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“É um atalho perigoso”, disse. Ele defendeu em reunião do BRICS a importância de fortalecer o pagamento em moedas locais
O presidente Lula defendeu, em discurso no fórum do BRICS, realizado na quarta-feira (26) em Brasília, a importância de fortalecer o pagamento em moedas locais nas operações comerciais entre os países membros do grupo.
As palavras de Lula são uma resposta aos ataques feitos pelo presidente dos EUA à decisão do BRICS de não usar o dólar nas transações comerciais. “Quem aposta no caos e na imprevisibilidade, se afasta dos compromissos coletivos que a humanidade precisa urgentemente assumir”, apontou Lula.
Donald Trump chegou a fazer ameaças recentes de que o “BRICS estaria morto” se abandonasse o dólar e afirmou que haveria uma taxação de 100% sobre os seus produtos, caso a ideia das moedas locais fosse levada adiante.
Lula criticou as políticas isolacionistas e as ameaças de Trump durante fórum do BRICS. “Frente à polarização e à ameaça de fragmentação, a defesa consistente do multilateralismo é o único caminho que se deve trilhar”, afirmou o presidente. “A atual escalada protecionista na área de comércio e investimentos reforça a importância de medidas que busquem superar os entraves à nossa integração econômica”, prosseguiu Lula.
O líder brasileiro voltou a defender o papel do Estado na condução das nações e na promoção de bem estar para a suas populações. “O BRICS precisa tomar para si a tarefa de recolocar o Estado no centro dos debates para a construção de uma governança justa e equitativa sob o amparo das Nações Unidas”, disse.
O presidente brasileiro atacou aqueles que sabotam a Organização Mundial da Saúde (OMS), promovem o protecionismo e se omitem diante da crise climática, num claro recado às últimas decisões de Trump. “Sabotar os trabalhos da OMS é um erro com sérias consequências. Fortalecer a arquitetura global de Saúde, com a OMS em seu centro, é fundamental para garantir um justo e equitativo acesso a medicamentos e vacinas necessários ao desenvolvimento sustentável de nossos países”, destacou Lula.
Ele foi enfático contra as manifestações de unilateralismo e prepotência. “O recurso ao unilateralismo solapa a ordem internacional. Quem aposta no caos e na imprevisibilidade se afasta dos compromissos coletivos que a humanidade precisa urgentemente assumir. Negociar com base na lei do mais forte é um atalho perigoso para a instabilidade e para a guerra”, acrescentou o presidente, num recado direto às posições hostis defendidas pela Casa Branca sob Trump.
Lula também afirmou que o desenvolvimento econômico na “revolução digital” passa pelo desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial. Ele afirmou que o Brasil proporá um sistema de governança para garantir que esta nova tecnologia sirva de forma equânime ao conjunto da sociedade.
“Ao mesmo tempo em que oferece oportunidades extraordinárias, a Inteligência Artificial traz desafio éticos, sociais e econômicos. Essa tecnologia não pode se tornar monopólio de poucos países e poucas empresas. Grandes corporações não têm o direito de silenciar e desestabilizar nações inteiras com desinformação. Mitigar os riscos e distribuir os benefícios da revolução digital é uma responsabilidade compartilhada”, afirmou o presidente.
“Qualquer tentativa de desenvolvimento econômico hoje passa pela Inteligência Artificial. Não podemos permitir que a distribuição desigual dessa tecnologia deixe o Sul Global à margem. O interesse público e a soberania digital devem prevalecer sobre a ganância corporativa”, continuou Lula.
A reunião é o primeiro encontro do ano dos chamados “sherpas” – nome dado aos negociadores de cada governo do grupo de países.
Lula foi o único chefe de Estado a participar da reunião, já que o Brasil preside o BRICS neste ano. Seu discurso foi considerado uma defesa forte do multilateralismo. “A presidência brasileira vai reforçar a vocação do bloco como espaço de diversidade e diálogo em prol de um mundo multipolar e de relações menos assimétricas. Esses objetivos guiarão o nosso trabalho ao longo desse ano”, prosseguiu o chefe do Executivo.