
Em Bogotá, o presidente colombiano resgatou o exemplo do libertador e destacou a necessidade de ampliar a pressão para garantir a aprovação do projeto que amplia direitos e enfrenta o neoliberalismo. Em Cali, Medellín, Barranquilla e mais de 200 cidades, imensas mobilizações marcaram o Primeiro de Maio
Gigantescas mobilizações em respaldo ao presidente Gustavo Petro tomaram Bogotá, Cali, Medellín, Barranquila e mais de 200 cidades colombianas neste Primeiro de Maio (quinta-feira), em apoio à reforma trabalhista apresentada pelas forças nacionais e rejeitada pela oligarquia ultraconservadora no Congresso.
Em Bogotá, Petro desembainhou a espada usada pelo libertador Simón Bolívar em sua guerra pela independência e emocionou a multidão ao enfatizar que, de acordo com a Constituição, “o povo é soberano” e não aceitará qualquer retrocessos. “A espada de Bolívar é que nos comanda e nos guia na luta pela liberdade. Liberdade ou morte, este povo volta a empunhar esta espada para que não o façam de idiota”, afirmou sob aplausos. E elevou o tom aos ataques histéricos da oposição que quer manter os trabalhadores como mera mão de obra, desqualificada e sem direitos sociais, num país rico, mas dependente.
O presidente reiterou que as imensas marchas realizadas de norte a sul naquela data expressavam o respaldo da sociedade à Reforma Trabalhista, proposta construída com o movimento sindical e os trabalhadores, e que agora será levada à plebiscito popular. O caminho a ser seguido, ressaltou, será definido pela Constituição que assinala: o povo precisa ser consultado. O mecanismo é uma forma de barrar a sabotagem a conquistas por parte de um dos poderes, como está sendo feito de forma descarada pelo legislativo.
Petro levou cada uma das doze questões bastante didáticas e simbólicas à apreciação dos homens e mulheres que tomaram a Praça Bolívar: “1. Você concorda que o trabalho diurno deve durar no máximo 8 horas e ser realizado entre as 6h e as 18h? 2. Você concorda que o trabalho aos domingos ou feriados deve ser pago com um acréscimo de 100%? 3. Você concorda que micro, pequenas e médias empresas produtivas, preferencialmente associativas, devem receber tarifas e incentivos preferenciais para seus projetos produtivos? 4. Você concorda que as pessoas devem ter as autorizações necessárias para tratamento médico e licença por períodos que causem incapacidade? 5. Você concorda que as empresas devem contratar pelo menos duas pessoas com deficiência para cada 100 funcionários? 6. Você concorda que os jovens aprendizes do Serviço Nacional de Aprendizagem (Sena) e instituições similares devem ter contratos de trabalho? 7. Você concorda que os trabalhadores em plataformas de entrega devem concordar sobre seu tipo de contrato e ter garantia de pagamentos de previdência social? 8. Você concorda com o estabelecimento de um regime trabalhista especial para que os empregadores agrícolas possam garantir direitos trabalhistas e salários justos aos trabalhadores agrícolas? 9. Você concorda em eliminar a terceirização e a intermediação de mão de obra mediante contratos sindicais que violam direitos trabalhistas? 10. Você concorda que trabalhadoras domésticas, mães comunitárias, jornalistas, atletas, artistas, motoristas e outros trabalhadores informais devem ser formalizados ou ter acesso à previdência social? 11. Você concorda em promover a estabilidade no emprego por meio de contratos por tempo indeterminado como regra geral? 12. Você concorda com a criação de um fundo especial para o reconhecimento de um bônus previdenciário para agricultores?”.
Feliz com a reação, reiterou a convicção de que será mobilizado o país e alcaçado os milhões de votos necessários para o Sim. “O povo colombiano está dizendo, em suas ruas e casas, que a hora do povo chegou. Não haverá volta atrás”, sublinhou o presidente colombiano, com a multidão respodendo em coro: “Petro! Petro! Petro!”. Após seu discurso, o líder e parte de seu gabinete foram ao Senado, onde ele apresentou formalmente o referendo de Consulta Popular.
AUMENTO REAL DO SALÁRIO MÍNIMO
O presidente da Central Unitária de Trabalhadores (CUT), Fabio Arias, destacou sobretudo que Petro valorizou o salário mínimo. “Passou de um milhão de pesos (R$ 1.333,00) recebido pela Petro para 1.423.500 pesos (R$ 1.1.850,00), um aumento de 43%, contra uma inflação de 28%. Portanto, há uma diferença significativa que se traduz em uma recuperação do poder de compra de 15%”, frisou. Da mesma forma, houve o aumento dos servidores públicos, que obteve o maior reajuste dos últimos dois anos, explicou.
A reforma trabalhista e a lei da aposentadoria propostas, assinalou Arias, “são muito significativas em termos de recuperação de direitos, projetos que beneficiarão a milhões de trabalhadores que por isso saíram às ruas expressar seu respaldo ao governo e iniciar sua campanha pelo Sim na consulta popular”.
A filósofa e artista Luisa Naranjo sintetizou o espírito da mobilização: “Dizemos à oposição e à mídia que nós, os trabalhadores, estamos aqui e que venceremos o referendo”. A presença de tantos indígenas e estudantes nas praças e ruas fortalecia esta convicção.