A sagaz ‘estratégia’ do ministro do Interior de Merkel, Horst Seehofer, de fazer frente à Alternativa para a Alemanha (AfD), aderindo à xenofobia – ele instalou na Baviera campos de concentração para imigrantes – saiu pela culatra, com o CSU, o braço local dos conservadores, perdendo 10% da votação [de 47,5% para 37,2%] e a maioria absoluta, depois de seis décadas de domínio imbatível no estado, um dos mais ricos do país, sede da BMW e da Siemmens. O SPD (Social Democracia) saiu-se ainda pior, com a votação caindo pela metade, de 21% em 2013 para 10% agora. A votação foi no dia seguinte à grande manifestação em Berlim contra o racismo e a discriminação.
Segundo a imprensa alemã, o resultado reitera a crise na “Grande Coalizão” [‘GroKo’, como é conhecida] entre democratas cristãos e sociais democratas. Os verdes, que fizeram campanha contra a perseguição aos imigrantes e pela inclusão, quase dobraram sua votação, para 18,5%, e se tornaram a segunda força política do estado. A AfD deteve-se nos 11%, mesma votação dos Eleitores Livres, seguidos pelos Liberais Democratas (FDP) e o Partido de Esquerda, que não chegaram a 5%.
“Muita confiança foi perdida”, asseverou Merkel, que não deve estar tão chateada pelo baque que atingiu Seehofer. A tentativa do CSU de atrair eleitores pela direita incluiu, conforme o Guardian, a lei muito ridicularizada que obrigou a instalar crucifixos nos prédios públicos. Os verdes tomaram quase 200 mil votos da CSU e 210 mil do SPD.
A Deutsche Welle considerou o resultado da CSU nessa eleição “uma surra histórica”, com consequências em nível nacional. “As décadas da CSU se vendendo com sucesso aos eleitores como um partido cristão conservador, mas socialmente consciente, parecem ter acabado”.
O abalroado SPD não tem outra leitura de eleição senão “um resultado amargo”, nas palavras da presidente nacional do partido, Andrea Nahles. “Seguramente uma das razões para o fraco desempenho do SPD é o fraco desempenho da grande coligação”, acrescentou. Como se o “fraco desempenho” não fosse o corolário da política de arrocho de direitos e salários, em prol dos bancos e cartéis, que é a essência da “austeridade de Merkel”, à qual tão firmemente se agarra o SPD, que não consegue ganhar uma eleição sozinho desde que, no governo Schroeder, traiu os trabalhadores [mais uma vez…] com as leis de arrocho Hartz (“Leis Volkswagen”). No dia 28, será a vez das urnas se pronunciarem no estado de Hesse, “onde tanto a CDU quanto o SPD estão definhando nas pesquisas”, registrou a DW.