
São as primeiras negociações diretas desde que em 2022, quando Kiev rasgou acordo esboçado ali em Istambul. Nesta sexta-feira, os dois lados acertaram a maior troca de prisioneiros no formato 1.000 por 1.000
Com 24 horas de atraso, realizaram-se em Istambul, na Turquia, nesta sexta-feira (16), as primeiras negociações diretas e sem pré-condições entre a Rússia e a Ucrânia desde que o regime de Kiev em 2022 rasgou o acordo de restauração da neutralidade da Ucrânia e não-ingresso na Otan, acordado pela delegação encabeçada pelo diplomata Vladimir Medinsky e que chegou a ser rubricado pelos dois lados, após ordem do governo Biden e seu garoto de recados, Boris Johnson.
Desde 10 horas da manhã de quinta-feira a delegação russa já estava à espera no palácio presidencial Dolmabahce, continuou esperando às 10 horas da manhã desta sexta-feira e a reunião finalmente começou às 13h30, durando cerca de duas horas.
Só na noite de quinta-feira foi que a Ucrânia anunciou sua delegação, encabeçada pelo seu atual ministro da Defesa, Rustem Umerov, que participou nas negociações de 2022 como parlamentar.
A delegação russa também incluiu o vice-ministro das Relações Exteriores Mikhail Galuzin, o chefe da Diretoria Principal de Inteligência do Estado-Maior General das Forças Armadas Russas, Igor Kostyukov, e o vice-ministro da Defesa da Federação Russa, Alexander Fomin.
No lado ucraniano, também o chefe do Gabinete da presidência, Andriy Yermak, o ministro das Relações Exteriores, Andriy Sybiha e mais uma dezena de especialistas.
Ao apresentar sua proposta de retomada das negociações em Istambul, o presidente Putin enfatizou que não foi o lado russo que se negou a negociar e nem que se retirou das negociações, e sim, Kiev.
As negociações – insistiu – teriam de ser diretas e sem pré-condições, visando superar as “causas profundas” do conflito. Isto é, a expansão da Otan para leste, contrariamente a tudo que foi negociado com a União Soviética ao tempo da reunificação alemã, bem como a guerra do regime instaurado pelo golpe de 2014, sob instigação, logística e apoio de Washington, contra as populações de fala russa na Ucrânia, após o golpe de 2014 e ascensão dos neonazistas que exibem como seu patrono, o colaboracionista de Hitler, Stepan Bandera.
A proposta de Putin fez capotar o “ultimato” de um “cessar-fogo de 30 dias”, anunciado em Kiev por três notórios poodles de Washington, na tentativa de rearmar o regime neonazi que vem sendo batido em todas as frentes e ainda evocando enviar tropas da Otan de “paz”, o que é agravado pela confissão dos garantidores europeus dos Acordos de Minsk de que o objetivo não havia sido a paz, mas ganhar tempo para rearmar os “ucranianos”.
“Ninguém precisa de uma paz assim”, disse Putin, sobre a ameaça de repetição dos já citados engodos de 2014 e 2015, mas apontando ser possível chegar a um cessar-fogo voltado para resolver as “causas profundas”.
Coerentemente, Putin delegou basicamente à mesma equipe que negociou os acordos de 2022 retomar as negociações, inclusive a data que propôs, 15 de maio, é a data do anúncio, pelo regime de Kiev, de que estava rasgando os acordos.
O ex-comediante Zelensky tentou fazer a renegociação melar, alegando que se tratava de uma “equipe de baixo escalão” e exigindo a presença de Putin em Istambul, possivelmente almejando algum circo de horrores no estilo presenciado não faz tanto tempo na Casa Branca.
Na verdade, Putin ainda reforçou o time, enviando também o general que negociou a rendição do Batalhão Azov em Mariupol, e outro militar, que negociou na Síria acordos de desconflitização.
Como destacou Medinsky, a delegação russa “tem todas as competências e poderes necessários para conduzir negociações. A tarefa é estabelecer, mais cedo ou mais tarde, uma paz de longo prazo, eliminando as causas subjacentes do conflito”.
A ida a Istambul foi cuidadosamente preparada no Kremlin em uma reunião com os principais líderes e generais russos, mais Putin e Lavrov.
Já Zelensky foi a Ancara posar para uma foto com o presidente turco Erdogan, insistiu na presença de “Putin”, reclamou do “baixo escalão” da delegação russa, não conseguiu entrar de penetra numa reunião de ministros da Otan em Antalia e acabou indo tirar foto na cúpula da UE na Albânia.
Seu esperneio, que mereceu tanta atenção de parte de certa mídia ocidental, foi classificado pelo chefe da diplomacia russa, Sergey Lavrov, como “patético”.
Na abertura em Istambul, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, disse que “temos dois caminhos diante de nós. Um caminho nos levará à paz, o segundo caminho nos levará a uma destruição ainda maior. As próprias partes decidirão qual caminho escolher. Ancara acredita sinceramente que as negociações entre a Rússia e a Ucrânia em Istambul podem levar à paz se as partes adotarem uma abordagem construtiva”.
Segundo a declaração de Medinsky, a Rússia está satisfeita com o desenrolar das negociações, aprovou-se uma troca de prisioneiros no formato 1.000 por 1.000, a Rússia tomou nota da proposta da Ucrânia de uma reunião em nível de chefes de Estado e as duas partes ficaram de detalhar suas perspectivas quanto a um cessar-fogo. Posteriormente, serão marcadas novas datas.
Enquanto Trump se aventura com a Rússia no que vê como um “Kissinger reverso”, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leye, em meio à guerra tarifária de Trump e à estagnação generalizada na Europa sob o efeito bumerangue das sanções que deveriam esmagar a economia russa, anunciou o 17º pacote de sanções contra Moscou.
O velho – e colonial – continente se encontra em um frenesi para se rearmar, à custa de cortar direitos e programas sociais e se endividar, enquanto diz impropérios para a Rússia, que a salvou do nazismo.
Segundo a mídia, o primeiro-ministro alemão, Friedrich Merz, já hesita em enviar para Kiev seus mísseis de cruzeiro de longo alcance, o Taurus, para cuja operação são necessários instrutores alemães no solo, arriscando o repuxe.
Encerrado o evento em Istambul, Zelensky, o britânico Starmer, o alemão Merz e o francês Macron se apressaram a telefonar para Trump. Este, em uma coletiva de imprensa, já antecipara “que Putin não viria a menos que eu viesse. E ele não veio. E eu o entendo perfeitamente.” Seu secretário de Estado, Marco Rubio, também estava na Turquia, em uma reunião de ministros da Otan em Antalia.