
Presidente brasileiro deu a declaração em Moscou, onde se celebra o Dia da Vitória sobre os nazistas na 2ª Guerra Mundial, e afirmou que não aceitará a tentativa dos EUA de isolar Pequim na arena econômica internacional
“Graças a Deus temos a China que, do ponto de vista tecnológico, é muito avançada e pode competir no mundo tecnológico da IA [Inteligência Artificial], dando-nos uma alternativa para este debate”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista concedida à revista americana The New Yorker, hoje, em Moscou, onde se encontra para as comemorações do Dia da Vitória e para participar do desfile militar pelos 80 anos da derrota da Alemanha nazista pelos soviéticos na 2ª Guerra Mundial.
As declarações foram dadas ao comentar o papel da China na economia e na inovação, ressaltando que não aceitará a tentativa, velada, por parte do governo Trump, dos EUA, de isolar o país asiático na arena internacional
O presidente brasileiro fez questão de pontuar a importância da China hoje no mundo e o incômodo de alguns países ocidentais com o avanço da economia chinesa e sua crescente participação do país no comércio mundial.

Ele mencionou Ronald Reagan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra) para lembrar que, no passado, foram eles próprios, à frente dos países desenvolvidos, que incentivaram o chamado “livre mercado” e a “abertura econômica”, fato que aconteceu, especialmente, a partir do Consenso de Washington, formulado ainda no final dos anos 80 do século passado, como instrumento de dominação dos países em desenvolvimento.
Lula comparou o crescimento industrial da China ao processo de aprendizagem rápida e eficiente. Disse que, em pouco tempo, os chineses passaram a dominar mercados antes liderados pelos Estados Unidos e pela Europa. “A China começou a produzir tudo o que era produzido nos Estados Unidos e na Europa. Não se podia comprar uma única calça, sapato ou camisa que não tivesse a inscrição ‘Made in China’. Eles copiaram tudo com muita habilidade e aprenderam a produzir tão bem quanto, ou até melhor. Agora que os chineses se tornaram competitivos, tornaram-se inimigos do mundo”, afirmou, em tom crítico.
Ele também rejeitou a ideia de um novo conflito ideológico entre potências. “Não aceitamos isso. Não aceitamos a ideia de uma segunda Guerra Fria. Aceitamos a ideia de que quanto mais semelhantes os países forem — tecnológica e militarmente — mais eles precisarão dialogar entre si, porque não tenho certeza se o planeta aguentará uma Terceira Guerra Mundial”, disse.
Lula também voltou a defender o multilateralismo (cooperação entre países) como um caminho global a ser seguido. A declaração é uma referência ao tarifaço iniciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o 2º mandato à frente dos EUA. “O multilateralismo era uma forma de civilidade encontrada entre os Estados para coexistir pacificamente, com regras que todos devem seguir”, declarou o petista.
O presidente Lula seguirá para a China no sábado (10), onde participará do encontro da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) com o país asiático. O ponto alto da viagem será a reunião bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping.