O ex-governador Ciro Gomes, candidato do PDT à Presidência da República no primeiro turno das eleições presidenciais, chegou a Fortaleza na sexta-feira à noite, recebido por uma multidão de apoiadores.
No sábado, Ciro divulgou um vídeo. Abaixo, a íntegra do que falou o ex-governador (o leitor que preferir ver o próprio vídeo, ele está logo depois desta matéria):
“Cheguei ontem, quero agradecer, agradecer, assim, muito sensibilizado, muito comovido, todas as expressões de carinho, de afeição, de apoio, de estímulo.
“Eu estou energizado, eu estou inteiro, apesar da minha muito grave preocupação com o nosso país, com o nosso futuro.
“Não é se queixando nem se lamentando que nós vamos resolver isso.
“Pelo contrário, eu quero que Deus, como disse lá no primeiro dia, abençoe esta grande Nação, para que todo mundo possa caminhar, amanhã, para votar, votar compreendendo a necessidade de votar com a democracia, votar contra a intolerância, votar pelo pluralismo, mas também ninguém está obrigado a votar contra convicções e ideologias.
“Claro que todo mundo preferia que eu, com meu estilo, tomasse um lado e participasse da campanha, mas eu não quero fazer isso por uma razão muito prática, que eu não quero dizer agora, pois se não posso ajudar, atrapalhar é o que eu não quero.
“Mas o que precisa o Brasil, a partir de segunda-feira, é que a gente construa um grande movimento que, de um lado, proteja a democracia brasileira, e, de outro lado, proteja nossa sociedade mais pobre dos avanços contra os direitos, que se protejam os interesses nacionais contra a entrega e a cobiça estrangeira.
“Tudo isso está armado nesse debate, coisa que eu avisei bastante, cansei de dizer. Quem tiver um pouco de equilíbrio, de serenidade, vai recuperar; hoje a Internet permite que você veja isso com equilíbrio.
“Por agora eu só queria dizer que estou muito agradecido a todos e estou cumprindo a obrigação que minha consciência me indica.
“Minha consciência me aponta a necessidade de preservar um caminho em que a população brasileira, amanhã, possa ter uma referência para enfrentar os dias terríveis que, imagino, estão se aproximando.
“Nada de medo, não será com medo que vamos enfrentar o que quer que venha por aí. Vocês sabem que eu estarei na linha de frente com todos vocês.
“Muito obrigado mais uma vez, um forte abraço a todos.”
O candidato Fernando Haddad, nos últimos dias, pressionara insistentemente por uma definição de Ciro – como se esta não existisse.
Antes de viajar, Ciro deixara claro sua oposição à candidatura de Bolsonaro – nos termos do apoio crítico a Haddad, definido pelo seu partido.
A insistência de Haddad teve a ressonância do velho cacoete petista que considerava – e ainda considera – que o único apoio possível é a submissão. Como se Ciro tivesse de apoiá-lo sem nenhuma crítica ou elemento crítico.
No entanto, Ciro – assim como o PDT – têm uma posição: a de apoiar Haddad criticamente. Declarações como “se existe alguma aresta com Ciro é preciso deixá-la de lado”, por parte de Haddad, apenas tentam anular alguém que o está apoiando, ainda que criticamente, pois é claro que as arestas reais partiram do PT, mas não são estas que seu candidato pretende “deixar de lado”. Pelo contrário, pretendem que Ciro se conforme com essas “arestas”. Assim, elas deixarão de existir…
Porém, Ciro, no sábado, mostrou que esse tipo de pressão não o fez perder a serenidade. No vídeo, reafirmou sua posição contra Bolsonaro – e o que ele representa.
Alguns petistas manifestaram seu descontentamento com o pronunciamento de Ciro – e houve, mesmo, alguns que pareciam acometidos de algo parecido com a fúria, como se Ciro pudesse, e tivesse obrigação, de ganhar as eleições para eles, mas não quisesse.
Trata-se de um claro sinal de que não entenderam a situação.
Entretanto, Ciro tem razão, ao deixar as avaliações para o dia seguinte às eleições.
Além disso (e essa é a questão essencial agora), que maior apoio a Haddad é possível, hoje, do que ser contra Bolsonaro?
C.L.
#aovivo
Posted by Ciro Gomes on Saturday, October 27, 2018
Quando fiquei sabendo que ele faria um vídeo, isso era justamente o que eu queria ouvir: essa “neutralidade”. Principalmente depois da rasteira que o PT deu nele. O Ciro sempre falou que o PT não apoiava ninguém, que era da natureza dele, e citava a parábola do escorpião. Então, sabíamos que não viria apoio, mas não esperávamos rasteira. Ele também sempre falava que tinha apoiado o PT por 16 anos, sem faltar um dia – no mensalão, estava lá, e ainda falou: “pergunta para o Lula quantos petistas saíram correndo e quem ficou para ajudar”; no impeachment da Dilma, saiu para frente de batalha defendendo ela, votou no Lula e na Dilma – e nada disso valeu de alguma coisa. O Lula, principalmente, e o PT, ainda foram capazes de dar uma rasteira nele. Muitos de nós, que estávamos com o Ciro, poderíamos imaginar coisa do tipo vindo da oposição, tipo Alckmin ou Bolsonaro, mas não do PT, e, de novo, não do Lula. Mas foi o que aconteceu. Vivendo e aprendendo! Eu ouvi um comentarista falando sobre um apoio do Ciro como uma estratégia para as eleições de 2022, se ele se candidatar; apoiar o Haddad e dizer: “eu apoiei o Haddad lá atrás, agora vocês apoiam eu aqui”. Isso nunca aconteceria. O PT não vai apoiar o Ciro, não importa o que ele fizesse agora.