O portal da BBC traz um levantamento dos assassinos do jornalista saudita Jamal Khashoggi que foi torturado e esquartejado em uma sala do consulado da Arábia Saudita, em Istambul, no dia 2 de outubro.
Apesar da polícia turca não haver divulgado oficialmente as provas e conclusões das investigações, fontes da segurança da Turquia trazem, através dos jornais do país, Sabah e Yeni Safak, mais informações sobre o horripilante crime que os sauditas praticaram em outro país, o que, além do crime em si, se constitui numa brutal violação das leis internacionais.
Os 15 integrantes do esquadrão da morte chegaram em Istambul horas antes e voaram horas depois do assassinato que aconteceu quando Khashoggi entrou no prédio, às 13:00 h, para pegar documentos relativos a seu divórcio.
Segundo as fontes da polícia turca, todos são funcionários dos serviços de segurança sauditas. Apesar disso, a versão oficial do governo saudita nega qualquer envolvimento no rumoroso e execrado desaparecimento do jornalista, que há algum tempo trabalhava para o Washington Post, tendo deixado a Arábia Saudita, onde era periodista e tinha grande proximidade com a família real, alegando perseguições (que refletiam contradições dentro da Casa Saud).
A composição, os detalhes da chegada, estadia e partida dos compõem a lista, divulgada pela BBC, deixa pouca margem a dúvida de que o assassinato foi premeditado e de que os assassinos foram escolhidos a dedo para uma operação detalhadamente planificada.
Vamos à lista:
- Salah Muhammed A Tubaigy, de 47 anos, médico legista, especialista em autópsias, formado na Universidade de Glasgow, Escócia, com especialização em medicina forense no Instituto de Medicina Forense na Austrália.
Tubaigy é chefe do Conselho de Estudos Forenses da Arábia Saudita e tem ligação direta com o Ministério do Interior da Arábia Saudita, tendo o jornal árabe, Asharq al-Awsat, publicado artigo referente aos seus trabalhos em 2014, no qual ele indica cursos que realiza no seu país, orientando alunos em como realizar autópsias em poucos minutos.
Segundo fontes da Turquia, o Dr. Tubaigy chegou a Istambul levando consigo uma serra óssea. Desceu no Aeroporto Ataturk, em Istambul, às 03:30h do dia 2 de outubro em um jato privado de número HZSK2, da empresa Sky Prime Aviation Services, que já prestou serviços ao governo saudita no ano passado.
Ele ficou hospedado no Mövenpick Hotel a 500 metros do consulado saudita. Partiu do aeroporto de Istambul a bordo do mesmo jato às 22:54h no mesmo dia 2. O jato retornou a Riad (capital saudita), no dia 3, cedo, tendo parado em Dubai.
Os policiais turcos – segundo diversas publicações – têm a posse de áudio gravado no interior do consulado com detalhes da tortura, morte e esquartejamento de Khashoggi, com a participação do esquadrão da morte, processo que teria sido capitaneado por Tubaigy que, diante do horror das cenas, recomendou ao cônsul e demais presentes que colocassem fones de ouvido para escutar música.
- Maher Abdulaziz M Mutreb, de 47 anos. Mutreb trabalhou por 2 anos na embaixada da Arábia Saudita em Londres, na qualidade de primeiro-secretário.
Segundo fonte citada pela CNN, ele era coronel e tinha posto no serviço secreto saudita. Em diversas fotos, publicadas pelo jornal turco, Yeni Safak, Mutreb é visto acompanhando à distância o príncipe saudita, Mohammd Bin Salman, o mesmo que afirmou peremptoriamente a Trump não saber nada sobre a morte do jornalista no consulado de seu país, em Istambul. Muteb acompanhou o príncipe em várias viagens. Ele seria chefe de equipes de segurança do príncipe em viagens internacionais. Em uma das fotos, Mutreb é visto no momento em que Salman chega para visita ao Instituto Tecnológico de Massachussets, IMT.
Em foto publicada pelo jornal turco, Sabah, Mutreb entra no consulado saudita às 09:55h do dia 2 de outubro, pouco menos de três horas antes da chegada do jornalista assassinado. Ele também é fotografado entrando na vizinha casa do cônsul às 16:53h.
Mutreb chegou a Istambul no jato HZSK2, junto com o Dr. Tubaigy e também ficou hospedado no Mövenpick Hotel. Ele viajou de volta para Riad no jato privado de número HZSK1, partindo às 18:40h do dia 2.
- Abdulaziz Mohammed M Alhawsawi, de 31 anos. Também identificado pelo NYT por haver trabalhado para a família real como integrante da equipe de segurança que viaja com o príncipe Salman.
Alhawsawi viajou a Istambul em um voo comercial e passou pelo controle alfandegário de passaportes às 01:43h do dia 2 de outubro. Ficou hospedado no hotel Wyndham Grand Istanbul Levant, que fica a cerca de 600 metros do consulado. Partiu de Istambul a bordo do jato HZSK2 ao final do dia 2, junto com Tubaigy.
- Thaar Ghaleb T Alharbi, de 39 anos. Serve à Guarda Real, tendo sido promovido a tenente depois de participar da defesa do palácio da realeza, em Jeddah, quando um homem armado matou dois guardas e feriu três outros antes de ser morto.
Alharbi chegou a Istambul no jato privado HZSK2 e ficou hospedado no Mövenpick. Partiu no jato HZSK1.
- Mohammed Saad H Alzahrani, de 30 anos, membro da Guarda Real, também fotografado ao lado do príncipe Salman em um evento em 2007.
Alzahrani chegou a Istambul em voo comercial e ficou também hospedado no Wyndham Grand. Voltou a Riad no jato HZSK2.
- Khalid Aedh G Alotaibi, de 30 anos, também identificado como integrante da Guarda Real. Segundo o Washington Post, passaporte saudita com mesmo nome foi usado para viagens aos Estados Unidos que coincidiam com três visitas de membros da realeza saudita.
Voou para Istambul em um voo comercial e ficou no Wyndham Grand Hotel. Passou pelos controles alfandegários do aeroporto de Istambul às 20:28h antes de partir.
- Naif Hassan S Alarifi, de 32 anos. Segundo fotos localizadas em conta do Facebook, Alarifi integrava as Forças Especiais Sauditas e era conhecido de Khashoggi. Segundo outras informações Alarifi estaria, mais recentemente, empregado no gabinete do príncipe.
Ele chegou a Istambul em um voo comercial e passou pela alfândega do aeroporto às 16:12h. Aguardou no aeroporto até as depois das 18 horas para partir no jato HZSK2. Sua hospedagem foi no Wyndham Grand.
- Mustafá Mohammed M Almadani, de 57 anos. Trabalha para a inteligência saudita.
Almadani chegou a bordo HZSK2 e ficou no Mövenpick. Passou pelo controle alfandegário turco às 00: 18h do dia 3 e partiu em um voo comercial.
- Meshal Saad M Albostani, de 31 anos. Tenente na Força Aérea saudita.
Albostani passou pelo controle de passaportes às 01:45 h no dia 2 de outubro e ficou no Wyndham Grand. Partiu no jato privado HZSK2.
No dia 18 de outubro, o jornal Yeni Safak informou que Albostani morreu em “suspeito acidente de carro”, em Riad, sem dar mais detalhes.
- Waleed Abdullah M Alsehri, de 38 anos. Promovido a Chefe de Esquadrilha ao final de 2017, pelo próprio príncipe Bin Salman.
Alsehri chegou a Istambul a bordo do HZSK2, ficou no Mövenpick e partiu no HZSK1.
- Mansour Othman M Abahussain, de 46 anos. Também identificado como integrante do serviço secreto saudita. Ele é descrito em um jornal saudita de 2014 como coronel da Diretoria Geral da Defesa Civil.
Abahussain chegou a Istambul em um voo comercial e ficou hospedado no Wyndham Grand. Partiu a bordo do HZSK2.
- Fahad Shabib A Albalawi, de 33 anos. Membo da Guarda Real.
Albalawi chegou em um dos jatos privados, ficou hospedado no Mövenpick e partiu no HZSK1.
- Badr Lafi M Alotaibi, de 45 anos. Atua no serviço secreto. Chegou a Istambul no HZSK2, ficou no Mövenpick. Viajou a bordo do HZSK1.
- Saif Saad Q Alqahtani, de 45 anos. Trabalhadva diretamente para o príncipe Mohammed bin Salman, de acordo com o Washington Post.
Alqahtani chegou a bordo do HZSK2, ficou no Mövenpick. Passou pelos controles alfandegários turcos em 3 de outubro às 00:20h antes de partir em voo comercial.
- Turki Muserref M Alsehri, 36 anos. Chegou a bordo do jato HZSK2 e ficou no Mövenpick. Partiu no jato
Depois de todos os detalhes acima, fica cada vez mais difícil a situação saudita em sua negativa de negar envolvimento oficial na morte do jornalista que incomodava aos personagens centrais do regime saudita.
Diante destes e outros detalhes que publicamos nas recentes edições do HP, Trump limitou-se a dizer que “com certeza parece que o jornalista saudita está morto”. Disse que as investigações devem seguir “para se chegar a fundo” desta questão e que “se ficar comprovado o envolvimento” do governo saudita, “as consequências serão severas”.
Este caso, que demonstra à exaustão a crueza e barbárie do regime saudita, aliado privilegiado dos mais diversos governos norte-americanos deixa a nu a falência dos argumentos estadunidenses que encobrem a ilegalidade de suas intervenções contra nações soberanas sob o pretexto de “defesa da democracia e dos direitos humanos”.
Como ressalta o articulista Patrick Cockburn, em seu artigo intitulado “Quando a imagem da Arábia Saudita fica danificada, assim fica a dos Estados Unidos”:
“O caso Kashoggi enfraqueceu a campanha do presidente Trump de impor sanções econômicas restritivas sobre o Irã na busca de reduzir sua influência ou apoiar uma mudança de regime no Irã. A Arábia Saudita é o principal aliado da América no mundo árabe e quando sua credibilidade é danificada assim é a dos Estados Unidos”.
NATHANIEL BRAIA