
Com imagens do Papa reproduzindo mensagens que proferiu ao longo da sua vida em apoio aos trabalhadores, manifestantes da CGT e das duas CTAs tomaram as ruas de Buenos Aires na véspera do 1º de Maio. Aposentados voltaram a ser reprimidos pela polícia
“Contra a demolição do Estado, somos saúde, educação e produção: Fora Milei!”, estampava a faixa de abertura do ato realizado em Buenos Aires nesta quarta-feira (30), levantada às vésperas das comemorações do 1º de Maio. Na oportunidade, milhares de trabalhadores ergueram imagens e ecoaram mensagens do Papa Francisco, sintetizada na palavra de ordem: “O trabalho é sagrado!”.
“A participação é muito positiva e reflete o descontentamento das pessoas”, afirmou Héctor Daer, um dos secretários-gerais da Confederação Geral do Trabalho (CGT), denunciando o vergonhoso congelamento dos acordos de negociação coletiva – que apequena as já miseráveis rendas – em meio ao completo descontrole de preços. “Não pode haver um plano econômico que reduza os salários e ao mesmo tempo libere os mercados”, condenou Daer, frisando que a CGT estava presente nas ruas junto com as duas CTAs (Centrais de Trabalhadores da Argentina) para exigir a reabertura de negociações, repudiar os ajustes com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e interromper as reformas trabalhistas de Javier Milei.
“Marchamos para dar voz e força às reivindicações dos trabalhadores e para erguer bem alto a nossa bandeira, que é a defesa do trabalho. Não somos indiferentes ao sofrimento do nosso povo. Queremos que nossos avós tenham uma vida digna e que nossos filhos possam sonhar com um país mais justo”, acrescentou o dirigente da Confederação Geral dos Trabalhadores.
Após a marcha, as três centrais sindicais receberam o governador da província de Buenos Aires e líder peronista Axel Kicillof, na sede da CGT.
“Nós temos condições de garantir que parem de continuar assaltando os nossos bolsos ou as riquezas da pátria”, afirmou o secretário-geral da Central dos Trabalhadores da Argentina – Autônoma (CTA-A), Hugo “Cachorro” Godoy, lembrando o exemplo do “Papa Francisco como um cidadão do mundo”, comprometido sobretudo com os mais necessitados.
“1º DE MAIO É COMEMORADO EM TODO MUNDO, MENOS EUA, ONDE OS CHEFES DE MILEI LHE DIZEM O QUE DEVE FAZER”
“Viemos exigir os direitos que a classe trabalhadora tem como sustentáculo fundamental da pátria, enquanto o governo busca destruir a fraternidade e a comunidade como pilares de uma sociedade melhor”, assinalou Godoy. O dirigente recordou que “o 1º de Maio é um dos dias comemorados em todo o mundo, exceto nos Estados Unidos, onde os chefes de Milei são os que estabelecem as condições do que ele deve fazer em benefício deles e contra os nossos interesses”.
Para o deputado federal e líder da CTA-T, Hugo Yasky, “é alarmante a queda na renda de aposentados e trabalhadores, assim como o fechamento de fábricas”. “Empresas estão fechando, e os trabalhadores que saem com suas indenizações acabam indo para a informalidade, sem falar na situação das donas de casa que não conseguem se sustentar”, alertou.
Yasky enfatizou que ao se levantar para a batalha, “a classe trabalhadora também homenageia o grande Papa Francisco, que fez da doutrina social e da justiça social uma bandeira da Igreja Católica e uma bandeira da humanidade, que nos falou sobre a nossa casa comum, abraçou causas nobres, acolheu os imigrantes, os mais fracos”.
Paralelamente à marcha das centrais, aposentados e pensionistas realizaram um novo protesto em frente ao Congresso contra o brutal achatamento nos seus míseros ganhos e os cortes no acesso a medicamentos. A resposta do governo foi imediata: uma violenta repressão que avançou com a Gendarmaria (Guarda Metropolitana) e a Polícia Federal contra um punhado de idosos.
Conforme apontam os institutos de pesquisa, a grande preocupação para a população é que o mês de maio começará com uma série de aumentos que desafiarão a criatividade de quem trabalha para aumentar suas rendas em um contexto de inflação crescente. A partir desta quinta-feira, haverá aumentos no transporte público, aluguéis e planos médicos pré-pagos, entre outros serviços.