
Na viagem a Belém e Jerusalém o Papa Francisco parou para fotografia ao lado de inscrição pela “Palestina Livre”, pichada no muro da segregação uma separação em concreto que chega a 12 metros de altura e se estende por 760 quilômetros
O muro que separa Israel da Cisjordânia palestina foi cenário para foto do Papa Francisco em sua ida a Belém quando, em 2014, parou para se deixar fotografar ao lado da inscrição “Free Palestine” (“Palestina Livre”).
O denominado “Muro da Segregação”, que confina em cerco a Cisjordânia palestina, se estende por 760 qulômetros e tem a altura de 8 a 12 metros. O Muro acabou se tornando um espaço priviligiado para uma arte plástica palestina de combate contra o cerco, a usurpação e o extermínio do povo palestino.
Em dezembro de 2018 o Papa recebeu o presidente palestino, Mahmud Abbas, no Vaticano quando reforçou o apoio à “Solução dos Dois Estados”, com o reconhecimento pleno do Estado da Palestina, enfatizando que “Jerusalém deve ser a terra da paz e não do conflito entre os que professam as religiões abrâmicas”.
Segue um resumo de destacados momentos da jornada do Papa em seu pontificado:
“E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo”, foram as primeiras palavras pronunciadas por Francisco da Sacada Central da Basílica de São Pedro, no final da noite de 13 de março de 2013, recém-eleito Papa por seus irmãos cardeais, quando pediu uma bênção para uma multidão que lotava a Praça São Pedro há um mês, sob os refletores após a renúncia de Bento XVI.
“Com o povo, quis recitar uma Ave Maria, tropeçando em um italiano que até então não havia praticado assiduamente, dadas as raras visitas do pastor de Buenos Aires a Roma, pronto para fazer as malas imediatamente após o Conclave. E ao povo, no dia seguinte, ele quis prestar sua homenagem íntima, dirigindo-se à paróquia de Santa Ana no Vaticano e depois à Basílica de Santa Maria Maior, agradecendo à Salus Populi Romani, protetora de seu pontificado, a quem ele continuou a prestar homenagem em todos os momentos mais fortes. E exatamente nessa Basílica, Francisco expressou seu desejo de ser enterrado” afirma o Vatican News, em matéria desta segunda-feira (21), sobre o pontificado.
O fato de Francisco, o papa que “os cardeais foram buscar ao fim do mundo”, como ele próprio afirmou referindo-se à época em que era o cardeal Jorge Bergoglio na Argentina, ter sido o primeiro em muitas questões tem vindo à tona de forma incisiva no momento em que sua partida toca a população do mundo inteiro.
“Primeiro Papa jesuíta, primeiro Papa originário da América Latina, primeiro a escolher o nome Francisco sem um numeral, primeiro a ser eleito com seu antecessor ainda vivo, primeiro a residir fora do Palácio Apostólico, primeiro a visitar terras nunca antes tocadas por um pontífice – do Iraque à Córsega -, primeiro a assinar uma Declaração de Fraternidade com uma das autoridades islâmicas mais importantes, primeiro a atribuir funções de responsabilidade a mulheres e leigos na Cúria, a lançar um Sínodo que envolvia diretamente o povo de Deus, a abolir o segredo pontifício para casos de abuso sexual e a remover a pena de morte do Catecismo”, detalha.
“O primeiro também, a liderar a Igreja enquanto no mundo não há ‘a’ guerra, mas muitas guerras, pequenas e grandes, travadas ‘em pedaços’ nos diferentes continentes. Uma guerra que ‘é sempre uma derrota’, como repetiu nos mais de 300 apelos, mesmo quando sua voz falhava, e que ocuparam todos os últimos pronunciamentos públicos”, aponta o artigo.
FRANCISCO REALIZOU 47 PEREGRINAÇÕES INTERNACIONAIS
O Pontífice argentino realizou quarenta e sete peregrinações internacionais, feitas com base em eventos, convites de autoridades, missões a serem realizadas ou algum ‘movimento’ interno, como ele mesmo revelou no voo de volta do Iraque. “Sim, exatamente o Iraque: três dias em março de 2021 entre Bagdá, Ur, Erbil, Mosul e Qaraqosh, terras e vilarejos com cicatrizes ainda evidentes da guerra, com sangue nas paredes e tendas de pessoas deslocadas ao longo das estradas, em meio à pandemia da Covid e preocupações gerais com a segurança. Uma viagem desaconselhada por muitos por causa da saúde e do risco de atentados; uma viagem desejada a todo custo. A ‘mais bela’ viagem, como o próprio Francisco sempre confidenciou, o primeiro Papa a pisar na terra de Abraão, onde João Paulo II não conseguiu ir, e a conversar com o líder xiita Al-Sistani”, aponta o Serviço de Comunicação da Santa Sé.
“NO BRASIL ME SINTO ACOLHIDO”
Em julho de 2013, Francisco escolheu o Brasil como seu primeiro destino internacional após assumir o pontificado. A cidade do Rio de Janeiro foi o local selecionado para receber o líder da Igreja Católica durante a 28ª Jornada Mundial da Juventude.
O papa visitou diversos pontos do Rio de Janeiro, como a Praia de Copacabana e a favela da Varginha. Em discurso na comunidade, ele destacou o acolhimento do povo brasileiro.
“Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração”, disse.
O pontífice também visitou o Hospital São Francisco de Assis, onde recordou a missão de São Francisco de Assis.
Com 76 anos na época, em entrevista a TV Globo Francisco falou brincando sobre a rivalidade futebolística entre Brasil e Argentina: “A rivalidade está totalmente superada. Negociamos bem. O Papa é Argentino e Deus é brasileiro”.
ÁFRICA, CUBA E ESTADOS UNIDOS
2015 o levou a Bangui, a capital da República Centro-Africana ferida por uma guerra civil que, nos mesmos dias da visita, deixou mortos pelas ruas. No país africano, onde disse que queria ir mesmo ao custo de saltar “de paraquedas”, Francisco abriu a Porta Santa do Jubileu da Misericórdia em uma cerimônia comovente em uma das regiões mais pobres do mundo.
“Também em 2015 aconteceu uma viagem a Cuba e aos Estados Unidos para selar o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países. Um evento histórico para o qual Francisco enviou cartas a Barack Obama e Raúl Castro, propondo ‘iniciar uma nova fase’”. Em Havana, houve também o encontro com o Patriarca Kirill e a assinatura de uma declaração conjunta para colocar em prática o “ecumenismo da caridade”, o compromisso dos cristãos para uma humanidade mais fraterna.
APOIO A REFUGIADOS E REPÚDIO ÀS TRAGÉDIAS MIGRATÓRIAS
Não se pode esquecer, percorrendo as viagens apostólicas e as visitas pastorais, a primeira viagem fora de Roma, à Lampedusa, onde perto daquela ilha, já tinham morrido mais de 300 migrantes, e o Papa quis prestar-lhes homenagem atirando coroas de flores ao Mar Mediterrâneo, que quase se tinha tornado, como ele próprio disse várias vezes, um ‘cemitério a céu aberto’. A denúncia também se repetiu na dupla viagem a Lesbos (2016 e 2021) nos contêineres e tendas de refugiados e pessoas deslocadas.
“Na história do pontificado, ficaram marcadas também a viagem à Terra Santa (2014); à Suécia, em Lund (2016) para as celebrações do 500º
aniversário da Reforma Luterana; ao Canadá (2022) com o pedido de perdão às populações indígenas pelos abusos sofridos por representantes da Igreja Católica. E, em seguida, na República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, em Juba (2023), esta última etapa compartilhada com o Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, e o Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, Ian Greenshields, para sublinhar a vontade ecumênica de curar as feridas de um povo. As mesmas que ele implorou que fossem curadas aos líderes sul-sudaneses, reunidos em 2019 para dois dias de retiro na Casa Santa Marta, concluídos com o gesto de beijar seus pés”, acrescenta do documento.
“Em setembro de 2024, aos 87 anos empreendeu a viagem mais longa do pontificado: Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste, Cingapura. Quinze dias, dois continentes, quatro fusos horários, 32.814 km percorridos de avião. Quatro universos diferentes, cada um representando os principais temas do Magistério: fraternidade e diálogo inter-religioso, periferias e emergência climática, reconciliação e fé, riqueza e desenvolvimento a serviço da pobreza”, registra o Vaticano.
DOCUMENTO SOBRE A FRATERNIDADE HUMANA
“Por último, mas não menos importante, entre as viagens, Abu Dhabi (2019) e o Documento sobre a Fraternidade Humana assinado em conjunto com o Grão Imame al-Tayeb, coroando o degelo com a universidade sunita de Al-Azhar que começou com um abraço na Casa Santa Marta e terminou com a assinatura de um texto que imediatamente se tornou a pedra angular do diálogo islâmico-cristão, também transposto para várias Constituições”, conclui.