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Crime ocorreu durante festa de aniversário com motivação política; julgamento ocorre após mudança de local e mobilização por justiça
O julgamento do ex-policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, que matou o guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Arruda em 2022, em Foz do Iguaçu (PR), começou na manhã desta terça-feira (11), em Curitiba, com o depoimento de Pamela Silva, companheira de Arruda.
Na sessão de julgamento, o Ministério Público do Paraná sustentará a prática de “homicídio duplamente qualificado” – por motivo fútil (a divergência política) e por perigo comum (pelo fato de o acusado haver atirado contra a vítima em local com outras pessoas, colocando-as em risco).
A denúncia, oferecida pelo MPPR ao Judiciário no dia 20 de julho de 2022, foi assinada pelo Núcleo de Foz do Iguaçu do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e pela 13ª Promotoria de Justiça da comarca.
Julgamento de Guaranho mudou de local
O julgamento ocorrerá em Curitiba e não em Foz do Iguaçu, local onde o crime ocorreu, por decisão da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná, que atendeu pedido da defesa do réu. Atuarão no julgamento os membros do MPPR titulares da 7ª Promotoria de Justiça de Crimes Dolosos contra a Vida.
Em respostas à promotora de Justiça Ticiane Louise Santana Pereira, Pamela afirmou que Marcelo se relacionava bem com todos, inclusive com amigos e familiares que não eram simpáticos ao PT. “Ele tinha 28 anos como guarda municipal e, mesmo dentro da corporação, ele era minoria. As pessoas até se referiam a ele como o PT, o petista, de brincadeira”, disse Pamela, que é policial civil, atualmente cedida ao setor de inteligência da Itaipu Binacional.
Além da Guarda Municipal, Marcelo foi tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu e diretor jurídico do sindicato dos servidores do município. Pamela e ele tiveram dois filhos, Pedro, 2, e Helena, 9. Arruda tinha outros dois filhos do relacionamento anterior.
Todos os quatro filhos estavam no aniversário de 50 anos do pai, quando o crime aconteceu, em 9 de julho. A decoração da festa fazia alusão ao PT, com balões vermelhos e camiseta com o rosto do presidente Lula, então candidato.
Pamela foi a primeira a depor no júri, logo após a formação do Conselho de Sentença, com sete jurados sorteados, quatro mulheres e três homens. O júri está sendo conduzido pela juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler, da 1ª Vara Privativa do Tribunal do Júri da capital paranaense.
As respostas de Pamela ao Ministério Público duraram cerca de duas horas, durante a manhã. Após um intervalo de almoço, ela respondeu às perguntas dos advogados de defesa do réu.
Do lado de fora do prédio do júri, familiares e amigos do petista organizaram uma manifestação com faixas e fotos, pedindo a “reportagens do réu”. Guaranho é acusado pelo Ministério Público estadual de “homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e perigo comum”.
Antes de o julgamento começar, Pamela afirmou à Folha que “existe uma ação penal farta de provas” e que espera por “reportagens de Guaranho”.
“Que a sociedade curitibana veja os fatos como eles realmente são e sejam justos e conscientes”, disse ela. “É somente um fato. Estávamos comemorando o aniversário e essa pessoa invadiu a festa. Houve uma motivação política”, diz ela.
O CRIME
Marcelo levou dois tiros de Guaranho, que invadiu a festa, e morreu na madrugada do dia 10 de julho.
A guarda civil caiu ferida e chegou a reagir, disparando contra seu agressor, mas não resistiu aos ferimentos.
Guaranho foi internado em um hospital e depois teve prisão preventiva decretada. Em setembro de 2024, ele obteve uma decisão judicial que o permitiu migrar para a prisão domiciliar.
Nesta terça, ele deverá ser interrogado, logo após as testemunhas indicadas pelas partes serem ouvidas.
O deputado Arilson Chiorato (PT), que também preside o PT-PR, compareceu no início desta terça-feira (11) no Tribunal do Júri em Curitiba.
“Esperamos que a justiça seja feita. Infelizmente, a violência e a intolerância, propagadas pelo bolsonarismo, arrancaram do Marcelo, que era um grande companheiro nosso de luta, a oportunidade de ver seus filhos crescerem, de apoiar sua esposa nesta jornada e de continuar espalhando alegria por onde passava”, comentou o parlamentar.
“Eu desejo que essa família tenha um pouco de acolhimento e que a justiça seja feita, para que outras famílias não passem pela mesma situação. E, além de cobrar justiça, precisamos agir para barrar essa política do ódio, que dissemina intolerância, discórdia e mentiras”, complementou.
A previsão é que o júri termine amanhã, dia 12 de fevereiro.
No dia 19 de março de 2024, a Assembleia Legislativa do Paraná aprovou um projeto de lei instituindo o “Dia Estadual de Luta contra a Intolerância Política”, no dia 9 de julho. A iniciativa do deputado Arilson Chiorato tem por objetivo promover a paz e a tolerância na política.