
“A vinda à Rússia reafirma nosso compromisso com o multilateralismo. Iremos assinar acordos de cooperação em Ciência e Tecnologia e buscar a ampliação das nossas parcerias comerciais”, disse
O presidente Lula já está em Moscou para as comemorações dos 80 anos da vitória sobre a máquina de guerra nazifascista. A presença de Lula ao evento, assim como a do presidente da China, Xi Jinping, reforçam a autodeterminação dos povos, a defesa do multilateralismo e de uma maior cooperação entre as nações. “A vinda à Rússia reafirma nosso compromisso com o multilateralismo. Iremos assinar acordos de cooperação em Ciência e Tecnologia e buscar a ampliação das nossas parcerias comerciais”, disse o presidente brasileiro.
O Brasil participou da grande frente mundial contra as atrocidades do nazismo, inclusive sendo a única nação sul-americana a enviar tropas para lutar na Europa. Os brasileiros se uniram às forças antifascistas na Europa e derrotaram os nazistas na Itália, tendo perdido cerca de 900 soldados nas batalhas contra as forças de Hitler. “Já estou na Rússia para participar das comemorações dos 80 anos do Dia da Vitória, que marcou o fim da Segunda Guerra. Esse dia, que define a vitória contra o nazismo”, destacou o presidente Lula. O grande desfile será na sexta-feira, dia 9 de maio.
Já estou na Rússia para participar das comemorações dos 80 anos do Dia da Vitória, que marcou o fim da Segunda Guerra. Esse dia, que define a vitória contra o nazismo. A vinda à Rússia reafirma nosso compromisso com o multilateralismo. Iremos assinar acordos de cooperação em… pic.twitter.com/fQaY6v6T8e
— Lula (@LulaOficial) May 7, 2025
Parte da mídia brasileira mantém o cacoete colonizado e ataca, como fez jornal “O Globo” em editorial, o presidente Lula por participar das comemorações da vitória sobre o nazismo. Eles preferiam que o Brasil se somasse às narrativas pró-guerra e pró-nazistas da Otan. A vitória dos Aliados sobre o nazismo teve a contribuição decisiva da URSS, responsável por derrotar mais de 75% das forças nazistas, mas teve também a participação heroica dos pracinhas brasileiros no palco da guerra. Nada mais natural do que o Brasil celebrar também essa vitória gigantesca da humanidade contra a barbárie.
Em entrevista à revista norte-americana The New Yorker, Lula falou sobre o desmoronamento do arranjo mundial pós-guerra. “A democracia que aprendemos a viver após a Segunda Guerra Mundial, o funcionamento do multilateralismo como papel importante nas relações entre Estados, o respeito à diversidade, à soberania de cada país está desaparecendo”, afirmou. “O que vem depois, não sabemos”, acrescentou o presidente.
Sobre a guerra comercial disparada por Donald Trum contra todo o mundo, Lula foi duro: “Não aceitamos isso. Não aceitamos a ideia de uma segunda Guerra Fria. Aceitamos a ideia de que quanto mais semelhantes os países forem — tecnológica e militarmente — mais eles precisarão dialogar entre si, porque não tenho certeza se o planeta aguentará uma Terceira Guerra Mundial”.
Lula criticou a ofensiva do neoliberalismo, iniciada na década de 80, que sufocou as economias dos países e tirou direitos dos trabalhadores em todo o mundo, colocando em risco a própria democracia. “Desde 1980, os trabalhadores dos países que construíram o Estado de bem-estar social só perderam, enquanto a concentração de renda aumentou. Então que resposta podemos dar à sociedade brasileira? E à sociedade alemã e americana?”, ponderou o presidente brasileiro.
O líder brasileiro criticou a soberba dos países ricos. Ele lembrou que o Brasil recusou um pedido do chanceler alemão Olaf Scholz para vender mísseis brasileiros para Kiev. “Não quero nenhum ucraniano ou russo morto com uma arma brasileira.” Ele também criticou o sistema americano onde o discurso de Donald Trump “é aplaudido por parlamentares republicanos mesmo quando profere absurdos”. “Era quase o mesmo tipo de discurso que anarquistas faziam no início do século, pedindo uma sociedade sem instituições, onde impera o capital”, denunciou.
Para Lula, mesmo com o histórico de guerras, “os EUA sempre se apresentaram como defensores da paz e da democracia”. Contudo, segundo ele, “o retorno de Trump à presidência intensificou práticas imperialistas na América Latina e promoveu a desestabilização da ordem internacional”. “Agora tem o Trump, que às vezes se comporta como um anarquista”, disse, interrompendo-se antes de criticar duramente o ex-presidente norte-americano.
Lula falou também sobre líderes da América Latina que têm se alinhado de maneira subserviente à política externa de Trump. Ele citou, por exemplo, o presidente da Argentina, Javier Milei, que presenteou Elon Musk com uma motosserra gravada e chamou Trump de “um dos dois políticos mais relevantes do planeta”. Também criticou a atuação de Nayib Bukele, presidente de El Salvador, que aceitou receber deportados dos EUA em presídios locais.
“Ano passado, o mundo gastou US$ 2,4 trilhões em armas, enquanto 730 milhões de pessoas dormem sem saber se terão café da manhã. Isso deveria ser a principal preocupação da humanidade”, apontou o presidente. “Ainda bem que temos a China, que pode competir no mundo da inteligência artificial e nos oferece uma alternativa nesse debate”, acrescentou Lula, criticando a guerra de tarifas de Trump contra a China.
Para Lula, a atual guerra comercial é reflexo do medo das potências tradicionais frente ao sucesso chinês em adotar os princípios do livre comércio. Ele também abordou a tarifa de 25% contra o aço brasileiro. “Haverá reciprocidade. Mas, antes disso, queremos mostrar aos EUA o que significam duzentos anos de relações diplomáticas e comerciais com o Brasil”, disse. E foi incisivo: “O que os EUA importam do Brasil, transformam e exportam de volta. É uma via de mão dupla. Queremos negociar diplomaticamente. Se não for possível, tomaremos medidas.”