
Reunião da CELAC discutirá as perspectivas de ampliação da parceria comercial entre a América Latina e os chineses
Depois de uma extensa agenda na Rússia, onde participou das comemorações do Dia da Vitória e das homenagens aos que lutaram e derrotaram o nazismo na 2ª Grande Guerra e se reuniu com o presidente Vladimir Putin, com quem intensificou as relações comerciais e diplomáticas entre o Brasil e Moscou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou na China com a mesma delegação numerosa, em busca, também, do aprofundamento da parceria com os chineses em todos os terrenos.
A visita de Lula à Rússia e à China ocorre no mesmo momento em que os Estados Unidos, sob Donald Trump, promovem uma verdadeira guerra comercial em todo mundo, afetando, inclusive, tradicionais aliados, através de uma política tarifária tresloucada e anárquica, cujos efeitos perversos já estão sendo sentidos na própria economia norte-americana.
Lula sinalizou de forma muito concreta o que pretende fazer na China de Xi Jingping, ao publicar em sua rede social:
“Vamos fechar novas parcerias e assinar acordos de cooperação em múltiplas áreas. É mais um grande passo na proximidade estratégica com a China, maior parceiro comercial do Brasil desde 2009”.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, de 48 acordos em discussão, 16 teriam sido fechados. O Itamaraty, que não faz parte da força-tarefa da Casa Civil do governo brasileiro sobre o fechamento dos termos de acordo, já avisou que parte deles pode ficar para a cúpula do grupo Brics em julho, no Brasil, quando Lula e o líder chinês, Xi Jinping, devem se reencontrar.
Entre outros ministros, está na delegação o chefe da Casa Civil, Rui Costa, que já havia passado a semana anterior no país, viajou ao Brasil e agora volta. Governos do Brasil e da China e empresários buscarão na missão intensificar as ações econômicas e comerciais, enquanto, paralelamente, a visita de Estado se volta para a articulação estratégica entre os dois países.
“A visita de Lula oferece muito espaço para a imaginação, porque há muitos desafios e incertezas globais, especialmente o unilateralismo do governo de Donald Trump, que teve um enorme impacto na ordem global”, avalia Zhou Zhiwei, do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim.
Ele sublinha a interação ativa dos dois países nos últimos dois anos, desde a visita anterior de Lula, logo após tomar posse. Entre os resultados que espera, no âmbito estratégico, está um novo consenso para “salvaguardar a paz mundial”, o ambiente comercial internacional e o multilateralismo.
FÓRUM MINISTERIAL CHINA-CELAC
A visita do presidente Lula à China tem, entre outras prioridades, sua participação no IV Fórum Ministerial China-Celac, programado para terça-feira (13), juntamente com seus homólogos do Chile e da Colômbia.
O evento ensejará o fortalecimento das relações da China com países da América Latina, região em que os EUA, historicamente, depositaram fortes interesses geopolíticos, hoje ameaçados pela agressividade da política comercial de Trump e pela decadência daquele império que se aprofunda há décadas.
Não por outro motivo, Lula tem destacado a importância estratégica da relação com a China e o fato de Pequim, hoje, ser o principal parceiro comercial do Brasil, com 160 bilhões de dólares em comércio bilateral em 2023 (R$ 774 bilhões na cotação da época).
Lula estará em Pequim com seus colegas colombiano e chileno, Gustavo Petro e Gabriel Boric, que também participarão do fórum, que visa promover o desenvolvimento da Associação de Cooperação Integral China-América Latina e Caribe.
O presidente chinês, Xi Jinping, participará e fará um discurso na cerimônia de abertura da reunião, anunciou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China neste domingo, segundo a agência de notícias oficial Xinhua.
“A China acredita que os países da América Latina e Caribe são atores importantes nos processos de multipolaridade global e globalização econômica”, disse o vice-ministro das Relações Exteriores, Miao Deyu, em uma coletiva de imprensa neste domingo.
“Os povos da América Latina e do Caribe buscam construir sua própria pátria, não servir como quintal de outro país”, acrescentou, em uma referência velada aos Estados Unidos.
Miao também elogiou a Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR), um grande plano de infraestrutura lançado em 2013 por Xi que visa conectar continentes como uma nova Rota da Seda.
“Mais de 20 países da América Latina e do Caribe aderiram à ICR e 10 assinaram planos de cooperação com a China”, disse ele, acrescentando que Pequim vê a região como um lugar “com imenso potencial de desenvolvimento e perspectivas promissoras”.