A presidente da Generalitat, o parlamento catalão, Carme Forcadell, acatou a decisão do governo da Espanha que, no dia 28, destituiu o parlamento, suspendeu a autonomia da região e convocou eleições antecipadas para a região em 21 de dezembro, mas repudiou a “aplicação frontal do artigo 155”, que permite ao governo central, com aprovação do Senado, a suspensão da autonomia de regiões sediciosas.
O presidente da Catalunha, cuja independência durou poucas horas, Carles Puigdemont, acusado pelo governo de Mariano Rajoy de “sedição e rebelião”, apareceu em Bruxelas e disse que não queria pedir asilo político mas que só voltaria à Espanha sob “garantias judiciais”.
PARLAMENTO FECHADO
Não apenas Puigdemont, mas a mesa do Parlamento, pode ser indiciada por um delito que está previsto no Código Penal espanhol e que pode fazer os condenados pagarem com até 30 anos de prisão.
Na Espanha, são tradicionais os movimentos autonomistas principalmente no País Basco e na Catalunha, o país conseguiu uma unidade acordada após a ditadura franquista, mas o separatismo ganhou força depois da quebradeira de 2008, que baqueou a economia espanhola, e da posterior submissão aos ditames de arrocho impostos pela Troika (BC da Europa, União Europeia e FMI), que apesar das promessas de “recuperação com equilíbrio”, manteve a economia do país em depressão, oscilando em patamares de 70% a 75% do PIB de 2008, com um dos maiores índices de desemprego entre os países da Zona do Euro, acima de 20% de acordo com dados oficiais.
As atitudes dos dirigentes do separatismo catalão, bem como suas propostas e postura política mostram que estes não visualizam uma ruptura com o sistema opressor de povos europeus. Não consta no programa e intervenções dos separatismo nenhum tipo de protesto contra as medidas de Rajoy, longe disso, basta ver que o presidente de curta temporada catalão, ao promover entrevista coletiva da cidade onde se abrigou em fuga da prisão espanhola, Bruxelas, capital da União Europeia, pediu à mesma UE que centraliza a opressão econômica sobre os espanhóis em favor dos bancos e corporações norte-americanos e subsidiárias alemães, “faça algo” contra o regime espanhol que “só conhece a linguagem da força”. Além disso, as “garantias” que Puigdemont pediu são “nos marcos da União Europeia”.
Tudo mostra que ele quer seguir exercendo o capachismo que Rajoy já exerce, mas sem a intermediação do atual presidente da Espanha.
Aliás, o Senado levou 45 minutos para aprovar a aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola, por 214 votos a favor, 47 contra e uma abstenção.
Também, no domingo, houve a segunda onda de manifestações nas cidades catalãs contra a separação, nesta última, foram computados 300 mil nas ruas de Barcelona contra a separação. O que mostra que a ideia da independência da região divide o povo local, no referendo de 1º de outubro, apesar do apregoado na mídia de 90,9% a favor da separação, em um clima de violenta repressão policial, pouco mais de 40% compareceram às urnas.
Afinal, não se pode deixar de reconhecer o direito dos povos catalão e basco à autonomia, como de resto a todos os povos ou etnias em seus espaços territoriais, mas como, aliás, demonstraram as duas recentes manifestações pela unidade espanhola, grande parcela das populações destas regiões entendem que a separação não é boa para a Espanha, nem para a Catalunha. Fazer uma separação forjada a ferro e fogo, com tanques e caças norte-americanos atacando a capital do país, como fizeram na Iugoslávia, não interessa ao povo espanhol como um todo ou a qualquer de suas etnias.
NATHANIEL BRAIA