
A cantora Nana Caymmi, que morreu na quinta-feira (1º), aos 84 anos, e será enterrada hoje no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro – a despeito de suas posições políticas equivocadas, alinhadas com a extrema-direita, e polêmicas recentes, quando atacou colegas como Caetano Veloso e Chico Buarque –, foi, inegavelmente, uma das maiores artistas brasileiras.
Em um país repleto de grandes cantoras, como Elizeth Cardoso, Gal Costa, Maria Bethânia, Elis Regina, só para citar algumas, podemos dizer que Nana Caymmi figurava entre as primeiras.
Nascida em uma família de intérpretes magistrais, como o pai Dorival Caymmi, também um dos maiores compositores brasileiros, e os irmãos Danilo e Dori, além da mãe Stella Maris, que também era cantora, Nana se banhou nesse ambiente de enorme riqueza musical e logo mostrou seu talento. Em 1960 gravou sua primeira música, a canção de ninar “Acalanto”, composta pelo pai para ela, quando ainda era bebê. Os dois fizeram um dueto que saiu no LP de Dorival.
Ao longo da década de 60, sua carreira já se consolidava. Gravou seu primeiro disco pela gravadora Elenco, começou a se apresentar na TV Tupi no programa Sucessos Musicais e depois em outro programa com o irmão Dori, e, em 64, participou do disco que se tornaria um clássico da MPB, o “Caymmi visita Tom”, que junta toda a família – Caymmi, Nana, Dori e Danilo –, resultante em uma verdadeira preciosidade musical.
Ainda nos anos 60, venceu a fase nacional do I Festival Internacional da Canção no Maracanãzinho do Rio, interpretando “Saveiros”, de Dori Caymmi e Nelson Motta, e se apresentou ao lado do segundo marido, Gilberto Gil, no III Festival de Música Brasileira (TV Record), em 1967, com a canção de autoria dos dois, “Bom dia”.
Daí para frente continuou a encantar os ouvintes com suas interpretações poderosas, de voz no mesmo tom do pai e irmãos, mas extremamente feminina, cheia de sentimento e profundidade, colecionando prêmios, como o Troféu Villa-Lobos de Melhor Cantora do Ano, oferecido pela Associação Brasileira de Produtores de Discos, em 76, e apresentando-se ao lado dos maiores nomes da nossa música.
Seu timbre incomparável soou como ninguém, além do repertório de Caymmi, canções de todos os grandes compositores brasileiros, como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Milton nascimento, Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Fernando Brant, Paulo César Pinheiro. Sua interpretação de “Resposta ao tempo”, de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, assim como tantas outras canções, são algumas das mais belas páginas musicais de todos os tempos e lugar.
Seu último trabalho foi um álbum só com músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes lançado durante a pandemia, em 2020.
A nós, resta-nos ficar com seu canto e homenagear a beleza de sua arte que revela o melhor do Ser Humano.
ANA LUCIA