Rodrigo Leste
No episódio 9, é filmada a cena mostrando o diálogo do presidente da Samarco com o Governador de Minas Gerais sobre o crime de Mariana.
Episódio 9
(O tempo está encurtando para que a produção seja concluída. É terça-feira da terceira semana e desta vez, sem maiores delongas, a filmagem é feita no escritório de Pasqualle. O senador Cheiroso dirige-se ao ministro num tom muito agradável)
— Hoje é dia de estourar champanhe, ministro, tudo funcionou perfeitamente. Sei do tanto que devemos ao senhor pelo sucesso alcançado.
(A imagem mostra o ministro falando ao celular, usando headphone e microfone. Enquanto conversa, lixa displicentemente as próprias unhas)
— Fico lisonjeado com suas palavras, senador, mas a modéstia me obriga a compartilhar o êxito com todos que articularam e levaram a cabo esta vitoriosa ação. E é claro que o amigo tem papel relevante em todo o processo, afinal o senhor é o líder, o comandante supremo do movimento que vai pôr ordem na casa.
— O que me envaidece, não há como negar isso, é saber que estamos destruindo essa canalha — o senador não consegue esconder sua euforia. — O Partido dos Trabalhadores nunca poderia governar um país da importância do Brasil. Erramos muito, é preciso reconhecer, em deixar que crescessem tanto, alcançassem o poder nos levando a uma situação parecida à da Venezuela, Cuba, esses infernos do comunismo.
— A História é feita de muitos acidentes. Os governos petistas foram uns desvios de rota, talvez até necessários, lamento dizer, para alcançarmos a maturidade necessária para que a democracia saia fortalecida de tudo isso — pondera o ministro, sempre ardiloso. — Nós, que representamos as elites, tivemos que assimilar que não basta o poder econômico, temos que ter também o poder político, esta é a lição que tiramos desses infelizes anos.
— Perfeito! — o senador quase tem um orgasmo ao ouvir estas ultimas palavras. — O amigo sempre dá um show na sua maneira clarividente de enxergar os acontecimentos. Adorei o que vossa excelência disse: “não basta o poder econômico, temos que ter também o poder político.”
— Exato, amigo, esta é a lição que tiramos destes últimos anos. Agora, vamos voltar a pôr o trem nos trilhos.
— Com certeza, ministro, o pior já passou. Temos que aprender. Não podíamos ter deixado essa canalha assumir o poder e governar por tanto tempo…
— …desgovernar, senador, desgovernar. A Dilma é uma barata tonta. Teimosa e egocêntrica, um estrupício que tivemos que engolir.
— Sem dúvida, ministro, com certeza. Agora é aproveitar o momento e fazer a limpeza, esmagar esse partido como se fosse um verme. Exterminar, não deixar que consigam se levantar de novo.
— Certamente, senador. O serviço tem que ser completo.
— Ministro, desculpe ter que tocar nisso, mas onde vamos fazer o repasse da mala desta vez?
— Senador, me perdoe, mas não é apropriado tratar disso ao telefone, já falei. Mande o emissário, como da última vez. Alguém da minha equipe vai tratar do assunto.
— Foi mal, ministro, desculpe, vou ser mais cuidadoso.
— Não há de ser nada, senador. Passar bem. Recomendações à esposa.
— Corta, corta! — Alfredo não esconde seu contentamento. — Sensacional, pessoal! Pasqualle, não sei o que você está fazendo nesse negócio de engenharia. Você tem é que jogar tudo pra cima e meter a cara na carreira de ator.
— Canastrão, Fredo. Não é assim que vocês falam? Me sinto um puta canastrão interpretando esse tal ministro — diz Pasqualle, sorrindo, mas intimamente orgulhoso.
— Odete! — Pasqualle chama a sua secretaria. — Uma rodada de uísque para todos. Ó, traz a garrafa nova, aquela vinte anos especial que eu trouxe na última viagem.
Fim do Episódio 10