Após os Estados Unidos desestabilizarem Honduras com a imposição de governos ditatoriais, submissos aos seus ditames, o presidente Donald Trump tenta deter a marcha de mais de 7 mil imigrantes que marcham movidos pelo desespero, denunciou Oscar Chacón, diretor executivo da Aliança Américas.
Dirigente da rede de organizações de imigrantes latino-americanos e caribenhos que vivem nos EUA, Chacón acredita que o que está se passando “é o resultado final de uma série de erros tomados pelo governo estadunidense, não apenas o apoio a uma eleição ilegítima em novembro passado, mas também, lembre-se, a um golpe em 2009 contra o presidente Manuel Zelaya. Um golpe que foi justificado e apoiado pelo governo dos EUA”. “Então, de muitas formas, o que estamos vendo é a conseqüência lógica de todos esses equívocos que a política externa dos EUA tem tomado na região por muitos, muitos e muitos anos”, assinalou.
Em entrevista ao Democracy Now, Chacón contestou a declaração de Trump de que iria “cortar a ajuda” a Honduras, Guatemala e El Salvador, caso seus governos não detivessem o avanço da imigração, que cresce com a pauperização. “Em primeiro lugar, acho que é importante entender que a ajuda externa dos EUA não é o que a maioria dos americanos gosta de pensar que é. Muitas vezes é como um bumerangue, você coloca dinheiro nominalmente no exterior, que é usado essencialmente para comprar mercadorias ou serviços dos próprios EUA”, esclareceu. E frisou: “no caso da América Central, especificamente, nos últimos quatro ou cinco anos, que mostram um aumento do montante nominal da ajuda externa dos EUA, foi principalmente destinado à defesa e à segurança”.
Imigrante hondurenha e dirigente do Centro Presente em Boston, Patricia Montes reforçou a denúncia “do papel dos EUA na crise que Honduras vem enfrentando há muito tempo”. “Há dois momentos particulares na história nos últimos 10 anos: o golpe de Estado contra Zelaya e, claro, a recente reeleição inconstitucional de Juan Orlando Hernández, que aumentaram a instabilidade política e econômica do país”, sublinhou.
De acordo com Patricia Montes, “o que estamos vendo agora é o resultado desta política”. “As pessoas estão saindo porque não têm alternativas. Não se trata de procurar melhores oportunidades; é sobre buscar sobreviver. E Honduras tem um problema endêmico de corrupção e impunidade. O povo hondurenho não confia nessas instituições públicas. Precisamos ver mudanças fundamentais”, acrescentou.
Sobre as ameaças de corte da suposta “ajuda”, ela também contesta: “a maior parte da ajuda que vai a Honduras é para militarizar o país, militarizar nossa sociedade, armar a repressão contra a população. E essa não é a resposta. Essa não é a solução”.