
Enquanto os países desenvolvidos produzem semicondutores, em direção à fronteira tecnológica, o Brasil produz carne, fumo e roupas
O saldo positivo de emprego com carteira assinada engana. Resultados menores que dos anos anteriores, puxados pelo setor de Serviços, escondem as dificuldades e a especialização regressiva da indústria brasileira.
Nesta quarta-feira (30/04), o Ministério do Trabalho divulgou os dados do mercado de trabalho para o primeiro trimestre de 2025, o conhecido Novo Caged (Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Os resultados otimistas à primeira vista, enganam: o saldo positivo de 71.576 empregos no final de março fica muito aquém do ano anterior (244.315) e é o pior resultado desde o primeiro trimestre de 2020, quando começava a pandemia de Covid-19.
De modo geral, o Caged mostra que o número de trabalhadores contratados foi superior ao de demitidos nos três primeiros meses de 2025, resultado de 2.234.662 admissões e de 2.163.086 desligamentos. Quanto à criação de novos postos de trabalho, foram criados 654.503 empregos com carteira assinada, valor 9,8% menor que o de 2024 e o menor desde 2023..
O setor de Serviços vem puxando a criação de vagas, com 362.866 postos formais de trabalho. Destaca-se a contribuição positiva de áreas como a administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde e serviços sociais, além das atividades de informação, comunicação e atividades financeiras e imobiliárias.
A Indústria apresenta resultados que iludem os mais desavisados. Foram criados mais de 150 mil novos empregos formais, entretanto, esse movimento foi puxado por setores de baixa especialização e complexidade, como o abate e fabricação de produtos de carne (14.517 vagas), processamento industrial do fumo (10.835) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (9.539).
Esses resultados abaixo de anos anteriores refletem os efeitos perversos do ciclo de alta da taxa de juros brasileiras, orquestrado por Campos Neto e mantido por Galípolo e sua trupe no Banco Central. O objetivo aberto de asfixiar a economia brasileira mostra seus resultados de forma ilusória e contraditória, e a especialização regressiva da nossa estrutura industrial desaponta. Enquanto os países desenvolvidos produzem semicondutores, em direção à fronteira tecnológica, o Brasil produz carne, fumo e roupas.
Para Luiz Marinho, ministro do Trabalho e Emprego, os resultados do mercado de trabalho são uma sinalização para o Banco Central considerar a redução da taxa básica de Juros (a Selic), que hoje está no nível estratosférico de 14,25% ao ano: “De repente isso deixa o povo do Banco Central feliz, quem sabe eles possam com isso tirar o pé do freio da contenção e liberar a economia para funcionar melhor. Está na hora de falar em parar de aumentar a taxa Selic e falar em reduzir a taxa Selic. Essa é a mensagem do mercado de trabalho”.
O erro do ministro, talvez por ingenuidade, seja esquecer que a meta explícita do Banco Central é dilacerar a economia brasileira com a Selic. No contexto em que estamos, todo e qualquer indicador positivo da economia implica em mais motivos para sustentar o ciclo de alta dos juros: faça chuva ou faça Sol, a resposta é aumentar a taxa de juros.
A desindustrialização e a carestia em curso no país seguem a plenos pulmões, enquanto isso, o Banco Central segue defendendo a necessidade de mais desemprego e menos consumo para “desancorar expectativas” e acalmar as “incertezas globais” dos investidores. Mesmo resultados aparentemente positivos evidenciam que a economia brasileira agoniza – ao menos a nossa parece estar agonizando com carne (nem tanto, com a inflação), fumo e bem vestida.
Parafraseando o conto do russo Tolstói, de quanto juros precisa o homem?
LUCAS MARÇAL