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“A redução dos investimentos foi o principal fator que possibilitou pagamentos de dividendos altos e insustentáveis pelas direções da Petrobrás em 2021, 2022 e 2023”, lembra o presidente da AEPET, Felipe Coutinho
A gestão da Petrobrás segue adotando uma política de distribuição de dividendos elevados em detrimento de investimentos da estatal, aponta um estudo da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), divulgado na sexta-feira (28).
Os dados mostram que, em 2024, a relação entre o pagamento de dividendos e o investimento líquido foi quase 11 vezes maior do que a média registrada entre 2005 e 2020.
“A redução dos investimentos foi o principal fator que possibilitou pagamentos de dividendos altos e insustentáveis pelas direções da Petrobrás em 2021, 2022 e 2023”, lembra o presidente da AEPET, Felipe Coutinho. “Essa segue sendo a escolha política da atual direção da Petrobrás”, critica o engenheiro químico, autor do levantamento.
Segundo o levantamento, em 2021 e 2022, a razão média entre os dividendos pagos e o investimento líquido foi de 804%, nos resultados consolidados de 2023 e 2024 foi de 232,63% e 133,19%, respectivamente, enquanto entre 2005 e 2020 foi de 12,7%, em termos médios.
“Os lucros e dividendos distribuídos hoje, são resultados dos investimentos realizados no passado. É evidente que elevar a distribuição dos dividendos, em detrimento dos investimentos, comprometerá o resultado futuro”, alerta Coutinho.
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Reprodução: Aepet
A AEPET também revela que a Petrobrás, mesmo tendo a menor receita entre as seis principais petroleiras globais, foi a empresa que pagou o segundo maior montante em dividendos no ano passado. Por outro lado, a estatal brasileira realizou o segundo menor investimento líquido, sendo de 79% em relação à média das demais.
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“Ao analisar o histórico da Petrobrás e os resultados de grandes petrolíferas internacionais é evidente que os dividendos que têm sido pagos pela alta direção da estatal, desde 2021, são realizados em detrimento dos investimentos líquidos e, por este, entre outros fatores, são insustentáveis”, critica o presidente da AEPET.
O engenheiro considera que a direção da Petrobrás do governo Lula revisou a política de remuneração dos acionistas da estatal, mas mantendo a maior parte das práticas da gestão anterior, como o pagamento de dividendos trimestrais e proporcionais ao fluxo de caixa livre, por exemplo.
“O fluxo de caixa livre é o resultado da geração de caixa descontada do investimento, a política anunciada incluiu o desconto pela aquisição de participações societárias”, explica Coutinho, que segue.
“A política prevê dividendos de 45% do fluxo de caixa livre a cada trimestre, redução modesta na comparação com os 60% da política anterior. Ainda foi incluída a prática de recompra e cancelamento de ações, como mais uma alternativa para valorizar o capital dos acionistas”, lembra o engenheiro.
“Quanto menor o investimento, maiores o fluxo de caixa livre e a distribuição de dividendos”, argumenta o especialista em Engenharia de Processamento pela Petrobrás, desde 2000.
“O investimento líquido em 2024 foi de US$ 12,2 bilhões, 45% menor se comparado à média histórica dos investimentos da Petrobrás, entre 1965 e 2021, de cerca de US$ 22 bilhões por ano, e 77% menor se comparado com o investimento médio anual, entre 2009 e 2014, de US$ 53 bilhões, em valores atualizados”. “Não à toa, a política de remuneração dos acionistas foi bem recebida por agentes do sistema financeiro”, conclui.