
Investigação da Polícia Federal mira desvio de dinheiro de emendas parlamentares. Os alvos são empresários e políticos. Esquema teria movimentado R$ 1,4 bilhão
A Polícia Federal identificou mais de 100 codinomes listados em planilhas apreendidas pela Operação Overclean, que apura esquema de desvio de dinheiro de emendas parlamentares.
Segundo a PF, essas pessoas “estão envolvidas nos crimes em investigação”. Entre os alvos estão empresários, políticos e servidores públicos que atuara no direcionamento de licitações para garantir o desvio de dinheiro público.
De acordo com a PF e a CGU (Controladoria-Geral da União), o esquema de fraudes em contratos e superfaturamento de obras movimentou R$ 1,4 bilhão.
As investigações apontam que o esquema criminoso atingiu principalmente o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), especialmente a Cest-BA (Coordenadoria Estadual da Bahia), além de outros órgãos públicos que contavam com o apoio operacional da organização criminosa nas localidades afetadas.
NÚCLEOS
A PF apontou ao Supremo Tribunal Federal que identificou pelo menos 3 núcleos envolvidos no esquema: central, operacional e apoio informal.
A liderança, afirmou a PF, seria dos empresários José Marcos Moura, o chamado “Rei do Lixo”, Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, donos da Allpha Pavimentações e Serviços de Construções.
A defesa de Alex e Fábio Parente informa que “todos os fatos serão oportunamente esclarecidos perante as autoridades competentes”. A defesa de Moura ainda não se manifestou.
Os investigadores dizem que Moura seria o articulador político e operador de influência do grupo.
MOVIMENTAÇÕES SUSPEITAS
Relatório de Inteligência Financeira emitido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) aponta que diversos investigados na Operação Overclean apresentaram movimentações suspeitas entre 2017 e 2023. José Marcos Moura movimentou R$ 80,2 milhões em operações suspeitas.
O Coaf registrou ainda que uma das empresas de Moura, a MM Limpeza Urbana, “apresentou movimentações de R$ 435.000,00 com uma autoridade com prerrogativa de foro no Superior Tribunal de Justiça ou no Supremo Tribunal Federal, sem justificativa econômica aparente”. Não há detalhes sobre quem seria essa autoridade com foro.
SALVADOR E BELO HORIZONTE
Diálogos encontrados pelos investigadores no celular de Flávio Pimenta, então diretor administrativo da Secretaria de Educação de Salvador (BA), também mostram que Bruno Oitaven Barral “atuava para beneficiar a Larclean Saúde Ambiental em certames da Secretaria de Educação de Salvador”.
Barral é ex-secretário de Educação de Salvador. Segundo a PF, a renovação contratual também foi fraudada para garantir a manutenção da Larclean como contratada por ao menos 6 anos.
Após deixar o cargo em Salvador, Barral se tornou o secretário da pasta em Belo Horizonte. No novo posto, ele foi alvo da PF na terceira fase da Overclean, deflagrada na semana passada. Após a operação, ele foi exonerado do cargo.
Ao STF, a PF indicou “possível interferência da organização na Prefeitura de Belo Horizonte”.
INDICAÇÕES PARA SECRETARIAS
A partir de celular apreendido, os investigadores apontam que o rei do lixo negociou diretamente indicações para as secretarias da prefeitura de BH.
A PF afirma que houve oferta das secretarias de Combate à Fome e de Mobilidade Social, mas Marcos Moura pediu para ficar também com a Secretaria de Educação.
A PF apontou ainda que o núcleo operacional seria formado por pessoas de confiança dos empresários que ficavam responsáveis pelo apoio logístico. Também atuavam no esquema de lavagem de dinheiro desviado.
O núcleo de apoio informacional seria formado pelo agente da PF Rogério Magno Almeida Medeiros. Ele é apontado como informante do grupo, e levava os alvos a destruir provas, avaliar a venda de relógios de luxo, modelo Rolex, e movimentar recursos antes do bloqueio da Justiça.
OPERAÇÃO OVERCLEAN
A Operação Overclean foi deflagrada, pela primeira vez, dia 10 de dezembro de 2024. A operação é parceria entre a PF e a CGU.
Dentre os objetivos da operação está desbaratar organização criminosa, investigar fraudes em licitações, desvios de recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro.
São alvos da operação, empresas e indivíduos ligados às prefeituras baianas. E também o empresário José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”
FASES DA OPERAÇÃO
A primeira fase investigou o direcionamento de recursos públicos para empresas e indivíduos ligados às prefeituras baianas. A segunda fase foi deflagrada em 23 de dezembro de 2024. A terceira fase foi deflagrada em 3 de abril de 2025.
Todas as investigações têm o apoio da Receita Federal.