
“Não combinamos de apagar?”. “Zera. Apaga todo o teu celular agora!”, coronel do Exército, Bernardo Romão Corrêa Netto, mostrando a trama secreta golpista e o medo das investigações
Os arquivos extraídos do celular do tenente-coronel Mauro Cid, de posse da Polícia Federal (PF) desde 3 de maio de 2023, mostram as conversas dele com Jair Bolsonaro (PL) e pedidos frequentes para que as mensagens fossem apagadas.
De 2 de outubro de 2022, data das eleições presidenciais, até maio de 2023, quando Cid foi preso, foram identificadas 217 mensagens recebidas por Cid que foram depois deletadas. Outras 127 mensagens enviadas por ele também foram apagadas.
A reportagem, do site de notícias Diário do Centro do Mundo, traz imagens das trocas de mensagens.
Uma das mensagens enviadas a Mauro Cid em 3 de janeiro de 2023 pelo coronel do Exército, Bernardo Romão Corrêa Netto, um dos denunciados por tentativa de golpe, mostra o medo dos bolsonaristas diante das investigações.
“Não combinamos de apagar?”. “Zera. Apaga todo o teu celular agora! Todas as mensagens que tu tem que não sejam importantes, tu apaga, beleza? Vou apagar as minhas também. Porra, o Alexandre de Moraes agora soltou uma ordem… Ele vai começar uma devassa no celular de todo mundo”, diz a mensagem.
Em 13 ocasiões, Cid e seus interlocutores optaram por continuar as conversas através do Signal, aplicativo de mensagens criptografadas considerado mais seguro que o WhatsApp. A PF não conseguiu acessar o conteúdo dessas conversas. O Signal ficou conhecido no caso envolvendo assessores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que acidentalmente incluíram um jornalista em um grupo onde eram compartilhadas informações confidenciais.
A conta não inclui conversas com familiares, e é possível que existam outras trocas de mensagens deletadas que não permaneceram registradas no celular. Os interlocutores mais frequentes nesse grupo foram Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação), com 31 mensagens apagadas, e o próprio Bolsonaro, com 19 mensagens deletadas.
O coronel Corrêa Netto, acusado de pressionar o Alto Comando do Exército a seguir com o golpe, falou sobre a importância de deletar as conversas em 29/11/2022, horas depois de enviar a Cid um documento com o texto de uma “carta” pressionando o comandante do Exército.
Cid também apagou mensagens, como nas conversas com o tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (“Cavalo”, nas mensagens), nas quais lamentavam o fato de o decreto do Estado de Defesa não ter prosperado.
As mensagens foram enviadas logo depois de Cavaliere compartilhar uma troca de WhatsApp, na qual dizia que o almirante Garnier, da Marinha, “tinha tanques prontos”. Trinta minutos depois, Cid comentaria, sem apagar, que “em 64 não precisou de ninguém assinar nada”.