
Em doze meses, gastos com bancos e demais rentistas em detrimento do desenvolvimento econômico atingem R$ 935 bilhões
O gasto do setor público (União, Estados/municípios e estatais) com o pagamento de juros somou R$ 935 bilhões (7,80% do PIB) no acumulado em doze meses até março deste ano, segundo o relatório de “Estatísticas Fiscais” do Banco Central (BC), divulgado nesta quarta-feira (30).
Só nos 31 dias de março deste ano, o governo torrou R$ 75,2 bilhões com o pagamento dos juros da dívida pública, que vem sendo alavancada pelo novo ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic) estabelecido pelo BC em setembro de 2024, época em que o nível da taxa estava em 10,5%. Hoje a Selic já se encontra em 14,25% ao ano.
Conforme o BC, o setor público registrou um superávit primário de R$ 3,6 bilhões em março, ante superávit de R$ 1,2 bilhão no mesmo mês de 2024, um valor decorrente do arrocho sobre as chamadas despesas primárias (recursos de áreas essenciais, como saúde, educação e investimentos públicos) do Estado.
Incluindo o resultado primário e os juros, o setor público foi deficitário em R$ 71,6 bilhões em março. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$ 948,5 bilhões (7,92% do PIB), ante déficit nominal de R$ 939,8 bilhões (7,91% do PIB) em fevereiro de 2025.
Nesta semana, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sinalizou que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deve novamente realizar um novo aumento da taxa básica de juros.
“Está valendo tudo o que foi colocado na comunicação anterior. Vamos colocar a taxa de juros no patamar que for restritivo o suficiente e no patamar necessário para cumprir a meta [de inflação]”, afirmou Galípolo, durante entrevista coletiva sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do segundo semestre de 2024.
Frente aos juros escorchantes do BC e aos cortes de investimentos públicos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) decidiu revisar para baixo a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025, de 2,4% para 2,3%. Se confirmada a projeção, essa seria a menor expansão da economia brasileira nos últimos cinco anos.
O diretor de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles, afirmou que a decisão de reduzir a projeção de crescimento do país para esse ano, se deu pela “desaceleração da economia”, que “está sendo mais forte do que a CNI esperava e porque o Banco Central dá sinais de que vai elevar ainda mais a taxa Selic”.
Conforme pesquisa realizada pela entidade, a demanda interna insuficiente foi o problema que mais cresceu para os empresários industriais no primeiro trimestre de 2025. “A alta demanda é o que sustenta a atividade industrial, porque impulsiona produção, emprego e investimentos. Quando o empresário percebe uma demanda menor, fica mais receoso em tomar essas decisões”, explica Azevedo.
A preocupação do empresariado industrial com o nível da Selic subiu de 25% para 27,1%, enquanto a demanda insuficiente cresceu 4,8 pontos percentuais, passando de 22,3% para 27,1%. Dessa forma, ambas ocupam a segunda colocação no ranking de problemas do setor. Em primeiro, está a alta carga tributária, que é uma reclamação histórica do setor.
ANTONIO ROSA