Além da multidão em Buenos Aires, 200 mil em Córdoba, 30 mil em Mar del Plata e Santa Fé, e uma ocupação de 40 quadras em Rosário, inúmeras cidades exigiram um basta ao desgoverno da traição nacional, de políticas fascistas e racistas. “Éramos uma maré e hoje somos um tsunami e estamos aqui”, comemorou a dirigente da Central dos Trabalhadores da Argentina
Com uma gigantesca “Marcha de Orgulho Antifascista” que tomou a Argentina no último sábado (1º), organizações sindicais, sociais e políticas se somaram a intelectuais para dar um basta à “traição nacional” de Javier Milei, construindo “um sujeito coletivo que tome em suas mãos a mobilização popular e enfrente o governo”.
Na praça em frente à Casa Rosada, em Buenos Aires, o prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, defendeu que “a importância desta marcha é a rebeldia de um povo que se levanta contra o fascismo”. “Este é um governo que quer destruir as instituições democráticas que tanto se custou para construir. Estamos em defesa dos direitos humanos, da Constituição Nacional e repudiando o negacionismo que quer reivindicar os crimes da ditadura”, assinalou.
Dirigentes das centrais de Trabalhadores da Argentina (CTA), Hugo Godoy e Hugo Yasky repudiaram Milei, os grupos econômicos que lhe dão sustento e a seu modelo privatista, que multiplica falências no aparelho produtivo enquanto retira direitos sociais e arrocha salários, elevando a cada dia a indigência, que já alcança 18%.
Como ficou explícito nas intervenções, “para os trabalhadores, os feminismos, a comunidade LGBTIQ+ e o povo em geral, a resposta só pode ser responder aos ataques neofascistas e racistas com firmeza: mais organização, mais unidade e mais luta para repudiar as políticas de exclusão, ajuste fiscal e saque”.
“Há dias os jornais publicaram as fotos dos empresários mais ricos da Argentina: Marcos Galperín, Eduardo Eurnekián, Paolo Rocca… os mesmos que governam hoje e sustentam o ciclo financeiro com que funcionam, às custas da nossa angústia e absorvem a riqueza produzida pelos argentinos. São esses milionários que querem governar nossa pátria”, disse Hugo Godoy, dirigente da CTA. “São esses ricos que querem governar e não só ganhar mais, mas também dar uma motosserra ao que resta do estado social da Argentina”, acrescentou.
“O povo argentino não está disposto a tolerar os ataques a quem exerce sua escolha sexual, nem aos aposentados, nem aos professores, nem aos perdedores deste modelo. Na Argentina, depois de ter vivido um genocídio, revive-se o discurso do patriarcado sexista, discriminatório e violento contra as mulheres. Defender as bandeiras do feminismo e as mulheres é defender, neste momento, as bandeiras do movimento popular”, enfatizou Hugo Yasky.
PERONISMO PELO RESPEITO AOS SERES HUMANOS
O peronismo da “Província de Buenos Aires” também estampou suas bandeiras, referenciadas no jovem governador Axel Kicillof, um dos mais críticos ao descaminho ultraneoliberal e de desrespeito aos seres humanos. Kicillof esteve representado pelo seu ministro do Trabalho, Walter Correa.
Conforme a ativista Ana María Careaga, sobrevivente do Centro clandestino de detenção do Club Atlético, “é preciso denunciar um governo que está destruindo os direitos em vários níveis, e também os direitos humanos ligados à memória, à verdade e à justiça, pois busca a impunidade dos repressores”.
Os padres das comunidades e em opção pelos pobres fizeram uma oração ecumênica junto como as igrejas evangélicas que atuam nos bairros: “É um ultraje retirar alimentos das cozinhas comunitárias e medicamentos aos aposentados e pensionistas”, condenaram.
MILEI QUER RETIRAR O FEMINICÍDIO DO CÓDIGO PENAL
“Enquanto o governo questiona o conceito legal de feminicídio e ameaça eliminá-lo do Código Penal, uma pesquisa do primeiro mês de 2025 registrou que no país houve uma morte por violência de gênero a cada 26 horas”, esclareceu o jornal Página 12. O estudo revelou ainda que 60% dos agressores eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas e que 70% das mulheres foram assassinadas em casa.
Fundadora do Coletivo “Nem uma a Menos”, Luci Cavallero, declarou que “estamos convocando as pessoas a se manifestarem pelos acordos básicos da nossa democracia e por todos os nossos direitos em jogo nesta eleição: o aborto, a educação sexual integral, a educação e a saúde públicas, a possibilidade de viver em uma sociedade onde as forças de segurança não reprimam o protesto social e onde não haja mensagens de crueldade emitidas pelo Estado”.
Uma mostra da devastação causada por Milei foi estampada na diversidade de setores que ergueram a voz, faixas e cartazes para expor seu drama em tão pouco tempo de governo: funcionários públicos, professores, estudantes universitários, aposentados, produtores da agricultura familiar, clubes de bairro, trabalhadores sociocomunitários e de cooperativas, trabalhadores do setor aeronáutico e de hospitais.
Para Leonor Cruz, Secretária de Gênero e Diversidade da CTA, “nosso grande desafio é converter isso numa verdadeira unidade transversal, coletiva, de todas as cores e de todos os sabores, para derrubar esse governo fascista e antidemocrático”. “Éramos uma maré e hoje somos um tsunami e estamos aqui”, concluiu.