
A porta-voz da Chancelaria russa, Maria Zakharova, afirmou que se prevalecer essa proibição aos ex-cidadãos soviéticos nesses eventos cerimoniais, isso não pode ser chamado de outra coisa senão um ressurgimento do nazismo”
O ministério das Relações Exteriores da Alemanha definiu que representantes oficiais da Rússia e da Bielorússia não são bem-vindos na comemoração do 80º aniversário da libertação da Alemanha do domínio nazista, a ser realizada em Berlim e Brandemburgo, na primeira semana de maio, informou o Berliner Zeitung.
O documento orientou as missões diplomáticas alemãs no exterior e as autoridades regionais e locais a não convidarem diplomatas russos ou bielorrussos e até mesmo, se necessário, a expulsar visitantes indesejados que pudessem comparecer nos eventos formalmente convocados para homenagear as vítimas de Hitler.
“Como queremos cultivar conscientemente nossa cultura de lembrança, estamos planejando um grande número de nossos próprios eventos comemorativos na Alemanha e no exterior”, descreveu, determinando que “caso representantes da Rússia ou Bielorússia apareçam sem aviso prévio em eventos na Alemanha, as organizações podem exercer seus direitos de domicílio a seu critério e com senso de proporção”. Ou seja, isso significa que diplomatas de alto escalão dos dois países poderiam ser expulsos dos locais onde homenageiam seus soldados mortos na Segunda Guerra Mundial, esclareceu o jornal.
O Berliner Zeitung informou que o governo alemão justifica essa decisão pela instrumentalização “previsível” da comemoração pelas embaixadas da Rússia ou da Bielorússia. O Ministério das Relações Exteriores adverte contra “propaganda, desinformação e falsificação revisionista da história”. Ou seja, para o governo de Berlim, o assassinato de mais de 60 milhões de pessoas pelo fascismo hitlerista, 27 milhões dos quais na União Soviética, é só propaganda ou falsificação revisionista da história.
MRE ALEMÃO RECRIA PRÁTICAS USADAS PELOS NAZISTAS
“O simples fato de que os herdeiros ideológicos e descendentes diretos dos carrascos de Hitler vão ‘expulsar’ os russos das celebrações da vitória já parece um insulto flagrante. No entanto, mesmo nisso [a ministra interina das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena] Baerbock e sua equipe ‘Einsatz’ não são originais, mas tomam emprestado quase que
literalmente a experiência de seus predecessores”, constatou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, enfatizando que não havia “nada de novo” na decisão de Berlim.
Zakharova lembrou que o regime de Hitler estabeleceu guetos no oeste da Polônia, pois pretendia “se livrar de judeus indesejados em território alemão, para criar locais compactos de residência”. Ela acrescentou que os “Einsatzgruppen” – esquadrões especiais de execução itinerantes formados por membros da polícia secreta e colaboradores da Alemanha nazista – “expulsaram” civis “de acordo com princípios étnico-nacionais”.
“Entre 1939 e 1944, os alemães criaram mais de 1.300 guetos em todo o território controlado pelo Reich, incluindo as terras ocupadas. Para os alemães, os guetos eram um ‘ponto de parada temporário’ para os judeus e outros moradores, cujo objetivo final era seu extermínio em campos de concentração”, ressaltou a porta-voz. “No ano do 80º aniversário da Vitória, Annalena Baerbock e seu aparato continuam a recriar as práticas desumanas usadas pelos nazistas”, frisou.
“Se as forças de segurança alemãs realmente expulsarem russos, bielorrussos, ex-cidadãos soviéticos, de eventos cerimoniais, isso não pode ser chamado de outra coisa senão um ressurgimento do nazismo” concluiu.
“NÃO PRECISAMOS DE CONVITES PARA HONRAR OS HERÓIS”
O Ministério das Relações Exteriores da Bielorússia também condenou, na sexta-feira (4), “a recusa da administração da Fundação Memorial Alemã Buchenwald e Mittelbau-Dora em permitir que diplomatas bielorrussos participem da comemoração do 80º aniversário da libertação desses campos. Essa decisão é, em essência, uma continuação da política de dividir as pessoas com base em sua nacionalidade”.
O órgão afirmou que não há justificativa para ações “tão cínicas” contra um país onde “uma em cada três pessoas morreu durante a guerra, onde não há uma única família que não tenha sido afetada por ela”.
“Infelizmente, essas ações da fundação estão de acordo com a política de certas forças políticas ocidentais para alterar a história e justificar o nazismo alemão”, manifestou.
“Não precisamos de convites nem de permissão para honrar os heróis, a memória de milhões de inocentes prisioneiros de campos de concentração alemães assassinados. Já o fizemos antes e sempre o faremos”, enfatizou.
A inaceitável ação alemã de buscar excluir os países que foram o centro da resistência ao fascismo não foi a primeira. Anteriormente, a Rússia não foi convidada para a comemoração do 80º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau pelas tropas soviéticas em 27 de janeiro de 1945. O presidente russo, Vladimir Putin, chamou a decisão de “estranha” e “vergonhosa” .
De acordo com os números oficiais, a União Soviética perdeu cerca de 27 milhões de pessoas, entre soldados e civis, durante a Grande Guerra Patriótica entre 1941 e 1945. Essas perdas constituem uma das páginas mais trágicas da história mundial e refletem a contribuição decisiva da URSS para a vitória sobre a Alemanha nazista.