Em entrevista à Fox News, o presidente Trump chamou o Federal Reserve de “a maior ameaça” à sua presidência porque “está elevando as taxas muito rapidamente”. Ele também se queixou do excesso de “independência do Fed”. A taxa de juros básica do Fed já está no patamar pré-crise, depois que este ano o BC ianque aumentou o juro de curto prazo três vezes, e há outra alta prevista para dezembro. São aguardados, ainda, mais três aumentos em 2019 e um em 2020.
Desde fevereiro, o Fed é presidido pelo banqueiro Jerome Powell, nomeado por Trump em substituição à acadêmica Janet Yellen, a indicada pelo antecessor Obama para inflar os bancos falidos com trilhões de dólares via ‘quantitative easing’ e outras falcatruas pró-escroques. Graças a isso, enquanto os salários foram mantidos no porão em Main Street, as ações subiram à estratosfera com a “bolha de tudo”, como descrito pelo New York Times anos atrás.
Na semana passada, diante da quarta pior perda de pontos da história da Média Industrial Dow Jones de Wall Street, com um tsunami de ordens de “venda’, Trump reagiu responsabilizando o Fed, e disse que este “enlouqueceu”.
Reza a lenda em Wall Street que, quando as taxas de juros sobem, a casa cai. A contrapartida para a derrubada nas ações foi a revoada para os Treasuries, os títulos do Tesouro, cujo rendimento já ultrapassou os 3% (nominais).
No início do mês, Powell, naquela linguagem típica de pitonisa de mercado, asseverou ver “pouco sinal de que a economia está superaquecendo” e defendeu o Fed das acusações de que as altas das taxas de juros estão muito “agressivas”.
Conforme o Departamento de Comércio, a inflação continua sob controle, com os preços gerais subindo 2,3% nos 12 meses até setembro, a menor variação em relação ao ano anterior desde fevereiro. A meta de inflação do Fed é de 2%. Já o salário mínimo não tem aumento há praticamente dez anos.
A cada tremor sísmico em Wall Street, surgem inevitavelmente as comparações com um “novo 1987”, ou um “novo 2001”, ou um “novo 2008” – e ainda há a guerra comercial para tornar os ânimos mais acirrados. Graças à superemissão de dólares para os bancos quebrados e os juros reais negativos, o Fed empurrou com a barriga a crise para a frente, ou como dizem os americanos, chutou a lata pelo caminho.
Como diria o poeta, no meio do caminho tinha uma bolha financeira, tinha uma bolha financeira descomunal no meio do caminho. Grandes corporações se endividaram para inflar artificialmente as cotações da bolsa e, assim, seus acionistas auferirem parrudos dividendos. Muita gente duvida que o fracking se sustente se tiver de pagar juros normais.
Por fora do sistema bancário submetido a um mínimo de regras, há fundos de especulação que operam descontrolados e que criaram novas armas de destruição financeira em massa durante esse longo período de juros reais negativos. O corte de impostos para os magnatas só jogou mais gasolina na quentura. O que só mantém a atualidade da “maldição de Manhattan” – e outubro ainda não acabou, e também há um outubro no próximo ano.
Trump tem insistido em que o Fed contenha a alta de juros, pedindo a Powell que considere “o que é bom para o país”. Enquanto este assevera que está tentando se equilibrar “entre os cardumes do superaquecimento e do aperto prematuro” na economia e todos vão torcendo para que a bolha estoure mais adiante. Como diz o site zerohedge, a crítica de Trump, é claro, “é apenas sua maneira de preparar o terreno para que o Fed leve a culpa durante a próxima contração, caso isso ocorra”.