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Dirigido pelo trilionário Elon Musk, o Departamento de Eficiência Governamental (Doge) dos EUA foi impactado terça-feira (25) pela saída da “coluna dorsal” dos seus funcionários – incluindo engenheiros, cientistas de dados e gerentes de produtos – em repúdio à interferência política, perseguição ideológica, demissões em massa e ameaças à integridade federal pelo governo Trump
Denunciando interferência, perseguição ideológica, demissões em massa e ameaças à integridade federal, a “espinha dorsal” do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) dos Estados Unidos renunciou terça-feira (25), em manifestação contundente contra a política de que coloquem a experiência acumulada ao longo de anos para “desmantelar serviços públicos essenciais”.
“Juramos servir o povo americano e manter nosso juramento à Constituição em todas as administrações presidenciais. No entanto, ficou claro que não podemos mais honrar esses compromissos”, afirmaram 21 engenheiros, cientistas de dados, gerentes de produtos e designers, na carta de demissão coletiva direcionada à chefe de Gabinete da Casa Branca, Susie Wiles.
“Não usaremos nossas habilidades como tecnólogos para comprometer sistemas governamentais essenciais, colocar em risco dados sensíveis dos americanos ou desmantelar serviços públicos críticos. Não emprestaremos nossa expertise para executar ou legitimar as ações do Doge”, enfatizaram.
A NBC News confirmou a autenticidade da carta, apontando que os funcionários decidiram permanecer anônimos e, em vez de assinar seus nomes, tenham listado seus cargos, comprovando que a “espinha dorsal técnica e operacional do Doge tinha acabado de ir embora”.
Conforme alertaram reconhecidos quadros da ciência e tecnologia estadunidense, muitos dos profissionais recentemente recrutados pelo bilionário Elon Musk, secretário de “Eficiência Governamental”, para enxugar o tamanho do Estado são personagens sem qualquer habilidade ou experiência com o fim de demitir abruptamente especialistas e promover um ambiente de trabalho hostil em que reina a insegurança.
O expurgo tecnológico de tamanha dimensão, se dá junto a uma série de contestações judiciais que buscam bloquear a investida de Trump e Musk para que sigam o receituário privatista ou abandonem seus empregos.
As renúncias são ainda mais impactantes, assinalaram, por ocorrerem em meio à crescente turbulência após a aquisição do US Digital Service (USDS) por Musk, uma agência governamental originalmente criada por Barack Obama para modernizar a tecnologia federal. Sob a ordem executiva de Trump, o USDS foi renomeado como Doge, com o bilionário recebendo carta branca para “agilizar as operações”.
Musk tentou minimizar a denúncia dizendo que os funcionários que assinaram o documento em defesa dos serviços públicos eram “remanescentes políticos democratas” que “teriam sido demitidos se não tivessem renunciado”.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, reforçou o ataque aos quadros dizendo que nada nem ninguém impedirá com renúncias em massa a orientação de tornar “nosso governo federal mais eficiente e mais responsável”. “Qualquer um que pense que protestos, processos e guerras jurídicas deterão o presidente Trump deve ter dormido debaixo de uma pedra nos últimos anos”, disse.
FUNCIONÁRIOS CONTESTAM MUSK
“O Doge parece pensar que ‘eficiência’ significa fazer menos, não importa as consequências”, apontou um ex-funcionário que trabalhou tanto para Obama quanto para Trump. A transição de liderança de Musk foi descrita como “terra arrasada”, pois expulsa pessoas que realmente sabiam como consertar as ineficiências do governo “depois de 15 minutos de entrevista”.
De acordo com os funcionários, nem bem Trump assumiu, passaram a ser interrogados sobre suas qualificações e posicionamentos por pessoas usando crachás de visitantes da Casa Branca, algumas das quais não deram seus nomes. “Vários desses entrevistadores se recusaram a se identificar, fizeram perguntas sobre lealdade política, tentaram colocar colegas uns contra os outros e demonstraram capacidade técnica limitada. Esse processo criou riscos de segurança significativos”, condenaram.
No começo de fevereiro cerca de 40 funcionários do escritório foram demitidos, comprometendo a capacidade do governo de administrar e proteger sua própria estrutura tecnológica, descreveram na carta. “Esses servidores públicos altamente qualificados estavam trabalhando para modernizar a Previdência Social, serviços para veteranos, declaração de impostos, assistência médica, assistência a desastres, auxílio estudantil e outros serviços essenciais. Sua remoção coloca em risco milhões de americanos que dependem desses serviços todos os dias. A perda repentina de sua expertise em tecnologia torna os sistemas essenciais e os dados dos americanos menos seguros”, concluíram.