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A informação de que o Hamas se compromete a liberar mais três israelenses neste sábado (15) foi divulgada por fontes ligadas aos mediadores. Da parte do Catar, a informação veio pelo jornal Al Jazeera e fontes egípcias também confirmaram a manutenção do acordo e a retomada das negociações em torno de sua segunda fase.
Os mediadores no Egito e Qatar redobraram esforços para garantir o cessar-fogo em Gaza, após no início da semana o Hamas ter advertido que adiaria a liberação de três reféns israelenses prevista para sábado em razão das violações israelenses, e depois do célebre anúncio, pelo presidente Trump, com Netanyahu a tiracolo, de que iria “tomar Gaza” e expulsar de lá os 2,2 milhões de habitantes palestinos para empreender sua ‘Riviera sobre Cadáveres’ a beira-mar.
A delegação do Hamas foi ao Cairo, encabeçada pelo negociador-chefe Khalil al-Hayya, se dedicando a monitorar com as autoridades egípcias “a implementação do acordo de cessar-fogo”, como registrou o portal Middle East Eye.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, também fez um apelo às partes pela manutenção da frágil trégua e chamou o Hamas a “evitar a todo custo a retomada das hostilidades em Gaza”.
Segundo o Hamas, seu anúncio foi feito intencionalmente cinco dias antes da libertação programada dos prisioneiros para “dar aos mediadores tempo suficiente para pressionar a ocupação a cumprir suas obrigações e manter a porta aberta para que a troca ocorra a tempo se a ocupação cumprir seus compromissos”.
A acintosa ameaça de Trump foi repelida pela Liga Árabe, que congrega 22 países e que terá uma reunião de emergência no próximo dia 27: “inaceitável”.
“Hoje, o foco está em Gaza, e amanhã estará na Cisjordânia, com o objetivo de esvaziar a Palestina de sua população histórica”, afirmou o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit na Cúpula Mundial de Governos em Dubai, ao ser questionado sobre a proposta de Trump.
“É inaceitável para o mundo árabe, que tem lutado contra esta ideia há 100 anos. (…) Após resistir a isso por 100 anos, nós, os árabes, não vamos ceder agora de maneira alguma”, enfatizou Gheit.
Na semana anterior, uma questão crucial do acordo havia sido cumprida por Israel, a retirada do Corredor Netzarim, que corta o enclave ao meio, o que permitiu à população palestina o retorno para o norte de Gaza.
O porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, disse na quarta-feira (12) que Israel estava “evitando a implementação de várias disposições do acordo de cessar-fogo”, alertando que os prisioneiros não seriam libertados sem que Israel cumprisse o acordo.
Já o ministro da ‘Defesa’ israelense ameaçou reiniciar sua guerra em Gaza se o Hamas não libertasse os prisioneiros israelenses. “A nova guerra em Gaza será diferente em intensidade da anterior ao cessar-fogo, e não terminará sem a derrota do Hamas e a libertação de todos os reféns”, alardeou Israel Katz em um comunicado. Já o ministro fascista Smotrish macaqueou trump e disse que a suspensão do cessar-fogo siginificaria que Israel iria “abrir as portas do inferno em Gaza”.
“ESTOURAR O INFERNO”
Na segunda-feira, Trump havia ameaçado “estourar o inferno” sobre Gaza se “todos” os reféns não fossem libertados no sábado.
A trégua entrou em vigor no dia 19 de janeiro, depois de Israel perpetrar genocídio em Gaza por mais de 15 meses. Israel e o Hamas realizaram até agora cinco rodadas de troca de prisioneiros na primeira fase, que deve durar 42 dias. As duas próximas fases vão ter a negociação retomada a partir de agora.
21 israelenses foram trocados por 730 palestinos dos cárceres da ocupação, com o compromisso do Hamas sendo libertar na primeira fase 33 reféns capturados por quase 2.000 palestinos aprisionados por Israel. Já Netanyahu, ao mesmo tempo da liberação dessas centenas de palestinos, já mandou encarcerar outros 400.
SABOTAGEM DE NETANYAHU, DIZEM FAMILIARES
Diante do impasse, familiares dos reféns israelenses foram às ruas exigir a manutenção do acordo nos trilhos. Yehuda Cohen, cujo filho Nimrod está detido em Gaza e deverá ser libertado na segunda fase, disse ao MEE que “Netanyahu sempre sabota o acordo, seja ordenando que os soldados atirem nos habitantes de Gaza que estão se aproximando do perímetro ou faz obstáculos na questão da ajuda humanitária”.
A indignação contra Netanyahu está crescendo entre as famílias dos cativos. Quando os últimos três israelenses foram libertados pelo Hamas no sábado, seus rostos magros e a dramática perda de peso enquanto estavam detidos em Gaza chocaram o público – mas foram as tropas de ocupação que intencionalmente submeteram o enclave a um estado de fome aberta, que acabou se refletindo nesses reféns, os primeiros nessa condição.
Einav Zengauker, cujo filho Matar é um cativo, respondeu às cenas postando um vídeo furioso nas redes sociais que rapidamente se tornou viral. “Netanyahu, você vê como são os liberados? Quem não sair de lá agora não sobreviverá ao inferno. Devemos implementar o acordo na íntegra”, disse ela.
Não é pequeno o rol de violações do acordo de cessar-fogo por Israel. 92 palestinos foram mortos a tiros e mais de 800 ficaram feridos já com o acordo anunciado. De 12.000 caminhões de ajuda humanitária ali estabelecidos para minimizar a fome, só entraram 8.500. Não foram entregues 90% das tendas estipuladas na primeira fase e nenhuma das 60.000 casas móveis, implicando em dezenas de milhares de pessoas ao relento no retorno ao norte. Hospitais seguem sem operar, porque só metade do total de caminhões-tanque com combustível foram autorizados. 90% dos doentes graves e feridos que deveriam ser levados para o Egito foram barrados. Sem receber máquinas, as pessoas estão limpando os escombros com as próprias mãos. Falta água potável.
A GRITA ÁRABE
O endosso de Trump atiçou Netanyahu a recomendar à Arábia Saudita que criasse um Estado Palestino em seu território, depois de já ter recomendado o mesmo a países como Espanha e Irlanda.
Enviados de Trump ao Oriente Médio estão tendo de ouvir respostas análogas a que o líder dos Emirados Árabes Unidos, o sheik Mohammed bin Zayed Al Nahyan, disse a Marco Rubio: a solução dos Dois Estados é imprescindível e se depara com a rejeição a qualquer deslocamento de palestinos que é a negação de “direitos inalienáveis do povo palestino”, segundo a agência de notícias estatal Wam.
Até mesmo o moderadissimo monarca jordaniano Abdullah II recusou em audiência na Casa Branca apoiar o empreendimento imobiliário de Trump em Gaza.
“GAZA É DOS PALESTINOS”
Nesse ínterim, o capo da Casa Branca renovou sua alucinada proposta de limpeza étnica em Gaza, já rechaçada até mesmo por países da União Europeia que rotineiramente andam a reboque de Washington. Na quarta-feira, a Rússia se somou aos esforços para preservação do cessar-fogo.
Sobre o “Gaza-a-Lago” ou Gaza Trump Tower, a China foi direta e reta. “Gaza pertence aos palestinos e é parte integrante do território palestino”, disse nesta quarta-feira Guo Jiakun, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, que também expressou a oposição aos “deslocamento forçado”, isto é, limpeza étnica, dos palestinos de Gaza.
O Ministério da Saúde confirmou 48.222 mortes na guerra de Israel em Gaza, enquanto 111.674 pessoas ficaram feridas, na maioria, mulheres, crianças e idosos. Número que foi atualizado pelo Escritório de Mídia do Governo de Gaza para pelo menos 61.709, considerando como mortas, sob os escombros, as pessoas desaparecidas.