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Com capacidade de alcance de 70 quilômetros. O MANSUP integra o rol de projetos estratégicos da Marinha, assim como o projeto do submarino de propulsão nuclear
Depois de testes bem-sucedidos realizados em dezembro de 2024, o Míssil Antinavio Nacional de Superfície (MANSUP), produzido pela empresa Sistemas Integrados de Alto Teor Tecnológico (SIATT), fabricante brasileira especializada em tecnologias de defesa — está pronto para ser incorporado à Defesa Nacional.
Em entrevista ao site de notícias Sputnik Brasil, nesta quinta-feira (20), especialistas afirmam que o MANSUP contribui para desencorajar eventuais ameaças à soberania do Brasil em águas jurisdicionais brasileiras, mas frisam que ainda é necessário investir mais em capacidade de logística e defesa própria, de forma a se livrar da dependência externa.
Com capacidade de alcance de 70 quilômetros e alta precisão, o MANSUP usa o sistema Astros da Avibrás para ser lançado. Será armamento das futuras fragatas da classe Tamandaré e visa elevar a proteção à Amazônia Azul e aos recursos naturais do Brasil.
Infelizmente a Avibrás ainda não resolveu a crise em que se encontra há mais de dois anos e, apesar de ser uma empresa estratégica do sistema de defesa do Brasil, está ameaçada de ser vendida para uma empresa da Arábia Saudita.
A empresa de São José dos Campos, de alta tecnologia, é a fabricante dos lançadores de mísseis do sistema Astros. O sistema será usado pelo MANSUP. Os trabalhadores da empresa estão sem receber salários desde o início da crise e buscam uma solução junto ao BNDES e o Finep, principais credores, para que ela não seja vendida ou fechada.
Jéssica de Freitas e Gonzaga da Silva, professora de história naval, pós-doutoranda em estudos marítimos pela Escola de Guerra Naval (EGN) e doutora em história pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), considera o lançamento do MANSUP uma importante etapa no processo de execução da Estratégia Nacional de Defesa (END), que estabeleceu como capacidade do Estado para o cumprimento dessa empreitada o desenvolvimento tecnológico para gerar produtos de defesa e sistemas de defesa por meio do incentivo à ciência, à tecnologia e à inovação.
Segundo ela, a contribuição do míssil antinavio para a Defesa Nacional é ampla. Primeiro, porque aumenta a capacidade letal da Marinha do Brasil contra eventuais ameaças à soberania; segundo, porque contribui para o incremento da Base Industrial de Defesa (BID). “Em terceiro lugar, a incorporação desse instrumento reforça a capacidade dissuasória da Marinha do Brasil no âmbito internacional, mediante ampliação do seu prestígio, mas também desencorajando ações predatórias nas águas jurisdicionais brasileiras”, afirma Silva ao Sputnik.
A professora destaca que outro ponto positivo do MANSUP é ser referenciado como uma conquista da indústria de Defesa brasileira, e é “sabido o interesse do Estado em ampliar o nível de domínio das tecnologias de defesa”. Ela afirma que o MANSUP integra o rol de projetos estratégicos da Marinha, assim como o projeto do submarino de propulsão nuclear.
“Recentemente, o governo brasileiro anunciou o investimento superior a R$ 100 bilhões para fortalecer esse ramo da indústria. O MANSUP se tornou também um instrumento estratégico de afirmação do Brasil, no âmbito internacional, como um importante mercado de armamento. Outra perspectiva importante é o reconhecimento internacional que pode ser obtido tendo em vista a tecnologia nacional brasileira”, prosseguiu
A especialista afirma ainda que o MANSUP será de grande importância para garantir a proteção da Amazônia Azul, visto que será usado a bordo dos meios navais flutuantes, com capacidade de responder a eventuais ameaças. Segundo ela, isso se torna ainda mais especial diante das negociações do governo brasileiro para iniciar a exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas, na chamada Margem Equatorial.