A Corregedoria da Polícia Militar indiciou, nesta quinta-feira (30), 17 policiais militares suspeitos de participação no assassinato de Vinícius Gritzbach, delator do PCC, morto a tiros na área de desembarque do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Todos os suspeitos já estão presos.
As investigações tiveram início em março de 2024, após uma denúncia anônima sobre o vazamento de informações sigilosas por policiais militares para integrantes da facção criminosa. Essa rede de proteção permitia que membros do PCC escapassem de operações policiais e evitassem prejuízos financeiros. Entre os principais beneficiados pelo esquema estavam líderes e integrantes do PCC, incluindo Marcos Roberto de Almeida, conhecido como “Tuta”, e Silvio Luiz Ferreira, apelidado de “Cebola”.
Em outubro, a Corregedoria recebeu novas denúncias acompanhadas de imagens que mostravam policiais escoltando Gritzbach durante uma audiência no Fórum da Barra Funda. Com isso, foi instaurado um Inquérito Policial Militar. No dia 8 de novembro de 2024, Gritzbach foi executado com dez disparos enquanto desembarcava no Terminal 2 do aeroporto. O empresário retornava de uma viagem de Alagoas, onde passou sete dias acompanhado da namorada e seguranças particulares, entre eles um policial militar. Ele carregava uma bagagem contendo mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor.
No dia seguinte ao crime, quatro PMs que faziam sua escolta particular foram identificados e afastados. A Corregedoria apreendeu seus celulares e, ao cruzar os dados, descobriu que os policiais faziam parte de uma rede de proteção do PCC, passando informações para os criminosos se anteciparem às ações da polícia.
A prisão dos policiais foi possível graças ao uso de diversas tecnologias de rastreamento e investigação. A Corregedoria quebrou o sigilo telefônico dos suspeitos, utilizou estações rádio-base para mapear deslocamentos, aplicou sistemas de reconhecimento facial e analisou imagens de câmeras de segurança. “Foi utilizada a comparação das imagens, de vídeo, imagens de dentro do ônibus com as imagens que nós tínhamos desse policial preso na data de hoje. Também o sistema de reconhecimento facial para ver se a imagem que [a Corregedoria] tinha batia com a imagem de dentro do ônibus e deu um percentual considerável de aceitação”, explicou o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite. A localização do celular do cabo Denis Antonio Martins, identificado como um dos atiradores, também confirmou sua presença na cena do crime. Além disso, imagens de perfil incluídas no inquérito do DHPP mostraram semelhança entre Ruan Silva Rodrigues e um dos assassinos flagrados por câmeras de segurança.
Entre os 17 policiais presos, 13 eram responsáveis pela escolta de Gritzbach, enquanto um tenente organizava a escala para permitir que os agentes realizassem serviços particulares para o empresário. Os três PMs apontados como envolvidos diretamente no homicídio foram o cabo Denis Antonio Martins, de 40 anos, e o soldado Ruan Silva Rodrigues, de 32, ambos suspeitos de serem os atiradores, além do tenente Fernando Genauro da Silva, de 33 anos, identificado como motorista do carro usado na execução. Todos estão detidos no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte de São Paulo. Outros 14 policiais do grupo de escolta também foram presos.
Os nomes dos PMs detidos incluem Abraão Pereira Santana, Adolfo Oliveira Chagas, Alef de Oliveira Moura, Denis Antonio Martins, Erick Brian Galioni, Fernando Genauro da Vila, Giovanni de Oliveira Garcia, Jefferson Silva Marques de Souza, Julio Cesar Scarlett Barbini, Leandro Ortiz, Leonardo Cherry Souza, Romarks Cesar Ferreira Lima, Samuel Tillvitz da Luz, Talles Rodrigues Ribeiro, Thiago Maschion Angelim da Silva e Wagner de Lima Compri Eicardi.
A identidade do mandante do crime ainda não foi confirmada. “Nós temos duas linhas de investigação para os mandantes, ambos de facção. Então, foi um crime encomendado por algum membro do PCC. Nós temos duas linhas, que já estão bastante adiantadas, de investigação”, afirmou a delegada Ivalda Aleixo, diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A polícia não descarta a possibilidade de mais de um mandante. Apesar disso, não há indícios de que o mando do crime tenha partido de alguém ligado às polícias.
Imagens de câmeras de segurança registraram o momento da execução de Gritzbach. Dois homens encapuzados desembarcaram de um Gol preto e começaram a disparar contra o empresário, que tentou fugir, mas tropeçou e caiu antes de ser atingido por mais tiros. No total, ele foi baleado dez vezes. Os assassinos fugiram no mesmo veículo. Posteriormente, dois suspeitos foram flagrados por câmeras de segurança entrando em um ônibus, e imagens comparadas indicaram a presença do soldado Ruan Silva Rodrigues.
Nos próximos dias, a Corregedoria da PM concluirá o inquérito e encaminhará o relatório final à Justiça Militar. As provas serão compartilhadas com o Departamento de Homicídios (DHPP), que investiga o caso. Até o momento, além dos 17 PMs, outras 10 pessoas, incluindo cinco policiais civis, um advogado, dois empresários e duas pessoas ligadas ao olheiro Kauê – responsável por avisar aos assassinos sobre a chegada do delator ao aeroporto –, foram presas por suspeita de envolvimento no crime.