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Uma resolução sobre a guerra na Ucrânia ao Conselho de Segurança da ONU, apresentada pelos Estados Unidos, foi aprovada na segunda-feira (24) com os votos dos EUA, Rússia, China e mais sete países, com a França e o Reino Unido se abstendo, acompanhados por três países europeus. Tentativas de emendas à resolução foram rejeitadas.
É a primeira vez que Rússia, China e EUA votam juntos a favor de uma resolução sobre a Ucrânia, com a representante interina de Washington, Dorothy Shea, assinalando que este é um passo “crucial” em direção a “um futuro pacífico para a Ucrânia, a Rússia e a comunidade internacional”.
Ela descreveu a resolução dos EUA como uma “declaração histórica simples… que olha para frente, não para trás. Uma resolução focada em uma ideia simples: acabar com a guerra”.
Embora, para certa mídia, os EUA hajam “surpreendido diplomatas e aliados” ao ficarem do lado da Rússia em duas votações nas Nações Unidas no “terceiro aniversário da invasão russa da Ucrânia”.
Escrito em tom neutro, o documento expressa pesar pelos mortos no conflito, destaca o papel da ONU na manutenção da paz e da segurança internacionais e pede o fim das hostilidades em favor de “uma paz duradoura” entre Ucrânia e Rússia.
O representante permanente da Rússia na ONU, Vasili Nebenzia, disse que Moscou acolheu o parecer elaborado pelos EUA como “um ponto de partida para novos esforços em direção a uma solução pacífica”.
“O texto que acaba de ser adotado não é o ideal , mas é, de fato, a primeira tentativa de adotar um produto do Conselho construtivo e voltado para o futuro, que fala do caminho para a paz, em vez de alimentar o conflito. Um conflito que tem uma gênese muito complexa e não pode ser reduzido a um confronto entre a Rússia e a Ucrânia, como a própria Ucrânia e seus marionetistas europeus estão tentando nos impor”, disse o diplomata russo.
EUROPA O ÚNICO ATOR QUE QUER A GUERRA
Nebenzia sublinhou que “a Europa é o único ator no cenário internacional que quer que a guerra continue e está resistindo com todas as suas forças a qualquer iniciativa realista para resolver o conflito”.
Ele também pediu a todos aqueles que realmente querem alcançar uma paz sustentável na Ucrânia que não permitam que Kiev e seus aliados “atrapalhem os esforços feitos pela Rússia e pelos EUA”.
A resolução em si é uma primeira conseqüência prática da reunião em Riad entre delegações russa e norte-americana de alto nível, que decidiu pela restauração plena das relações diplomáticas e busca de um caminho para a paz na Ucrânia.
A resolução do CS da ONU foi aprovada no mesmo dia em que o presidente francês Emmanuel Macron foi até à Casa Branca para fazer lobby pela continuação da guerra da Otan contra a Rússia na Ucrânia, manobra que deverá se repetir, com o premiê britânico Keir Starmer, nesta quinta-feira.
REGIME DE KIEV NAS CORDAS
Para a grande maioria dos observadores, o regime de Kiev, infestado de neonazis e de colaboracionistas da Otan, está nas cordas, diante dos avanços das tropas russas para dar fim, como Moscou ressaltou, à guerra contra os cidadãos de fala russa em terras habitadas por seus ascendentes desde centenas de anos, e para impedir a anexação da Ucrânia, ex-república soviética, neutra e não nuclear, pela Otan.
A Rússia agiu para impedir que o regime de Kiev perpetrasse a expulsão da população de fala russa e reconheceu as repúblicas populares do Donbass, depois de ter esperado por oito anos que os Acordos de pacificação de Minsk, garantidos pela Alemanha e a França, fossem cumpridos, assegurando os direitos aos russos étnicos e encerrando a perseguição após o golpe da CIA em Kiev em 2014, cujo objetivo foi instalar um governo servil, que desse fim ao status de neutralidade, acatasse a ordem de 2008 de W. Bush anexação à Otan e mudasse a correlação de forças às portas da Rússia.
Contra o que o presidente Putin já havia advertido, em seu famoso discurso de Munique em 2007 contra o “mundo unipolar” e contra a destruição do princípio da segurança coletiva indivisível na Europa, com o rompimento, pela Otan, da promessa na reunificação alemão, de que a aliança imperialista não se moveria “um centímetro para leste”.
Em dezembro de 2021, a Rússia apresentou aos EUA e à Otan proposta de restauração da segurança coletiva na Europa, dois anos após EUA ter se retirado unilateralmente do Tratado INF de 1987, assinado por Reagan e Gorbachev, de proibição de mísseis intermediários, que por três décadas evitara uma guerra nuclear no teatro europeu, como quase chegou a ocorrer na década de 1980. E quando o único tratado de armas estratégicas que restara, o Novo Start, estava prestes a prescrever.
A Casa Branca e Bruxelas se recusaram a qualquer negociação, apostando em derrotar estrategicamente a Rússia, arrasar sua economia e derrubar Putin.
HERDEIROS DE BANDERA
O regime instaurado pela CIA em Kiev também se proclamou herdeiro dos colaboracionistas com a ocupação hitlerista na Ucrânia, o mais notório deles, Bandera, e passou a perseguir tudo que fosse russo, inclusive usando milicianos neonazis, o que levou aos levantes no Donbass e na Crimeia.
Dez dias após o início da operação militar especial russa, seu objetivo, trazer Kiev à mesa de negociações, foi atingido e os dois lados praticamente concordaram em um acordo pelo qual a Ucrânia manteria o status de neutralidade, não nuclear, sem Otan e sem bases estrangeiras e passaria a respeitar os direitos dos russos étnicos.
Acordo já rubricado que foi revogado unilateralmente por Zelensky, após receber ordem dos EUA, entregue pessoalmente pelo premiê inglês Boris Johnson, de continuar os combates, sob a garantia de que a Rússia seria esmagada militarmente e pelas sanções econômicas sem precedentes. Se o acordo houvesse sido mantido, como até um negociador ucraniano admitiu, as vidas de um milhão de ucranianos teriam sido poupadas, assim como a infraestrutura, na maior parte herdada dos tempos soviéticos. Agora, já não se discute se o regime vassalo de Kiev será derrotado, mas quão breve ele pode se manter à tona, ainda mais quando o presidente Trump parece reconhecer que a situação de Kiev no terreno militar está periclitando.