Aumento dos juros foi a principal causa apontada por empresários pela desaceleração
A produção pela indústria brasileira recuou –0,3% em dezembro de 2024, em relação a novembro, na série com ajuste sazonal, conforme dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada na quarta-feira (5), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o terceiro mês seguido de queda (out, -0,2%; nov, -0,7%; dez -0,3%).
Em 2024, o setor registrou aumento de 3,1%, puxado pela indústria de transformação, que cresceu 3,7%. Mas, no último trimestre, a indústria de transformação caiu pelo segundo mês seguido (-0,8%), em novembro a queda foi de -1,1%, após registrar estagnação em outubro (0,0%).
ARROCHO MONETÁRIO
A média trimestral do quarto trimestre do ano passado foi de -0,4% e sinaliza uma desaceleração da economia. Na comparação entre o 4º trimestre e o 3º trimestre de 2024, a queda da produção industrial foi de 0,1%, o mesmo recuo verificado na indústria de transformação (-0,1%). A indústria extrativa recuou 0,4%.
“Esses resultados indicam desaceleração se comparados ao que foi observado entre o 3º trimestre e o 2º trimestre de 2024, quando a indústria geral avançou 1,2%, a indústria de transformação cresceu 1,4% e a indústria extrativa subiu 0,5%”, assinala a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A entidade aponta que “a intensificação do aperto monetário, a piora das condições financeiras e o menor impulso fiscal devem dificultar a continuidade da recuperação do setor”.
Para o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), “a nova fase de aumento das taxas de juros é um importante obstáculo para isso. Os ramos industriais que lideraram o crescimento da indústria em 2024 têm mercados sensíveis às condições de financiamento: eletrônicos e informática (+14,7%), veículos (+12,5%), máquinas e aparelhos elétricos (+12,2%), outros equipamentos de transporte (+10,4%), móveis (+9,5%)”.
“O mesmo vale para os macrossetores, entre os quais a liderança em 2024 coube a bens de consumo duráveis, com +10,6%, e bens de capital, com +9,1%, após dois anos seguidos de retração neste último caso”, destacou o Iedi. “A tendência para 2025 é, então, de desaceleração, dada a expectativa de que a taxa Selic chegue a 15% ao ano, implicando uma alta de quase metade da taxa vigente no início de set/24 (10,5% a.a.), mas alguns fatores podem funcionar como mitigadores, como temos observado em nossas Análises”.
A produção da indústria de transformação corresponde a mais de 80% da indústria geral. Em dezembro de 2024, a indústria no geral eliminou mais de 116 mil postos de trabalho formais. Destes, 113.020 postos pertenciam aos ramos de transformação.
A indústria manufatureira, que parecia que em 2024 tomaria a rota do crescimento robusto, foi freada novamente pela manutenção dos juros altos do Banco Central (BC), que de setembro de 2024 a janeiro de 2025, realizou 4 aumentos no nível da Selic (taxa de juros base), que somados juntos subiram a taxa nominal em 2,75 pontos percentuais, de 10,5% para 13,25% ao ano. Com isso, o Brasil voltou a ocupar o título de campeão mundial de juro real.
Apesar disso, há gente dizendo por aí que é possível manter a economia viva, gerando empregos e melhorando a renda do povo, mesmo com esses juros escorchantes do BC e a continuidade da agenda fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de corte de investimentos.
BENS DE CAPITAL CAI 1,1%
Conforme o IBGE, em dezembro, “verifica-se predomínio de taxas negativas, uma vez que três das quatro grandes categorias econômicas e 15 das 25 atividades industriais pesquisadas apontaram recuo na produção”.
A produção de bens de capital recuou – 1,1%, isso após ter ficado -2,4% em baixa no mês de novembro – um período que acumula perda de -3,5%. A produção de bens intermediários ficou estagnada no período, ao crescer apenas 0,6% em dezembro, após a queda de -0,6% em novembro. Por sua vez, a fabricação de bens de consumo recuou 2,2% em dezembro, marcando o quarto mês consecutivo de queda (set, – 0,2%; out, – 0,8%; nov; – 1,8%; dez, – 2,2%). A produção de bens de consumo semi e não duráveis recuou -1,8% em dezembro, marcando o terceiro mês seguido de queda na produção, período em que acumula perdas de -5,2%. Já a de bens de consumo duráveis (-1,6%), assinalou recuo nos dois últimos meses de 2024, que acumula perdas de -4,5%.
No último mês de 2024, ainda, as principais influências negativas vieram de máquinas e equipamentos (-3,0%), produtos de borracha e de material plástico (-2,5%), metalurgia (-1,5%), produtos diversos (-5,6%), produtos químicos (-0,8%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-0,8%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-3,4%) e de produtos de minerais não metálicos (-1,6%).