As equipes do Ibama e do ICMBio sofreram ataques durante as operações de combate ao desmatamento ilegal na cidade de Buritis (RO), no último sábado (20). O atentado foi realizado com um galão de gasolina e um homem ateou fogo em três das dez viaturas do Ibama, estacionadas a frente de um hotel.
A polícia local conseguiu conter o fogo, evitando que se espalhasse às demais viaturas e um suspeito do ataque foi preso e atuado por danos ao patrimônio público.
Durante o ato, pessoas se aglomeraram diante do hotel. Algumas delas passaram a incentivar a queima de outras viaturas e romperam o cordão de isolamento do local. A polícia conseguiu conter um segundo ataque e ainda prendeu um dos incentivadores.
Foi a primeira vez que o Ibama teve viaturas incendiadas este ano. No ano passado, um ataque queimou oito caminhonetes no sudoeste do Pará. Os veículos estavam sendo transportados em um caminhão-cegonha.
O incidente com o ICMBio ocorreu na sexta-feira (19), no município de Trairão (PA). Trata-se do primeiro ataque ao órgão ambiental neste ano em todo o país.
De acordo com o relato dos servidores, uma equipe estava na Floresta Nacional (Flona) para verificar uma área de desmatamento detectada por satélite e combater o roubo de madeira. Enquanto isso, foi queimada uma pequena ponte na única estrada de acesso. Áudios obtidos pelo ICMBio mostram que a ação foi orquestrada por moradores de um distrito de Trairão, onde atuam extratores de madeira e de palmito ilegais.
Segundo os relatos, a equipe estava parada na ponte queimada, um grupo de moradores se concentrou numa segunda ponte, a centenas de metros e os agentes do ICMBio dizem ter ouvido tiros.
Os episódios ocorrem em meio aos ataques de Bolsonaro contra órgãos de fiscalização, como o Ibama e o ICMBio. Em pronunciamento logo após o primeiro turno, ele prometeu acabar com a “indústria de multas” dos órgãos ambientais.
“Vamos botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil. Vamos tirar o Estado do cangote de quem produz”, prometeu Bolsonaro em referência aos órgãos ambientais. Para agentes do Ibama e do ICMBio, as declarações de Bolsonaro alimentam a hostilidade contra os órgãos na Amazônia, onde já enfrentam dificuldades para atuar.
MANIFESTO PELO MEIO AMBIENTE
Um conjunto de 31 redes e organizações da sociedade civil divulgou sexta-feira (19) um manifesto criticando propostas que vêm sendo feitas na campanha à Presidência contra o meio ambiente. O texto condena, por exemplo, as ideias de retirar o Brasil do tratado internacional de mudanças climáticas, o Acordo de Paris, e de fundir do Ministério de Meio Ambiente (MMA) ao de Agricultura.
Além de organizações específicas, o texto é assinado por redes que congregam centenas de outras organizações, como a Rede Mata Atlântica (RMA), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e o Observatório do Clima.
As instituições que assinam o documento consideram que a extinção ou enfraquecimento dos órgãos ambientais pode provocar a explosão das taxas de desmatamento e colocar “em risco quatro décadas de avanços na proteção do meio ambiente”.
Lembram ainda que, conforme os cientistas, caso a derrubada da floresta ultrapasse 25% (hoje ela está em 19%), a Amazônia pode se transformar numa savana, o que colocaria em risco o regime de chuvas de grande parte do país.
O texto condena ainda as propostas de enfraquecer ou mesmo acabar com o licenciamento ambiental; facilitar o uso de agrotóxicos; abrir as áreas protegidas a atividades de alto impacto ambiental; e a defesa do “fim do ativismo” no país.