
“Se nós tivéssemos que dar um título ao Francisco, seria: Francisco, o misericordioso. Isso é o que marca o papa Francisco”, disse o padre
O padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho à frente da Pastoral do Povo de Rua, expressou profunda tristeza nesta segunda-feira (21) ao comentar a morte do papa Francisco, aos 88 anos. Em entrevista à GloboNews, o religioso destacou o legado de misericórdia e compaixão deixado pelo pontífice, reforçando seu compromisso com os mais vulneráveis.
Lancellotti definiu o papa como um símbolo de amor incondicional, especialmente para os marginalizados.
“Se nós tivéssemos que dar um título ao Francisco, seria: Francisco, o misericordioso. Isso é o que marca o papa Francisco. O amor aos pobres, aos imigrantes, aos refugiados, aos grupos rejeitados, à comunidade LGBT, às pessoas em situação de rua. Ele é o grande sinal do amor de Deus”, afirmou o padre.
O padre também lembrou a simplicidade da vida do Papa Francisco antes de se tornar líder da Igreja Católica.
“Era alguém muito despojado, nunca viveu de honra e de glória, de poder. Sempre viveu de serviço, de proximidade. Francisco é o despojado, o misericordioso, o amigo dos pobres. Nós tivemos o Francisco de Assis, agora temos o Francisco de Roma”, disse.
TELEFONEMA
Lancellotti relembrou um momento marcante de sua trajetória: em outubro de 2020, durante a pandemia de Covid-19, recebeu uma ligação surpresa do próprio papa.
“Eu não sabia que era ele. Na conversa, fui percebendo, até que ele disse: ‘Sou o papa Francisco’. Eu respondi: ‘Santidade!’. E ele continuou: ‘Eu sei tudo o que acontece com você, acompanho de perto. Continue assim, junto dos pobres’”, relatou.
Francisco demonstrou preocupação com os moradores de rua no Brasil, incentivando o padre a manter seu trabalho. “[Ele] disse que não desanimássemos, que tivéssemos coragem e fizéssemos como Jesus fazia. Temos que viver com solidariedade, atenção aos mais fracos. Isso precisa ser uma tônica para mudar as estruturas da vida”, destacou Lancellotti.
AMEAÇAS
O padre também mencionou as ameaças que sofreu em 2020, incluindo intimidações de policiais e um motoqueiro agressivo enquanto atendia pessoas em situação de rua no Centro de São Paulo. Mesmo diante das adversidades, Lancellotti manteve sua missão, inspirado pelo exemplo do papa.
Questionado sobre o próximo líder da Igreja Católica, o religioso foi enfático: “Precisamos continuar esse caminho em direção aos pobres, aos doentes, aos moradores de rua, aos despojados. O mundo todo olha para Roma na expectativa de que o espírito de Francisco, iluminado pelo Espírito Santo, siga o caminho do amor”.
Mesmo abalado pela notícia da morte do pontífice, Lancellotti reforçou que a melhor homenagem a Francisco é seguir trabalhando.
“Hoje, apesar do impacto, estamos fazendo o que fazemos todos os dias. Isso é uma homenagem ao papa”, concluiu.
O papa Francisco deixa um legado que transcende a religião, marcado por gestos concretos de acolhimento e defesa dos excluídos. Sua morte mobiliza fiéis e admiradores em todo o mundo, enquanto seu exemplo continua a inspirar ações como as do padre Júlio Lancellotti e da Pastoral do Povo de Rua.