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Revoltados com a morte de um adolescente e um jovem pela Polícia Militar em Londrina, no Norte do Paraná, na noite de sábado (15), moradores deflagraram uma onda de protestos em 17 pontos da cidade no fim de semana. Natan da Costa, de 20 anos, e Kelvin Willian Vieira dos Santos, de 16, foram mortos durante uma abordagem policial. As famílias das vítimas afirmam que elas foram executadas.
Os policiais dispararam, na ação, 15 tiros de fuzil contra o carro em que os rapazes estavam, que era considerado suspeito e motivou a ordem de parada. “Não foi confronto, foi execução”, repetiram os manifestantes, que cobram justiça. Eles usaram faixas e cartazes com frases denunciando a violência policial, a exemplo: “Nunca foi confronto, é extermínio”. Quatro pessoas que participavam dos protestos foram presas.
A versão da PM é que os dois estavam armados e reagiram à abordagem policial. Segundo informações do 5º Batalhão da PM, a dupla era suspeita de envolvimento em furtos a residências.
Ao longo dos protestos, que prosseguiram até segunda-feira (17), avenidas foram bloqueadas com objetos incendiados, ônibus foram apedrejados e queimados, e o transporte público ficou suspenso por aproximadamente oito horas. Quatro pessoas foram presas.
Também na segunda, as mães dos jovens participaram de uma reunião no Ministério Público do PR (MPPR) à qual esteve presente o delegado do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) no município, Ricardo Jorge Pereira Filho. “Foi uma reunião muito produtiva. Inclusive, ele [o delegado] nos apoiou bastante”, afirmou a advogada Iassodara Ribeiro, que representa as famílias.
“Estamos reunindo todas as provas, que serão encaminhadas dentro do processo”, continuou Iassodara. “Todas vão ser analisadas. Acreditamos na justiça, acreditamos que o julgamento vai ser imparcial para mostrar a verdade”, disse. “A tese da defesa é de que não houve confronto, e a gente vai provar no decorrer do processo”, assegurou a defensora. “As mães estão arrasadas. Elas não têm forças nem para falar, estão sem voz”, contou. “Mas estão fortes, firmes e confiando que a justiça será feita”, ressaltou.
Em uma sessão plenária na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o deputado Arilson Chiorato (PT), líder da Bancada da Oposição, defendeu imparcialidade nas investigações e o uso de câmeras corporais por policiais e nas viaturas, medida justificada pelo aumento de casos envolvendo abuso por parte de policiais em operação.
“Primeiro, eu me solidarizo com as famílias das vítimas, com as mães. Estamos vivendo um momento muito delicado na segurança pública. Precisamos tanto dos parlamentares quanto do Governo para resolver o problema da segurança pública e da violência durante as ocorrências policiais”, ressaltou durante sua fala na tribuna da Alep.
Arilson usou o relatório do MPPR, publicado no final de janeiro deste ano, para sustentar sua observação. Conforme o documento, o Paraná teve 433 confrontos entre policiais e guardas municipais em 2024, resultando em 413 mortes e 109 feridos.
“No caso de Londrina, há indícios de que tenha ocorrido excesso de violência policial. Precisamos que esses crimes sejam investigados com imparcialidade, e para que isso aconteça, as polícias Civil e Científica precisam realizar um trabalho autônomo”, ressaltou.
A adoção de câmeras corporais não representa uma punição, analisa o parlamentar. “Isso [câmeras] permitiria termos um espelho das ocorrências. Esses equipamentos não são para punir o bom policial, ao contrário, vão trazer segurança durante as ocorrências. Além disso, não podemos deixar de avaliar as condições de trabalho e a saúde mental desses policiais”.
Segundo o secretário de Segurança Pública do PR, coronel Hudson Leôncio Teixeira, um inquérito foi aberto através da corregedoria da Polícia Militar (PMPR), que será executado em Maringá e vai apurar a conduta dos policiais durante a ação que resultou na morte de Natan e Kelvin.
“Temos policiais bons e policiais ruins, assim como em qualquer profissão. Porém, o fato é que os números indicam uma crescente escala da violência policial, e o Governo do Paraná precisa parar para analisar isso. A responsabilidade é do Governo, sim, do governador e do secretário de Segurança Pública. Este problema precisa ser trazido à tona e resolvido”, cobrou Arilson Chiorato.