comício na véspera da posse, Trump havia prometido “acabar com a guerra na Ucrânia, com o caos no Oriente Médio e impedir a Terceira Guerra Mundial”. Também tomou a iniciativa de telefonar para o presidente chinês Xi Jinping.
Segundo a mídia, a enxurrada de ordens executivas de Trump pode incluir a cassação do direito de qualquer criança que nasce nos EUA de ter cidadania norte-americana, a pretexto dos pais serem ‘imigrantes ilegais’.
Em grande medida, o retorno de Trump foi extremamente facilitado pela orgia de guerras promovidas por Biden – na Ucrânia e em Gaza -, e ao desastre econômico autoinfligido provocado pelas sanções contra a Rússia e sua energia barata. Aliás, em 2016, a opção preferencial de Obama por salvar o Citibank e deixar o povo à míngua no crash de 2008 explica em grande medida como a demagogia de Trump penetrou no Cinturão da Ferrugem, antes uma fortaleza dos democratas.
Para além do que Trump explicitou, organizações progressistas dos EUA denunciam que o chamado projeto 2025 ameaça abalar os alicerces da democracia nos EUA. Em sua campanha, Trump também defendeu o corte de impostos para os magnatas, enquanto seus partidários anunciaram ataques frontais aos programas sociais e à previdência social em nome de “conter a dívida”, quando o grande item é o orçamento trilionário do Pentágono e suas guerras.
O recém conduzido presidente também prepara a revogação imediata de medidas contra a crise ambiental, depois de, no primeiro mandato, ter tirado os EUA dos Acordos do Clima de Paris e sua campanha tinha com um dos slogans centrais “drill, baby, drill” (perfure, baby, perfure).
Nos últimos minutos de seu mandato, o ainda presidente Biden deu perdão oficial a cinco familiares dele próprio, mais aos integrantes do Comitê da Câmara que apurou a invasão do Capitólio, ao principal cientista do combate à pandemia do coronavírus Anthony Fauci e ao ex-chefe do Estado-maior, Mark Millei, que expôs o fascismo de Trump nos idos de 2020.