O Estado de São Paulo já contabiliza 18 mortes em decorrência das chuvas desde o início do verão, além de dezenas de desabrigados. No sábado (1º), um idoso faleceu após ficar preso dentro de um veículo em um alagamento na Vila Prudente, na Zona Leste da capital. Apesar de ter sido socorrido pelo Corpo de Bombeiros, ele não resistiu.
Além da capital, entre sexta-feira (31) e a madrugada de domingo (2), vários municípios paulistas foram atingidos por fortes temporais, especialmente os litorâneos, como Santos, São Vicente e Guarujá. Chuvas intensas também foram registradas em Porto Feliz, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Santo André, localizados na região do ABC paulista.
No domingo, os municípios mais afetados foram os da Grande São Paulo, com destaque para Cajamar, onde cerca de 100 residências foram inundadas. De acordo com a Defesa Civil, as águas já começavam a baixar na manhã de domingo, e as famílias retornavam às suas casas para iniciar a limpeza.
Em Franco da Rocha, aproximadamente 2 mil pessoas foram impactadas pelas chuvas. A prefeitura informou que equipes estão atuando em vistorias e prestando apoio aos moradores. Caieiras e Guarulhos também registraram pontos de alagamento devido ao temporal.
PREFEITURA DESCARTA OBRAS NO JARDIM PANTANAL
No entanto, a situação mais crítica é enfrentada pelos moradores do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo. A região, que sofre com enchentes há três décadas, permanece com as ruas alagadas desde sexta-feira. Localizado em uma área de várzea do Rio Tietê, o Jardim Pantanal abriga cerca de 45 mil pessoas. A região faz parte do Jardim Helena, um distrito mais amplo com mais de 129 mil moradores, que também é afetado pelas cheias.
A Prefeitura de São Paulo descartou a realização de obras de drenagem e contenção das águas do Rio Tietê, alegando inviabilidade financeira.
A Prefeitura descartou a realização de obras de drenagem e contenção da água de extravasamento do rio Tietê l, alegando que não são opções viáveis. “Vai ficar muito caro”. “Eu estou fazendo um pôlder lá. Tem uma obra que a gente estava orçando, para a gente fazer um dique, mas fica mais de R$ 1 bilhão”, alegou o prefeito Ricardo Nunes (MDB). “Veja, uma obra que vai custar R$ 1 bilhão não vale a pena. Não vale a pena. Vai ficar muito caro”, disse Nunes em uma coletiva de imprensa no sábado.
“Se você pegar o número de casas que tem lá e dividir por um R$ 1 bilhão, acho que é mais fácil tirar as pessoas”, continuou o prefeito. “Aquelas pessoas vão ter que sair dali, não tem jeito”, completou.
Um pôlder é uma área cercada por diques, projetada para proteger regiões baixas de inundações, controlando as águas pluviais e reduzindo alagamentos. A tecnologia é amplamente utilizada em países como a Holanda. Em 2020, o então governador João Doria (ex-PSDB) entregou uma barreira para tentar conter as enchentes. Já Nunes prometeu, no ano passado, investir R$ 400 milhões em obras de drenagem na região.
As obras do pôlder, iniciadas em janeiro de 2023, deveriam ter sido concluídas em 150 dias, segundo informações da prefeitura. No entanto, após 12 meses, o projeto ainda não foi finalizado.
Enquanto adia medidas efetivas para mitigar os efeitos das chuvas, a prefeitura propõe a realocação dos moradores como solução de longo prazo. Nunes também mencionou a possibilidade de oferecer uma ajuda financeira de R$20 a R$50 mil, dependendo do imóvel, para incentivar a saída das famílias.
O prefeito, no entanto, parece ignorar o déficit habitacional e a especulação imobiliária que agravam o problema na cidade. Curiosamente, ele próprio é acusado de invadir uma área de manancial em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, onde construiu uma chácara para eventos, segundo o site “De Olho nos Ruralistas”.
Durante uma coletiva, Nunes culpou os moradores pela situação: “As pessoas ocuparam uma área de várzea. Quando o nível da água sobe, ela invade as casas porque não tem para onde escoar”.
O descaso da prefeitura, que possui a maior arrecadação entre os municípios brasileiros, revoltou a população. Em visita ao Jardim Pantanal na manhã desta segunda-feira, o vice-prefeito Mello Araújo, ex-integrante da Rota (Polícia Militar) e protegido de Jair Bolsonaro, foi recebido com protestos. Ele foi xingado por moradores e precisou se refugiar em uma escola pública, escoltado pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).
“Nunca vi uma situação tão grave. Espero que o poder público encontre uma solução para melhorar nossa vida”, desabafou uma moradora. “Quando votamos, esperamos que nossos representantes trabalhem por nós. Queremos uma recompensa por tanto sofrimento”, completou.