
Ele também reafirmou que o ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, advertiu, polidamente, que poderia pôr Bolsonaro na cadeia caso ele fosse adiante no plano golpista
O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, confirmou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira (21), o que já havia dito para a Polícia Federal, que Jair Bolsonaro tentou convencer os militares a apoiar seu plano golpista e que o ex-comandante do Exército ameaçou, sim, mas de forma polida, dar voz de prisão caso o ex-presidente Jair Bolsonaro insistisse na trama.
O relato do brigadeiro é uma das peças centrais da investigação que deu origem à denúncia sobre a “minuta do golpe”, apresentada aos chefes das Forças Armadas em duas ocasiões: em 7 de dezembro de 2022, por Bolsonaro, e em 14 de dezembro, pelo então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. A fala exata relatada por Baptista sobre a ameaça de prisão foi: “o então comandante do Exército, General Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o Presidente da República”.
O general Freire Gomes tinha avaliado em seu depoimento esta semana ao STF que o que ele fez não seria uma voz de prisão, mas uma ameaça, caso Bolsonaro insistisse em tentar envolver as FFAA no golpe. A “ameaça” de prisão teria acontecido, de acordo com Baptista Jr, durante uma reunião realizada no Palácio da Alvorada com objetivo de discutir mecanismos, como GLO [Garantia da Lei e da Ordem], Estado de defesa ou Estado de Sítio.
Baptista Júnior afirmou que o general Freire Gomes fez a advertência de forma calma, mas firme. “Confirmo, sim, senhor. Acompanhei anteontem a repercussão [do depoimento de Freire Gomes], estava chegando de viagem. Freire Gomes é uma pessoa polida e educada, não falou com agressividade, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou. Com muita tranquilidade, calma, mas colocou exatamente isso: ‘se fizer isso, vou ter que te prender’”, relatou o ex-comandante.
“Ele não deu voz de prisão para o presidente, eu já disse que mantenho a palavra que ele disse que por hipótese se ele tentasse uma ruptura institucional ele prenderia o presidente”, acrescentou o brigadeiro, esclarecendo melhor a sua posição. O ex-comandante informou ainda que em 14 de dezembro foi realizada a outra reunião em que o general Paulo Sergio Nogueira, então ministro da Defesa, apresentou a minuta do golpe.
O brigadeiro, no entanto, disse ter se retirado do local assim que soube da procedência do documento. “Ele [Paulo Sergio Nogueira] falou que trouxe um documento para vocês analisarem. Eu perguntei esse documento prevê a não [incompreensível] do presidente eleito? Se sim, eu não admito sequer receber esse documento, levantei e fui embora”, afirmou.
O brigadeiro declarou que o golpe não se efetivou porque “não houve participação unânime das Forças Armadas”. Ele também confirmou que foi aventada a prisão do então presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, um dos presentes, em uma das reuniões, afirmou que seria necessário prender todos os ministros do STF ou Moraes seria solto imediatamente pelo tribunal.
“Isso era no ‘brainstorm'[debate de ideias] das reuniões, isso aconteceu. Eu lembro que houve essa cogitação de prender o ministro Alexandre de Moraes, que era presidente do TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. ‘Amanhã o STF vai dar o habeas corpus para soltar ele e nós vamos fazer o quê? Vamos prender os outros?’, relatou o ex-comandante.
Baptista Júnior deveria ter sido ouvido pelo STF na mesma data que Freire Gomes, mas pediu o adiamento da oitiva por estar fora do país. O ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, remarcou o depoimento para esta quarta-feira.