
O governo da Rússia afirmou nesta quarta-feira (26) que várias condições precisam ser atendidas para que o acordo de cessar-fogo no Mar Negro, enunciado após 12 horas de reunião Rússia-EUA em Riad, na segunda-feira, entre efetivamente em vigor, o que inclui a trégua em ataques no Mar Negro e a unidades de produção e transmissão de energia elétrica..
Os acordos entre Rússia e Estados Unidos, acerca do Mar Negro, só entrrão em vigor depois que Estados Unidos e Europa levantarem as sanções a bancos russos e os reconectem ao sistema Swift de compensações, explicitou o Kremilin, segundo a agência Tass.
Na declaração russa, ficou adiantou que, “entre as agências financeiras a serem liberadas destas sanções se prioriza, neste caso do acordo sobre a circulação internacional de fertilizantes e grãos, o Banco Agrícola Russo, pelo “seu suporte a transações no comércio internacional de alimentos (incluindo produtos pesqueiros). Isso também se estende à suspenção do corte da conexão destas instituições ao sistema SWIFT [de compensações bancárias internacionais] e à abertura das contas correspondentes”.
Também integram a lista de exigências russas a suspensão de todas as restrições em transações financeiras e às empresas produtoras de fertilizantes e exportadoras.
Na terça-feira (25), Washington teria obtido a anuência do regime de Kiev para a suspensão anunciada dos combates no Mar Negro. Trégua nos ataques à infraestrutura de energia, de 30 dias, anunciada na semana passada no telefonema Trump-Putin, vem sendo violada, segundo denunciou Moscou. Até uma estação de transporte de petróleo de um consórcio norte-americano-cazaque foi bombardeada e posta fora de operação.
“Quanto à iniciativa de grãos do Mar Negro, ela pode ser ativada após a implementação de uma série de condições“, disse também a repórteres o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. “São as mesmas condições que foram incluídas na Iniciativa do Mar Negro (original)… à época todas as condições foram cumpridas, exceto aquelas referentes [às apresentadas] pelo lado russo. Portanto, é claro, desta vez a justiça deve prevalecer e continuaremos nosso trabalho com os norte-americanos”, destacou.
Segundo as agências de notícias, os EUA concordaram em trabalhar para levantar sanções contra as exportações russas de grãos e fertilizantes. Embora as exportações russas de alimentos e fertilizantes formalmente não estejam proibidas, na prática são impedidas pelas sanções a pagamentos, à contratação de seguro de navios e ao ingresso em portos ocidentais.
Assim, a reconexão do banco agrícola estatal Rosselkhozbank ao sistema de pagamentos internacionais Swift, chegou a ser acordado na primeira fase da Iniciativa do Mar Negro em 2022, mas não foi cumprido, forçando Moscou a se retirar um ano depois.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que Moscou é a favor da retomada da Iniciativa do Mar Negro em uma forma “mais aceitável para todos”, mas para isso a Rússia precisa de “garantias claras” que só podem vir de uma ordem de Washington ao líder do regime de Kiev, Vladimir Zelensky.
Ele lembrou que no acordo anterior sobre o Mar Negro, só as as exportações ucranianas de grãos foram efetivadas, enquanto as cláusulas relativas à garantia das exportações de grãos e fertilizantes russos não saíram do papel.
Levando em conta tal histórico, “queríamos que não houvesse ambiguidade desta vez”, enfatizou Lavrov, que voltou a se dizer preocupado com “a segurança alimentar em países africanos e outros países do Sul e do Leste”.
“ELIMINAR AS CAUSAS PROFUNDAS DA CRISE”
Putin, no segundo telefonema com Trump desde a posse do presidente norte-americano, disse a este que, para uma paz duradoura, era preciso “eliminar causas profundas da crise” na Ucrânia. O que passa por respeitar os legítimos interesses de segurança russos e os direitos dos russos étnicos na Ucrânia.
A saber: restauração do status neutro da Ucrânia, sem bases estrangeiras e sem armas nucleares; nada de Otan. Restauração dos direitos [língua e religião] dos russos étnicos, que passaram a ser perseguidos desde o golpe da CIA em Kiev em 2014. Desmilitarização e desnazificação da Ucrânia.
Reconhecimento da reunificação do Donbass, Crimeia, Kherson e Zaporizhia com a pátria-mãe russa. Restauração da segurança coletiva e indivisível na Europa, com o retorno da Otan às linhas de 1997 e respeito ao compromisso de “nem 1 cm” de expansão a leste de quando da reunificação alemã.
Em abril de 2022, em Istambul, os principais pontos chegaram a ser acordados entre Kiev e Moscou , mas Zelensky rasgou o acordo, após ordem de Biden de continuar a guerra por procuração da Otan contra a Rússia na Ucrânia. A Rússia também reiterou que não aceitaria um “Minsk III”, uma referência a acordos deliberadamente sabotados para rearmar a Ucrânia.
A bem dizer, as raízes da atual crise remontam à decisão em 1999 do então presidente Bill Clinton de violar os acordos com a União Soviética e, depois, Rússia, anexando à Otan em 12 de março a Polônia, Hungria e República Checa, iniciando a marcha da Otan até as portas da Rússia, que não cessou desde então.
Aliás, 12 dias antes de Clinton bombardear a Iugoslávia para esquartejá-la e passar por cima da Carta da ONU.
A GUERRA DA OTAN
Em dezembro de 2021, Biden apostou na guerra, ao descartar os acordos propostos pela Rússia de restauração da segurança coletiva na Europa e fim da expansão da Otan. Em seguida, decretou as mais drásticas sanções já impostas a um país, destinadas a destruir economicamente a Rússia e derrubar Putin.
Na conferência de Munique de 2021, Zelensky anunciou que não iria mais cumprir os acordos de pacificação de Minsk e falou em ter armas nucleares. Os fiadores dos acordos de pacificação de Minsk, a premiê alemã Angela Merkel e o presidente francês François Hollande, confessaram que o real objetivo sempre foi rearmar o regime de Kiev.
Em abril de 2022, Biden vetou a paz Rússia-Ucrânia, que chegou a ser rubricada em Istambul, ordenando a Zelensky, por meio do então premiê britânico Boris Johnson, que foi pessoalmente a Kiev, que continuasse a guerra lhe garantindo armas e dinheiro.
Agora, no famoso bate-boca na Casa Branca, Trump disse ao presidente de prazo de validade vencido, Zelensky, que a guerra estava perdida e que ele “não tinha as cartas”.
Numa manifestação de sua disposição de não herdar a guerra de Biden e, de alguma forma, neutralizar a Rússia, para que Washington possa se concentrar no enfrentamento à China, cujos avanços na alta tecnologia e no desenvolvimento a cada dia surpreendem o mundo. Enquanto o declínio dos EUA é tão notório que até virou seu lema MAGA da campanha presidencial.