
“O neoliberalismo não admite discussão. Não é uma ciência, é um conjunto de dogmas. Não importa se não deu certo em lugar nenhum. Não importa se nos países dependentes só provocou fome, desemprego, desindustrialização e só beneficiou a especulação financeira e os monopólios”, afirmou o organizador do livro “Produção versus Rentismo”, lançado durante o evento
O auditório do Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro, ficou pequeno no lançamento do livro “Produção versus Rentismo – Trabalhadores e empresários pela reindustrialização do Brasil”, organizado por Carlos Pereira, redator especial da Hora do Povo e membro do Comitê Central do PCdoB, publicado pela Editora Página 8.
O livro, fruto do Seminário Nacional pela Reindustrialização do Brasil, realizado na sede da CTB, em junho de 2024, como afirmou Pereira em sua intervenção, é uma coletânea de entrevistas e artigos com lideranças empresariais, trabalhistas e da academia “sobre a urgência de um projeto de desenvolvimento nacional, com bases, principalmente, em empresas nacionais, no mercado interno e no Estado, inspirado no pensamento de Barbosa Lima Sobrinho: ‘capital se faz em casa’”.

A construção de um projeto de desenvolvimento para o país deu a tônica nos diversos pronunciamentos da noite, aberto pelo anfitrião da Casa, o vice-presidente do Clube de Engenharia, Fernando Peregrino, que agradeceu pela escolha do local para o lançamento do livro, já que a entidade “comunga” da posição defendida pelo autor, “contra o rentismo parasitário, contra a destruição da base econômica do país, suas indústrias, a privatização das estatais”.
O ato foi mediado pela líder metalúrgica e diretora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Raimunda Leone, que deu a palavra a Carlos Pereira para que fizesse a sua apresentação. Bastante emocionado pela presença das lideranças e personalidades, e também de velhos e novos companheiros de militância, familiares e amigos de longa data, Pereira afirmou que a publicação “tem a pretensão de promover na sociedade a ideia de um pacto nacional pela reindustrialização do Brasil, e de reacender as raízes do pensamento desenvolvimentista, destoante da mesmice do chamado neoliberalismo”.
“O neoliberalismo não admite discussão. É porquê é, e pronto! Não é uma ciência, é um conjunto de dogmas. Estado mínimo, câmbio livre, metas inflacionárias subestimadas, privatização selvagem, juros nas nuvens, superávit primário, etc. Não importa se não deu certo em lugar nenhum. Não importa se nos países dependentes só provocou fome, desemprego, desindustrialização e só beneficiou a especulação financeira e os monopólios”, afirmou.

Denise Gentil, Carlos Pereira, Fernando Peregrino, Adilson Araújo e Paulo Kliass. (Conceição Cassano)
Pereira prosseguiu fazendo um histórico das diversas fases de desenvolvimento do país e finalizou afirmando: “Ou retomamos nossa caminhada, ou o Brasil deixará de ser uma nação. A situação está no limite”.
Ele denunciou que “o preço da dívida pública, ou seja, foram pagos ao rentismo pelo Tesouro, em 2024, quase um trilhão de reais. Mais do que o dobro do Orçamento da Saúde, Educação e do Bolsa Família somados. Os bancos se locupletaram com mais de 100 bilhões de lucro no último ano. Só não vê quem não quer. Esse é o nosso dilema: ‘Produção versus Rentismo’”, pontuou.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), impossibilitada de sair de Brasília, enviou um vídeo no qual parabeniza Carlos Pereira pela “obra tão importante”, que defende “um projeto de desenvolvimento, com indústrias, com trabalho, em confronto com o que faz o sistema financeiro”. “Temos que enfrentar os juros altos, fortalecer o trabalho, e também a ciência e a tecnologia no desenvolvimento da indústria nacional”, disse a deputada.
Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), salientou que os trabalhadores são os mais interessados nesse debate e nessa luta. “A classe trabalhadora é a que mais se beneficia com a industrialização do país e há muitos pontos em comum entre a pauta trabalhadora e o empresariado nacional, porque interessa à classe trabalhadora um mercado produtivo”.
Para a professora da UFRJ, a economista Denise Gentil, o livro é “obra fundamental, um chamado ao desenvolvimento, e se alinha na luta pelas grandes transformações que este país está precisando”.

O doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal, Paulo Kliass, ressaltou que a frase “sem indústria não há nação”, contida na introdução da obra de Pereira, “é uma espécie de síntese” do que vivemos no momento atual e que, “ajuste fiscal”, “corte de gastos públicos”, a busca por “zerar o déficit primário” são “objetivos a serem enfrentados e derrotados”.

Outro convidado que também enviou um vídeo de felicitação, o geólogo e ex-diretor da Petrobrás Guilherme Estrella falou da importância de obras como o livro de Pereira, que “retoma a discussão de um projeto de desenvolvimento para que nossas riquezas retornem ao país e ao povo brasileiro”.
Para o presidente da CTB-RJ, Paulo Sérgio Farias (o Paulinho), “Lula precisa ouvir essas vozes contra essa política rentista”. “Não podemos mais permitir nossas riquezas, nossas estatais, sendo sequestradas pelo rentismo”, afirmou.

De acordo com João Batista Lemos, da direção nacional do PCdoB e secretário estadual sindical do partido no Rio, Pereira “acertou na mosca”. Segundo Batista, aquele encontro estava sendo “muito mais do que o lançamento de um livro, mas uma reflexão sobre a industrialização do país, o pacto necessário entre os setores produtivos e os trabalhadores”. Para ele, “o arcabouço fiscal está cavando a cova de 2026” para o governo federal.
O Presidente Estadual do PCdoB-RJ, Daniel Iliescu, saudou o lançamento da “importante obra e seu autor” e reafirmou sua convicção da necessidade da Frente Ampla.

Irapuan Santos, membro do Comitê Central do PCdoB, destacou o pensamento do escritor e filósofo Álvaro Vieira Pinto, mencionando que “para o sucesso do nacional desenvolvimentismo é indispensável desenvolver no seio do povo a ideologia do desenvolvimento”.
Conforme Irapuan, “temos que levar ao povo que o dinheiro que sobra aos rentistas é aquele que falta ao desenvolvimento, que falta no alimento da sua mesa, na escola para o seu filho, na saúde”.
“O Pereira, quando produziu esse livro unindo a segunda maior central de trabalhadores do Brasil, que é a CTB, os trabalhadores, a cabeça do empresariado nacional, está nos mostrando que este caminho é possível”.
Segundo Irapuan, “não podemos nos colocar como se estivéssemos há 3, 4 anos atrás. Demos um passo ao derrotar o fascismo e agora é hora de consolidar este avanço. A luta é política. Temos que fazer com que esse governo avance”, disse.
A metalúrgica e dirigente sindical Raimunda Leone ressaltou que “esse debate de reindustrialização está na ordem do dia” e que, “como trabalhadora e metalúrgica, sabe disso como ninguém”. Ela lembrou, no caso específico do Rio de Janeiro, da necessidade de alavancar a “indústria naval” e da importância de fortalecer o projeto do governo federal nesse sentido. “Indústria naval como âncora do desenvolvimento do estado e do país”, disse.
O metalúrgico Ubiraci Dantas (Bira), vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e dirigente nacional do PCdoB, afirmou que “é preciso ampliar iniciativas como essa, e que “é preciso dar um sacode nesse governo, porque não é mais possível esse ajuste fiscal”.

O encontro contou ainda com as presenças do presidente do CREA-RJ, Miguel Fernandez, e do 1º vice-presidente da entidade, Alberto Balassiano; do ex-presidente do Clube de Engenharia e atual presidente da Confederação Nacional de Tecnologia da Informação e Comunicação (Contic), Márcio Girão; do presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (RJ), Marcos Sant’aguida; de dirigentes de sindicatos de trabalhadores portuários, metalúrgicos, servidores do Banco Central e SindPD/MG; do vice-presidente da FIOCRUZ, Hermano Castro; do assessor da diretoria da FINEP, Jorge Venâncio, e Carlos Henrique Miranda, assessor da deputada Jandira Feghali, entre outros.
ANA LÚCIA
A seguir, a íntegra do debate.