
“O cidadão que quiser reformar sua casa, fazer uma garagem, fazer um quarto, um banheiro, esse cidadão tem o direito de ir ao banco e pegar um crédito com o juro mais barato possível”, explicou o presidente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta terça-feira (20), em discurso de abertura da 26ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, que o governo prepara um novo programa de crédito voltado à reforma de moradias.
A iniciativa buscará atender principalmente a população de baixa renda, com empréstimos destinados à construção de cômodos, banheiros e melhorias estruturais — tudo isso, segundo Lula, com “o juro mais barato possível”.
“O cidadão que quiser reformar sua casa, fazer uma garagem, fazer um quarto, um banheiro, esse cidadão tem o direito de ir ao banco e pegar um crédito com o juro mais barato possível”, explicou. Ao relembrar o impacto do programa Minha Casa, Minha Vida, o presidente destacou que sua gestão entregou 3,7 milhões de unidades habitacionais, mas considerou insuficiente diante da demanda crescente e da precariedade ainda existente em milhões de lares. “O Brasil ainda tem 4 milhões de moradias sem banheiro”, apontou.
“É uma vergonha este país, que é a 8ª economia do mundo, ainda ter 4 milhões de pessoas que não têm banheiro, além da água”, denunciou o presidente. O programa incluirá reformas como construção de quartos e banheiros – O novo modelo de financiamento, segundo Lula, contemplará pequenos projetos familiares.
A urgência do novo programa, segundo Lula, está vinculada também às condições indignas de moradia enfrentadas por milhões de brasileiros. “No Brasil tem 4 milhões de casas que não têm banheiro. As pessoas ainda usam a tal da moita”, criticou, dirigindo-se diretamente aos prefeitos presentes no evento.
Lula observou que ainda se mantém um déficit habitacional grande no país e que boa parte das moradias no Brasil não são erguidas pelo poder público, mas sim por trabalhadores e trabalhadoras que constroem suas casas com esforço próprio. “Quem constrói a maioria das casas é o povo, no sacrifício de trabalhar de final de semana, de arrumar encanador amigo, pedreiro amigo, cavador de poço amigo”, ressaltou. “Será crédito direto para quem constrói com sacrifício próprio”, disse o presidente.
Ele citou o programa PAC Seleções, que prevê investimentos em habitação, como exemplo de que seu governo não discrimina ninguém. “Duvido que tenha um prefeito de qualquer partido que um dia possa dizer que ele não foi atendido no governo por causa da sua filiação partidária. Isso não existe no meu governo”, garantiu.
“Vocês vão ter direito às casas independentemente do partido ao qual vocês pertencem, independente se vocês gostam ou não do presidente. Isso não está em jogo. O que está em jogo é a necessidade dos moradores de cada cidade, que precisam de casa”, declarou.
Lula, que sempre participa do evento anual dos prefeitos desde que assumiu, em 2023, ironizou o presidente da entidade, Paulo Ziulkoski, destacando que ficou feliz com a volta da combatividade do dirigente que voltou a ser o velho Ziulkoski, com um discurso mais inflamado, como tem que ser, e não como ele agia durante o governo Bolsonaro. O presidente subiu ao palco junto ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e aos presidentes Davi Alcolumbre (União-AP), do Senado, e Hugo Motta (Republicanos-PB), da Câmara.
A marcha é o principal evento com prefeitos na capital federal. Neste ano, segundo a CNM (Confederação Nacional dos Municípios), foram mais de 14 mil inscritos – quase o triplo das 5.570 cidades do país. Entre os inscritos estão prefeitos, vices, vereadores.
Alguns prefeitos bolsonaristas ficaram incomodados com os anúncios que o presidente fez de benefícios para a população brasileira e ensaiaram vaias ao presidente, mas as vaias foram suplantadas pelos aplausos dos prefeitos presentes.
Ao comentar a dinâmica do evento, Lula explicou que não apresentaria diretamente as ações do governo federal, delegando essa missão aos 25 ministros presentes. Para o presidente, cabe a cada integrante do primeiro escalão explicar em detalhes o que tem feito – e o que ainda pretende fazer – em benefício das cidades brasileiras. “Acho que é correto e louvável que o ministro quando vier aqui diga com muita exclusividade o que cada um está fazendo ou o que vai fazer até o final do nosso mandato para atender as demandas que foram feitas pelas prefeituras”, afirmou.
Lula também elogiou a nova ministra das Relações Institucionais, deputada Gleisi Hoffmann, destacando sua capacidade de diálogo. Segundo ele, a ministra já demonstrou “discernimento” ao lidar com as pautas dos prefeitos, como reconhecido publicamente por Paulo Ziulkoski, presidente da CNM.
Lula concluiu sua fala com um apelo à responsabilidade coletiva. “Ou damos conta disso, ou quem sabe a gente passa para a história, prefeito, governador e presidente, quando perguntarem o que a gente realizou, a gente vai dizer: ‘fiz muita coisa, mas não consegui resolver o problema de banheiro de uma parte da população brasileira”.