
Secretário-geral da ONU diz que a ajuda que Israel permitiu depois de 11 semanas de bloqueio total em Gaza equivale a uma “colher de chá”
O ministro de Saúde palestino, Majed Abu Ramadan, afirmou que “29 crianças” tiveram “mortes relacionadas à fome” em Gaza nos últimos dias e advertiu que milhares mais “estão em risco de vida por falta de alimentos” devido ao bloqueio total que impediu que uma grama sequer de comida entrasse no enclave, sob o intento genocida de Israel.
Segundo a Unicef, a desnutrição é generalizada na Faixa de Gaza. Ramadan também advertiu que a denúncia da ONU sobre 14.000 crianças na iminência de morte por desnutrição pode inclusive estar “subestimada”.
A declaração evidencia a urgência de deter essa modalidade de genocídio, em meio à entrada a conta-gotas de alimentos no enclave palestino, depois de 11 semanas de bloqueio total, que levou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, a dizer que Gaza enfrenta “a hora mais cruel desse conflito cruel”.
“As famílias estão passando fome e lhes é negado o básico, tudo com o mundo assistindo em tempo real”, denunciou.
À BBC, um pai desesperado disse: “As pessoas começaram a desmaiar por falta de comida e fome. Não sabemos o que dar para alimentar nossos filhos. Não há lentilhas, arroz ou farinha disponíveis, nem qualquer outro tipo de alimento. Não há legumes disponíveis. Ninguém tem dinheiro para comprar um tomate. Ninguém consegue comprar um saco de farinha”.
E as filas da fome estão por todo lado, com crianças amontoadas segurando vasilhames vazios nos postos de distribuição, na espera de obter qualquer alimento.
Somente na última segunda-feira, Israel permitiu a entrada de caminhões com alimentos, com o primeiro-ministro Netanyahu explicando que seria para evitar “imagens de fome em massa”, atendendo “aos países amigos”. Em “quantidade mínima”, ele fez questão de frisar, e ainda com os caminhões proibidos de chegar ao norte.
Na entrevista coletiva em Nova Iorque nesta sexta-feira (23), Guterres disse que a assistência autorizada pelo regime de Netanyahu a entrar em Gaza até agora “equivale a uma colher de chá de ajuda quando uma enxurrada de assistência é necessária”.
Mesmo depois do crescimento da indignação e pressão internacionais, “cotas rígidas estão sendo impostas aos produtos que distribuímos, juntamente com procedimentos de atraso desnecessários”, ele acrescentou. Ainda assim, a ONU está trabalhando “sem parar para levar toda a ajuda possível às pessoas necessitadas” e conseguiu distribuir minimamente “trigo, farinha, comida para bebês, suplementos nutricionais e remédios.”
Guterres disse que a ofensiva militar de Israel está se intensificando “com níveis atrozes de morte e destruição” e observou que quatro quintos do território de Gaza são uma “zona proibida” para os palestinos.
Ele acrescentou que Israel tem obrigações claras sob o direito internacional e que “sem ajuda entrando em Gaza, muitos perecerão”. De quase 400 caminhões liberados em quatro dias para entrar em Gaza “apenas os suprimentos de 115 caminhões puderam ser coletados e nada chegou ao norte sitiado”.
Na noite passada, 15 dos caminhões do Programa Mundial de Alimentos transportando suprimentos foram saqueados no sul de Gaza. “A fome, o desespero e a ansiedade sobre se mais ajuda alimentar está chegando estão contribuindo para o aumento da insegurança”, disse a agência da ONU. Depois de semanas, padarias retomam os trabalhos.
80 países assinaram uma declaração pela imediata entrada de comida em Gaza para deter a ameaça de fome em massa, e advertindo de que a Faixa está sob a pior crise humanitária desde outubro de 2023.
O secretário-geral Guterres reiterou que a ONU não participará de nenhum esquema alternativo de ajuda que não cumpra os princípios humanitários, contestando o plano do regime Netanyahu de impor uma entrega de alimentos realizada por empresas norte-americanas e sob escolta militar israelense, voltada para o plano de empurrar a população palestina para o extremo sul da Faixa, para facilitar a limpeza étnica.
Insistindo em se autoincriminar perante a Corte Internacional de Justiça de Haia, Netanyahu não ocultou que a redução da intensidade do bloqueio à comida é parte de seu plano de limpeza étnica em Gaza, uma Nakba 2025, nos moldes “Riviera sobre Cadáveres”.
Em última instância, na insanidade de Netanyahu, sob bomba e fome os palestinos vão ter que ir para a “zona livre no sul de Gaza”, para que Israel possa cumprir seu destino de ter seu “espaço vital” racialmente puro.
“Executaremos o plano de Trump, que é tão correto e revolucionário, e diz algo simples: os moradores de Gaza que quiserem sair — poderão sair”, entusiasmou-se o genocida-em-chefe, dividindo a glória com o atual inquilino da Casa Branca.