
Pequim condena a ‘jurisdição de braço longo’ dos EUA e adverte que tarifas adicionais só infligirão maiores perdas às empresas e consumidores dos EUA.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, afirmou na terça-feira (25) que o país “se opõe firmemente ao abuso de longo prazo dos EUA de sanções unilaterais ilegais e da chamada jurisdição de braço longo, que interfere grosseiramente nos assuntos internos de outras nações”, em resposta ao anúncio, por Trump, de 25% de tarifa adicional sobre os países que não se submeterem à sua proibição de importação de petróleo venezuelano.
Guo pediu que os Estados Unidos cessem a interferência nos assuntos internos da Venezuela, revoguem as sanções unilaterais ilegais contra o país e adotem medidas que promovam “paz, estabilidade e desenvolvimento na Venezuela e em outros países”.
“Não há vencedor na guerra comercial ou na guerra tarifária, e tarifas adicionais só infligirão maiores perdas às empresas e consumidores dos EUA”, declarou Guo durante coletiva de imprensa regular.
PRRESSÃO CONTRA A EXPORTAÇÃO VENEZUELANA DE PETRÓLEO
Trump disse em 24 de março que imporá tarifas de 25% a qualquer país que comprar petróleo da Venezuela , acusando o país sul-americano de ser hostil aos Estados Unidos e supostamente enviar criminosos intencionalmente para seu território.
“A Venezuela tem sido muito hostil aos Estados Unidos e às liberdades que defendemos. Portanto, qualquer país que compre petróleo e/ou gás da Venezuela será forçado a pagar uma tarifa de 25% aos Estados Unidos em qualquer comércio que fizer com nosso país”, escreveu o presidente em um post no Truth Social.
Na verdade, Trump requentou a fake news do “Tren de Aragua”, uma suposta gangue venezuelana que em sua campanha ele asseverou que tinha tomado o controle de uma cidade do Colorado, para deportar ilegalmente mais de duas centenas de imigrantes ilegais para El Salvador, sobre os quais as únicas certezas que se tem são de que têm tatuagens e que foram deportados apesar de ordem judicial contrária.
A proibição de Trump – e o tarifaço – entrará em vigor em uma semana, mas de acordo com a Reuters já estaria paralisando o comércio de petróleo da Venezuela com seu principal comprador, a China. Há dez dias, Washington sancionou três entidades que comercializam petróleo iraniano na China e bloqueou três embarcações para seu uso no comércio do petróleo.
Segundo a Reuters, a China é o maior comprador de petróleo da Venezuela, recebendo direta e indiretamente 503.000 barris por dia de petróleo bruto e combustível venezuelanos, ou 55% de suas exportações, a maioria das quais são renomeadas como malaias após o transbordo. Os principais compradores são as chamadas refinarias independentes chinesas.
Pelo jeito, o fornecimento de petróleo “malaio” irá aumentar proximamente.
TIRO NO PÉ
Em outra frente da guerra tarifária, as pesadas taxas propostas pelo governo dos EUA sobre visitas de navios ligados à China aos portos americanos atraíram forte reação de indústrias relevantes dos EUA, com relatos de impactos negativos e alertas sobre graves consequências à audiência pública realizada pelo escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) na segunda-feira (24).
“Uma grande taxa sobre os navios que fazem escala nos portos dos EUA aumentará o preço do transporte marítimo e será repassada das transportadoras marítimas para os proprietários de carga e, portanto, para os consumidores”, disse Cary Davis, presidente e CEO da Associação Americana de Autoridades Portuárias.
Gao Lingyun, especialista da Academia Chinesa de Ciências Sociais em Pequim, disse que a forte reação das indústrias americanas mostra que a política do governo dos EUA acabará resultando em empresas e consumidores americanos pagando preços mais altos. “Os EUA estão essencialmente levantando uma pedra apenas para deixá-la cair sobre o próprio pé”, disse Gao ao Global Times.
Preocupações análogas foram levantadas por representantes de outros setores exportadores dos EUA, como o da soja. “Se esta proposta entrar em vigor, a soja dos EUA será efetivamente excluída de nossos mercados globais de exportação”, disse Mike Koehne, produtor de soja de Indiana e diretor da American Soybean Association.
“Esta ação vai frear a produção de petróleo e gás, pois as taxas são onerosas e tornam os EUA imediatamente não competitivos”, afirmou a Enterprise Products Partners, uma empresa de infraestrutura de energia com sede em Houston, em um documento enviado ao USTR.
A empresa também citou Lars Jensen, CEO da Vespucci Maritime, especialista em transporte, dizendo que “se a intenção é aumentar drasticamente os custos para os importadores dos EUA e tornar as exportações dos EUA não competitivas, esta proposta provavelmente funcionará”.